Departamento de Achados e Perdidos Publicado em 2013/03/09, atualizado em 2014/09/02 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachUm astrônomo consagrado classificou as estações ferroviárias como astros; planetas anões presos à terra por artérias metálicas costuradas a outras estações, estes corpos celestiais provocam no passageiro a sensação de viajador, manifestação sucessivamente repetida mediante a abertura do […]
XI Publicado em 2013/01/14, atualizado em 2014/07/20 por Kátia Bandeira de Mello-Gerlachele caminha na rua como um homem pai de família, atravessa quando o bonequinho indica, acena ao chaveiro, bate na porta do vizinho para tomar emprestado as ferramentas e as devolve a tempo sem cobranças necessárias. conquanto não […]
X Publicado em 2012/11/22, atualizado em 2014/07/20 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachAo fitá-lo por dentro das minhas córneas reconheço que a velhice o tornou perdoável em diversos aspectos, o cigarro se exclui. Os fios grisalhos restauram a dignidade de um homem por pior que haja sido, e o Francisco […]
V Publicado em 2012/09/11, atualizado em 2014/09/09 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachUm dia sentimos a brisa sobre a qual nos debruçamos. A brisa debruça sobre nós por já nos ignorar. Peço-te um momento para uma revelação. Antes de mais nada, uma navalha me corta com precisão cirúrgica porque não […]
IV Publicado em 2012/08/31, atualizado em 2014/09/09 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachLembro-me de Jesus, espinhos numa cruz, não que o conhecera. Identifico-me com santos, oxalás, iemanjás, totems e budas magros ou obesos e, no caso de Jesus, a impressão que guardo é da fotografia de sangue impressa no escapulário, […]
Cerimônia de Ausentes Publicado em 2012/07/22, atualizado em 2014/07/20 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachProduz-se um salão de paredes nas cores da bandeira, em outros tons e texturas. As cortinas de veludo de um jaune totalmente gauche aquecem com a inquietação dos convivas entre as paredes esverdeadas. Era como se não houvesse […]
I Publicado em 2012/07/10, atualizado em 2014/07/20 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachO poeta disse que há muito de novo sob o sol, o que não muda é sob a pele, as borboletas não interrompem o vôo por estarem enamoradas, o piano suscita a imagem do operador na madeira envernizada, […]
Santas ou vilãs? Publicado em 2012/04/01, atualizado em 2014/09/09 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachSentaram-se as duas senhorinhas, o corpo de uma encostava no vestido de poliéster da outra, sobre o banco em frente à entrada da estação do subterrâneo. No colo, cada qual possuía uma pilha de panfletos impressos Jesus Hoy e […]
Efeitos da Fórmica Publicado em 2012/03/26, atualizado em 2014/09/09 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachO silêncio escorregava como verniz pelas paredes de fórmica. A cabeça se partira ao meio porque ele deixara a porta do armário aberta e ao erguer-se do piso onde limpava um ovo derramado, fragmentara-se, como a gema. Kátia […]
Balaboosta Publicado em 2012/03/18, atualizado em 2014/09/12 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachSob o fumo azul das respirações, os pratos corriam de boca em boca. O corpo é coisa monstruosa, pele com visco, vísceras das quais a balaboosta fazia cozido na panela de pressão. De arrebentar o ventre nos partos dos […]
O Senhor W. Publicado em 2011/05/26, atualizado em 2014/09/18 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachNas manhãs, o senhor Winkel toma o ônibus às dez e um quarto. Espera no ponto porque não lhe custa viver antecipado. Fita o par de sapatos de couro marrom brilhoso sob os raios expansivos. O lustre é […]
Invisíveis Publicado em 2010/11/09, atualizado em 2014/09/16 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachEnquanto crescia, a minha bisavó morrera há um tempo tão pouco que o seu nome circulava em vida pela casa. O temperamento, as manias e os hábitos superaram o derrame de terra no cemitério encrustado em meio à […]
Extravagança Literária Publicado em 2010/04/30, atualizado em 2014/09/24 por Kátia Bandeira de Mello-GerlachLogo que me sento na primeira poltrona disponível, um pouco distante do palco, ouço, sem muito o querer, a conversa de dois velhos poetas: ela mora na Califórnia e ele, num subúrbio de Nova Iorque. Ambos estão acima […]