Cerimônia de Ausentes

Produz-se um salão de paredes nas cores da bandeira, em outros tons e texturas. As cortinas de veludo de um jaune totalmente gauche aquecem com a inquietação dos convivas entre as paredes esverdeadas. Era como se não houvesse por detrás das janelas sinuosas:

1. uma fila de taxis de leve amarelidão e motoristas anêmicos de corpos apoiados nas capotas

2. trabalhadores em angst compulsiva indo e vindo do ponto A ao B para depois fazerem do B ao A

3. uma avenida larga e de sentido concreto, onde o semáforo enlouqueceu como um homem apaixonado

4. crianças nuas ou em trapos, lambuzadas de chuvas de três dias passados, abrem sorrisos apodrecidos pelos doces que vendem para viver e comem para morrer

5. a urbes tropical do pseudo savoir vivre

Neste salão ilustre ilustríssimo frequentado pelos ilustres sob lustres de cristal da Boêmia (supõe-se), cabe vir-se admirar os senhores e senhoras nas cadeiras de espaldares altos há cento e quinze anos. Os moços sonhados de Machado em seu discurso de abertura da casa, estão sentados, dormentes,preservam as mãos acordadas para segurança das cabeças em risco de tombo vertiginoso.

O senhor do lado esquerdo compareceu. O vampiro de Curitiba e o poeta maior, ausentes. Apesar do esforço de invisibilidade, o tradutor de Tolstói para o português encontrava-se.

Em alguma hora, falou-se de uma ilha de letrados em um mar de analfabetos. Os três bustos testemunharam embora não se alterassem.

Tratou-se de São Luís do Maranhão como Atenas brasileira e estética audaciosa, em contextos distintos.

Prêmios e medalha entregues, cerimônia encerrada, o entardecer deixou a noite tombar veloz como se próxima ao Equador, e as buzinas trouxeram a cidade à lembrança.

Kátia Gerlach