2016 | Nobel da Literatura para Bob Dylan | in jornal “Expresso”

Bob Dylan foi distinguido por “ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção”. Academia Sueca compara canções de Dylan às obras de Homero e Safo.

Bob Dylan é o vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2016, anunciou esta quinta-feira a Real Academia Sueca das Ciências, que distinguiu o cantor e compositor norte-americano por ele “ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção”.

Nascido em Duluth, no Minnesota, em 1941, no seio de uma família de proveniência russa e judaica, Bob Dylan, pseudónimo de Robert Allen Zimmerman, começou a escrever poemas com dez anos de idade. Aprendeu a tocar piano e guitarra sozinho. Em 1959, foi estudar para a Univerdade do Minnesota (EUA). No ano seguinte, decidiu deixar a faculdade e partir para Nova Iorque, cada vez mais interessado nas origens do rock and roll e em intérpretes e criadores como Woody Guthrie, sua grande referência musical. “Já tinha passado por muitas coisas e visto muitas outras. Mas agora o destino ia revelar-se. Senti que estava a olhar diretamente para mim e para mais ninguém”, escreve Dylan no 1.º volume das suas Crónicas.

Por falar em livros, recorde-se que, em 1966, publicou “Tarântula” (Quasi Edições), a sua única obra de ficção, que alterna entre poesia e prosa e espelha as mesmas preocupações artísticas refletidas em algumas das suas canções. Anos antes, em 1962, tinha lançado o seu primeiro álbum, “Bob Dylan”, em 1962, seguindo-se outros discos, como “Blonde On Blonde” (1966) e “Blood On The Tracks” (1975), hoje reconhecidos como obras maiores e eternas, dada a sua importância e brilhantismo.

Este ano, Dylan lançou “Fallen Angels”, o seu 37.º álbum gravado em estúdio, que pretende homenagear Frank Sinatra. Esteve em Tóquio, em tournée, a apresentar o disco, seguindo-se outros sete concertos no Japão e uma digressão pelos Estados Unidos, que representou mais uma etapa da sua “Never Ending Tour”. No ano passado, o cantor e compositor lançou “Shadows in the Night” e, em 2012, “Tempest”, disco que levou alguns fãs a acreditar que seria o seu último trabalho, uma vez que tem o título da última peça de Shakespeare.

Em março deste ano, Bob Dylan anunciou a venda dos seus arquivos pessoais – cerca de seis mil itens relacionados com os seus anos de carreira – à Biblioteca de Tulsa, no Oklahoma, cidade onde também se encontra o Museu de Woody Guthrie, ofolk singer que tanto admirava.

Entre os favoritos à atribuição do galardão estavam o queniano Ngugi Wai Thiong’o, Haruki Murakami, Philip Roth, o poeta sírio Ali Ahmad Said Esber (conhecido por Adónis), e até nomes menos óbvios como Don DeLillo, que acaba de ver publicada em Portugal a sua obra mais recente (“Zero K”, edição da Sextante) e o escritor espanhol Javier Marías. A escolha de Dylan acaba por ser surpreendente. Reconhecendo isso, Sara Danius, a secretária permanente da Academia Sueca, em Estocolmo, disse esperar, no entanto, que a Academia não venha a ser criticada pela sua escolha. “Talvez os tempos estejam mesmo a mudar”, disse, comparando as canções de Dylan às obras de Homero e Safo, que, tal como o músico, “escreveram textos poéticos destinados a ser representados”. “É óbvio que ele merece o prémio. É um grande poeta – um grande poeta na tradição da grande literatura de língua inglesa. Durante 54 anos de carreira, ele foi capaz de se reinventar constantemente, criando novas identidades”, acrescentou a secretária.

O atraso no anúncio do vencedor do prémio – que costuma ser revelado na primeira quinta-feira de outubro – gerou muita polémica ao longo das últimas semanas. Houve quem interpretasse este adiamento como sinal de que a escolha do vencedor estava a ser mais difícil este ano ou que não haveria consenso entre os académicos. Um representante da Academia Sueca veio, porém, desmentir estes rumores.

A bielorrusa Svetlana Alexievich, autora de obras como “O Fim do Homem Soviético” (Porto Editora), “Vozes de Chernobyl” (Elsinore) e “A Guerra não Tem Rosto de Mulher” (igualmente editado pela Elsinore), foi a vencedora do Prémio Nobel no ano passado. A Academia justificou a decisão “pela sua escrita polifónica, um monumento ao sofrimento e à coragem no nosso tempo“.

A atribuição de mais um Nobel da Literatura fica marcada pela morte, esta quinta-feira, do escritor e dramaturgo italiano Dario Fo, que foi distinguido pela Academia Sueca em 1997. Tinha 90 anos de idade.

HELENA BENTO in Jornal Expresso

Parada do Livro da Bahia 2016 acontece no Campo Grande | Valdeck Almeida de Jesus

Não haverá venda de livros no evento. Somente doação, contação de história, recital, bate-papo com escritores e poetas, além de autógrafos de livros gratuitos do Selo João Ubaldo Ribeiro

A Parada do Livro 2016 faz homenagem à poesia e acontece no dia 21 de outubro, das 9hs às 16hs, na Praça 2 de Julho, Campo Grande – Salvador-BA, onde o público poderá desfrutar de recitais, performance de teatro, apresentação musical com Fábio Haendel, recital de poesias, bate papo com escritores e poetas, contação de histórias e doação de livros.
Nesta edição, a Fundação Gregório de Matos expõe obras do Selo João Ubaldo Ribeiro, em que os escritores vencedores do concurso vão autografar livros e conversar com o público. Os autores são Ordep Serra (Devoção do Diabo – contos), Mar Zalez (Crônicas Hipermodernas), Paulo Henrique Correia Alcântara (Partiste – dramaturgia), Maria Betânia dos Santos (O circo da alegria, a semente da felicidade – literatura infantil), Renato de Oliveira Prata (Mar interior – poesias), Goli Almerinda de Sales Guerreiro (Alzira está morta: ficção histórica no mundo negro do Atlântico – romance), José Guilherme da Cunha (Canudos: a luta – republicação), Ian Fraser Lima (O sangue é agreste: os livros do sertão – prêmio jovem autor inédito).
Recital de poesias já tem os seguintes autores confirmados:

Acely Araújo, Adão Cunha, Alan Félix, Alex Bruno, Anderson Shon, Audelina Macieira, Bruno Cupertino, Bruno Mariston, Camila Ceuta, Cássio Jônatas, Celeste Farias, Chico do Crato, Conceição Castro, Conceição Ferreira, CR Moska, Cristiano Sousa, Cymar Gaivota, Davi Nunes, David Alves Gomes, Dom Rimático, Ednilson Sacramento, Elder Santos, Elton Magalhães, Emerson Bulcão, Estrela Rocha, Evandro Espírito Santo, Evanílson Alves, Fabrícia de Jesus e o Grupo E², Gil Barreto, Indemar Nascimento, Ivan de Almeida, Jairo Pinto, Jamile Santana, Jorge Baptista Carrano, José Abbade, Kátia Borges, Lane Silva, Lázaro Silva, Leandro Flores, Leilah Ferreira, Luiz Menezes de Miranda, Makito Santos, Marcelo Ricardo, Maria José Matos, Marly Ramos, Matheus Cardoso, Michelle Saimon, Milica San, Nairy Almeida, Osmar Simões Machado Jr (Tolstói), O Velho Viajante, Palmira Heine, Pareta Calderasch, Paulo Balôba, Pedro Lucas, Perinho Santana, Renata Rimet, Renildo Santos, Rilton Junior, Rita Pinheiro, Robson Dy Corrêa, Rodrigo de La Rocha, Rosana Paulo, Rosângela Muniz, Sandro Sussuarana, Thi Zion, Valdeck Almeida de Jesus, Valter Bittencourt, Varenka de Fátima, Vera Passos, Vera Trindade, Victor Soares, Walter Cézar e Yuri Santana.

A Parada do Livro 2016 integra-se às comemorações da Semana Nacional do Livro e da Biblioteca e objetiva assegurar a democratização do acesso ao livro, o fomento e a valorização da leitura e o fortalecimento das cadeias produtiva, criativa e mediadora da leitura como fato relevante para o desenvolvimento da produção intelectual e do acesso aos bens culturais no âmbito do Estado da Bahia. A primeira edição, em 2014, contou com um público de 8 mil pessoas e foram distribuídos 4.638 livros às pessoas presentes ao evento. Em 2015, o público foi de mais de dez mil pessoas e foram doados mais de dez mil livros.
A Parada do Livro – 2016 é uma ação conjunta da qual participam o Plano Municipal do Livro, da Leitura e da Biblioteca de Salvador – PMLLB, a Vice Prefeitura, a Secretaria Municipal de Educação – SMED, a Secretaria de Cultura e Turismo – SECULT, a Secretaria Municipal de Reparação Social – SEMUR, a Fundação Gregório de Mattos – FGM, a Universidade Estadual da Bahia – UNEB, a Unifacs – Universidade do Salvador, a FSBA – Faculdade Social da Bahia, a Escola de Teatro da Ufba, o Instituto Miguel de Cervantes, a Fundação João Fernandes da Cunha, o Colégio Antonio Vieira – CAV, SEG Livros e outras instituições públicas e civis afeitas à causa do livro e da leitura.

Os dezoito stands da Parada 2016 serão organizados por tema: Literatura Infantil, Literatura Infanto-Juvenil, Literatura Baiana, Literatura Nacional, Literatura da Cultura Popular, Literatura Internacional, Literatura Jurídica, Literatura Técnica e Científica, Literatura Médica e Nutrição, Literatura da Área das Ciências Humanas – administração, economia e sociologia, Literatura da  Área  das Ciências Humanas – educação, psicologia, história, geografia, Literatura das Artes, Literatura para Vestibular, Literatura das Filosofias, Literatura Religiosa, Literatura para Concurso.

PROGRAMAÇÃO

21 de outubro de 2016 – Sexta-Feira

09h – Recital poético com poetas convidados e por ordem de chegada, na Tenda dos Escritores, sob coordenação de Valdeck Almeida de Jesus.
09h – Visitantes e público em geral recebem ticket para trocar por livros, até o final do evento
Recepção musical e performance de teatro

10:30hs – Apresentação teatral a confirmar. Stand – Literatura Infantil – SMED;
11h – Cerimônia de Abertura

Mentores da Parada do Livro 2016 e autoridades presentes, bem como representantes das entidades e organizações afeitas ao livro, leitura, literatura, biblioteca, mediação, contação de história etc.

11:10h  Recepção das unidades de ensino. “Abraçamos a Praça. A Praça Abraça o LIVRO”. Visita programada das escolas públicas e particulares aos estandes das diversas áreas do conhecimento com distribuição gratuita de livros e revistas.

15:00 – Fábio Haendel – Recital com música no encerramento

16:00 – Encerramento

Organização/Apoio

Prefeitura Municipal do Salvador

Fundação Gregório de Matos – FGM

Plano Municipal do Livro, a Leitura e da Biblioteca – PMLLB

Universidade Federal da Bahia – UFBA

Universidade do Estado da Bahia – UNEB

Universidade Salvador – UNIFACS

Faculdade Social da Bahia – FSBA

Centro Universitário Jorge Amado

Secretaria Municipal de Educação – SMED

Superintendência Unificadora dos Professores – SUP

Fundação Fernandes da Cunha

União Baiana de Escritores – UBESC

Para se fazer poesia, não basta emoção | Adelto Gonçalves

                                                          I

        Do que se faz um poeta? Dar resposta a essa pergunta não é tarefa das mais fáceis, mas, para enfrentar esse desafio, o poeta Anderson Braga Horta aceitou prestar um depoimento ao poeta, jornalista e professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal da Paraíba, Sérgio de Castro Pinto. É esse depoimento o texto que encerra e dá titulo ao seu mais recente livro, Do que é feito o poeta (Brasília: Thesaurus Editora, 2016), em que o escritor faz um retrospecto de uma carreira com mais de seis décadas, além de reunir textos extensos e breves a respeito de autores ainda atuantes como Afonso Ligório, Alaor Barbosa, Antonio Miranda, Edson Guedes de Morais, Fabio Coutinho, José Jeronymo Rivera, Sânzio de Azevedo e Viriato Gaspar, ao lado de outros que já subiram para o andar de cima, como Fontes de Alencar (19 33-2016), Romeu Jobim (1927-2015), José Geraldo Pires de Mello (1924-2010) e Luiz F. Papi (1922-2009)

            Embora esta não seja uma obra complementar a Sob o signo da poesia (Brasília: Thesaurus Editora, 2003), como se percebe pelos nomes alinhados no parágrafo acima, é marcante neste livro a presença maciça de autores que fizeram sua vida profissional e literária na Capital da República. Do livro fazem parte ainda textos diversos, como resenhas de livros e comentários sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1991. Neste particular, para rematar, há um texto curioso, como se pode constatar já por seu título, “O perigo dos omens vermellos ow o paiz amarelo (notas para uma Novela Ortográfica)”.

            No depoimento “Do que é feito o poeta”, Braga Horta, além de descrever alguns dados pessoais e rememorar detalhes da infância e juventude, faz a sua profissão de fé poética, ao defender que não basta inspiração para que alguém se torne um bom poeta, argumentando que é necessário também assenhorear-se das técnicas do verso, o que, aliás, não se vê na maioria dos versejadores de hoje. E lembra: “(…) o poeta há de comover-se e comover, sim, mas não se há de entregar, ingenuamente, à emoção desassistida da inteligência, porque a emoção, por si só, não é ainda arte, não é ainda poesia”.

            Ainda nesse depoimento, Braga Horta chama a atenção, de forma subliminar, para um paradoxo: embora o Brasil reconhecidamente hoje apresente baixo desempenho no âmbito da Educação, nunca se viram tantos poetas como agora. O triste é que, na maioria, são poetastros que mal conseguem disfarçar o fraco domínio que têm do idioma.

            A leitura desse depoimento vem bem a propósito, pois coincide com a intenção do atual governo de impor mais uma reforma no currículo escolar do ensino fundamental e médio, novamente com o disfarçado objetivo de facilitar o percurso do aluno. Não é à toa que se formam cada vez mais pessoas semi-alfabetizadas, mas diplomadas, inclusive no ensino superior. Neste caso, basta ver o tempo que se levava para se concluir um curso de mestrado ou doutoramento numa universidade pública há vinte ou trinta anos e compará-lo com o que se leva nos dias atuais. Hoje tudo é mais fácil.

                                                           II

            De autores ligados à Brasília, dois dos textos que se destacam são aqueles em homenagem a José Jeronymo Rivera. O primeiro, “José Jeronymo Rivera, poeta e tradutor”, de quando de sua entrada na Academia de Letras do Brasil em 11 de agosto de 2004, e o segundo, “Da privilegiada formação de um grande poeta-tradutor”, referente à sua admissão à Academia Brasiliense de Letras, em 20 de março de 2014.

            De se ressaltar é que tanto Braga Horta como Rivera estudaram, no começo da década de 50, no Colégio Leopoldinense, na pequena cidade de Leopoldina, na Zona Mata de Minas Gerais, um quarto de século depois de passar por lá um futuro médico que ficaria muito conhecido em Coimbra: Adolfo Rocha (1907-1995), nascido em São Martinho de Anta, Sabrosa, em Portugal, que, ao voltar à pátria, mais tarde, debaixo do pseudônimo Miguel Torga, haveria de se tornar um dos maiores escritores da Língua Portuguesa do século XX. Braga Horta e Rivera descobriram a poesia, praticamente, naqueles tempos mineiros e continuaram amigos inseparáveis em Brasília, unidos também por laços familiares.

            Segundo o autor, Rivera, se abandonou precocemente e de maneira injustificada a prática do poema, já em Brasília, haveria de continuar ligado à poesia como tradutor. E, de fato, desde então, tem legado magistrais traduções de poesia espanhola e francesa para a Língua Portuguesa. Não satisfeito, ainda se dedica por estes dias ao estudo do grego moderno para, com certeza, enriquecer a Língua Portuguesa com novas traduções de obras de poetas helênicos.

                                                           III

Anderson Braga Horta (1934), nascido em Carangola, Minas Gerais, formou-se em 1959 pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil-RJ. Jornalista, professor e poeta de reconhecido prestígio na América Latina, foi diretor legislativo da Câmara dos Deputados e co-fundador da Associação Nacional de Escritores (ANE). É membro da Academia Brasiliense de Letras e da Academia de Letras do Brasil.

Predominam em sua obra títulos de poesia, como Altiplano e outros poemas, de 1971, seguido de Marvário,Incomunicação, Exercícios de homem, O pássaro no aquário, reunidos, com inéditos, em Fragmentos da paixão (São Paulo: Massao Ono, 2000), que obteve o Prêmio Jabuti de 2001, mais Pulso (São Paulo: Barcarola, 2000), Quarteto arcaico (Guararapes, 2000), 50 poemas escolhidos pelo autor (Rio de Janeiro: Galo Branco, 2003), Soneto antigo (Brasília: Thesaurus Editora, 2009), De uma janela em Minas Gerais – 200 sonetos (miniedição em 4 volumes, 2011), e Tiempo del Hombre: selección elemental bilingüe español-portugués (Ciudad de Lima: Maribelina/Casa del Poeta Peruano, 2015).

Na linha da crítica e da ensaística, publicou pela Thesaurus Editora: Erotismo e poesia (1994), opúsculo, Aventura espiritual de Álvares de Azevedo: estudo e antologia (2002), Sob o signo da poesia: literatura em Brasília (2003), Traduzir poesia (2004),Testemunho & participação: ensaio e crítica literária (2007), Criadores de mantras: ensaios e conferências (2007), e Proclamações(2013).

No segmento de contos, publicou Cinco Histórias de Bichos (opúsculo), 2004; O Benzedor de Cobras (opúsculo), 2006;Cinco Histórias de Bichos/Fünf Tiergeschichten (opúsculo), tradução de Curt Meyer-Clason, 2008, e Pulso Instantâneo, 2008. Como tradutor, publicou mais de vinte livros, entre poesia e prosa. Já conquistou 15 prêmios literários.

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Do que é feito o poeta, de Anderson Braga Horta. Brasília: Thesaurus Editora, 412 págs., 2016, R$ 35,00. E-mail: sac@thesaurus.com.br Site: www.thesaurus.com.br

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(*) Adelto Gonçalves, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Editorial Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

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SAUDADE | Soledade Martinho Costa

Um dia, eu sei

Hei-de sentir saudades

Saudades da vossa turbulência de crianças

Aonde a traquinice e a bondade

Se moldam ao sabor da vossa infância.

A dar-me conta de vos ver crescer

A ti feita mulher

A ti um homem

Vos vou perdendo de mim em cada hora

A cada descoberta

A cada esperança.

E a saudade virá

Eu já a sinto

Na lágrima

No gesto

Na palavra

Em cada frase

Em cada movimento.

E chorarei de pena e de saudade

As esferas

Os berlindes coloridos

A boneca que espera sobre a cama

A ternura de um beijo de menina.

E chorarei de pena e de saudade

As nódoas

Os rasgões nas camisolas

As histórias que por vezes vos contava

As mãos sujas de terra e de poeira

A hora de acordar-vos para a escola

Os joelhos esfolados sobre as pedras

As gargalhadas

O choro

As brincadeiras.

E a saudade virá

Eu já a sinto

Na forma de brinquedo ou de criança

Como se fora sonho onde amanheça

A força de uma imagem prisioneira

De um beijo

De uma flor

De uma distância.

Soledade Martinho Costa

Do livro “A Palavra Nua”

Ed. Vela Branca

Tela: Alexei Antonov

Vem aí a 11a edição do Caruru dos 7 Poetas | Valdeck Almeida de Jesus

Unindo literatura, manifestações artísticas e a tradição cultural e religiosa baiana, o Caruru dos 7 Poetas completa 12 anos e chega a sua 11a edição. Em 2016 a festa será no dia 24 de setembro, sábado, no Largo D’Ajuda, em Cachoeira, Bahia.
Como vem acontecendo desde 2013 o evento conta com uma programação destinada ao público infantil, dessa vez com a participação do grupo Pé de Moleca, a partir das 15 horas. Já o recital começa às 19 horas e neste ano homenageia os poetas Vânia Melo, Vladimir Queiroz, Vladimir Cazé, Sandro Ornelas, Fábio Haendel, Clarice Malcon Liz e Camillo César Alvarenga.
A programação ainda conta com performance, quermesse de livros, artes, artesanato e gastronomia, o tradicional caruru e o encerramento musical que este ano apresenta o grupo Coro de Cor, com repertório que percorre desde o reggae ao samba, do ijexá ao romântico sempre explorando as vozes em seus arranjos.
SERVIÇO
O que: 11ª edição do Caruru dos 7 Poetas – Recital com Gostinho de Dendê
Quando: Sábado, 24 de setembro, a partir das 15 horas
Onde: Largo d’Ajuda, Cachoeira/BA
Quanto: Gratuito
Informações: (75) 3425-5396 / casadebarro@gmail.com /www.casadebarro.org
Realização: Casa de Barro – Cultura, Arte, Educação

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Um romance da alma uruguaia | Adelto Gonçalves

                                                           I

            Embora seja dono de obra considerada um marco fundamental na literatura uruguaia do século XX, Francisco (Paco) Espínola (1901-1973) continuava inédito em outros idiomas. Esse estranho e inexplicável silêncio, porém, acaba de ser rompido com a publicação de seu romance Sombras sobre a terra (1933) pela editora Letra Selvagem, de Taubaté-SP, em tradução de Erorci Santana, com texto de “orelhas” do crítico e poeta Ronaldo Cagiano. Além de nota do editor, o livro traz prefácio do crítico uruguaio Leonardo Garet, professor do Instituto de Estudos Superiores e do Instituto de Filosofia, Ciências e Letras, de Montevidéu, e a reprodução do prefácio da terceira edição, de 1966, publicad a pelo Centro dos Estudantes de Direito de Montevidéu, escrito pelo crítico, historiador e ensaísta uruguaio (nascido na Argentina) Alberto Zum Felde (1889-1976).

            Garet deixa claro, em seu prefácio, que foi com dor que constatou que em América Latina en su literatura (México, Siglo Veintiuno, 1972), obra de quase 500 páginas coordenada por César Fernández Moreno que conta com a participação de 27 colaboradores, adotada também no curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), não há uma citação do nome de Espínola. Só César Aira o reconhece em seu Diccionario de autores latino-americanos (Buenos Aires, Emecé, 2001).

            E, no entanto, Sombras sobre a terra não fica a dever a outros romances paradigmáticos da literatura hispano-americana, como Junta-cadáveres, do também uruguaio Juan Carlos Onetti (1909-1994), Os passos perdidos, do cubano Alejo Carpentier (1904-1980), Pantaleão e as visitadoras, do peruano Mario Vargas Llosa, O obscuro pássaro da noite, de José Donoso (1925-1996), e Trópico enamorado, do boliviano Augusto Céspedes (1906-1997), outra obra nunca publicada no Brasil, embora tenha o porto de Santos como um de seus cenários.

            O romance teve sua edição de estréia em 1933, em Montevidéu, e ganhou segunda edição em 1939, em Buenos Aires. Seguiram-se mais uma edição em 1966 e outra em 2001 (Clásicos Uruguayos), que inclui vários estudos preliminares, a propósito dos cem anos de nascimento do escritor. A edição brasileira surge agora depois que o editor Nicodemos Sena “descobriu” na livraria de alfarrábios El Galeón, na zona central de Montevidéu, um exemplar de 1966, indicado por seu proprietário, Roberto Cataldo, para quem naquele romance “está a alma uruguaia”.

                                       II

        Sombras sobre a noite, como se percebe pelo título, é um daqueles romances ligados ao (sub)mundo noturno e seus notívagos, na linhagem de Agonia da noite, de Jorge Amado (1912-2001) e outros poucos na literatura brasileira. A exemplo de seus congêneres hispano-americanos, aborda as relações humanas nas casas noturnas e nos prostíbulos. O protagonista, de nome Juan Carlos, é um órfão de pai assassinado e mãe vítima de tuberculose, que vive num imenso e solitário casarão aos cuidados da negra Basília e cresce no Baixo, el Bajo, como é conhecida a zona do baixo meretrício nas cidades latino-americanas, em meio a prostitutas, cafetões e outros seres marginalizados. Foi num prostíbulo que o jovem Juan Carlos encontrou refúgio e compreensão, além de in iciar-se nas artes do amor.

            Autobiográfico, o romance não tem, praticamente, um enredo que se possa seguir de fio a pavio, mas é formado por episódios que antes constituem flagrantes do modo de vida daqueles que transitam por aquele mundo às avessas. As prostitutas, porém, são extremamente humanas e mesmo aqueles que vivem do suor de suas mulheres no ofício que é considerado o mais antigo do mundo não são apresentados como seres cruéis ou vis, mas como “namorados” ou apenas “rapazes” enamorados de suas amantes.

            Não se pense também que o leitor aqui irá encontrar cenas tórridas ou eróticas. Pelo contrário. Haverá de perceber certo desencanto em cenas no bar de um prostíbulo em que há sempre um cantante de tangos, milongas e estilos (típica composição uruguaia para ser acompanhada ao violão) a lamentar a fatalidade daquela vida à margem, um purgatório para a entrada no paraíso que só virá com a morte. Por trás desse romance poético, ainda que realista, perpassa, porém, um sentimento de solidariedade com os menos favorecidos, os deserdados da terra.

                                       III

            Francisco Espínola nasceu, em San José de Mayo, a 4 de outubro de 1901. Era, portanto, maragato, como todo aquele que nasce no pequeno departamento de San José, que fica às margens do Rio da Prata e na área metropolitana de Montevidéu. O termo maragato aqui também tem a ver com os nossos maragatos, os sulistas que deram início à Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, em 1893, contra os chimangos, os legalistas. Eram chamados de maragatos não só por causa do lenço vermelho que traziam ao pescoço, mas porque vinham do exílio no Uruguai, exatamente na região de San José, que fora colonizada por espanhóis procedentes da comarca espanhola de Maragatería, na província de León.

            Espínola nasceu no seio de uma família de tradição blanca, ou seja, ligada ao Partido Blanco, de inspiração conservadora, cujo ideário, aparentemente, seguiu pelo menos até 1962, quando se filiou ao Partido Comunista Uruguaio. Foi professor e crítico literário e teatral. Combateu a ditadura de Gabriel Terra (1873-1942), advogado que ocupou a presidência da república uruguaia de 1931 e 1938. Alto dirigente do Partido Colorado, igualmente de ideário conservador, Terra liderou um golpe de estado em 1933, com o apoio do exército. Durante seu governo, colocou na prisão muitos adversários políticos, inclusive vários professores, como Espínola. Preso em 1935, Espínola seria felicitado na prisão por algu ns de seus algozes, que haviam tido a oportunidade de ler Sombras sobre a terra.

            Sua estréia literária deu-se em 1926 com o livro de contos Raza ciega, no qual o crítico uruguaio Alberto Zum Felde viu similitudes com Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Escreveu ainda Saltoncito (1930), relato para crianças; El rapto y otros cuentos (1950); Milón o el ser del circo (1954), ensaio sobre estética; e Don Juan el Zorro (1968), três fragmentos de romance. Escreveu também peças de teatro. Em 1961, foi distinguido com o Grande Prêmio Nacional de Literatura do Ministério de Instrução Pública do Uruguai.

            No artigo “El Bajo maragato cruza fronteras”, publicado no semanário Busqueda, de Montevidéu, de 19 de fevereiro de 2015, a jornalista Silvana Tanzi, a propósito da então presumível publicação do romance no Brasil pela editora Letra Selvagem, traça um perfil de Espínola com a ajuda de um artigo de Alfredo Mario Ferreiro (1899-1959), em que este poeta dizia que o escritor fazia parte de uma geração que “vivia em ritmo lento e podia passar horas conversando no boliche”. Segundo Ferreiro, Espínola vestia-se sempre de preto com uma gravata e colarinho quebrado e engomado, usado em camisas destinadas a trajes formais como o smoking. “Dias houve em que Espínola falou pelo espaço de oito ou dez horas. E parecia um minuto”, recordou Ferreira, que era seu amigo.

            Espínola morreu durante a madrugada de 27 de julho de 1973, por coincidência dia em que ocorreu o golpe de Estado liderado pelo presidente Juan María Bordaberry (1928-2011), que instaurou um regime de exceção que duraria até 28 de fevereiro de 1985. Naquela manhã, os uruguaios acordaram ao som de marchas militares que eram tocadas nas emissoras de rádio, prenunciando um período de muitas perseguições, torturas e assassinatos de opositores à ditadura.

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Sombras sobre a terra, de Francisco Espínola, tradução de Erorci Santana, com prefácio de Leonardo Garet, prólogo da terceira edição por Alberto Zum Felde, texto de “orelhas” de Ronaldo Cagiano e nota do editor Nicodemos Sena. Taubaté: Editora Letra Selvagem, 5ª edição (1ª em português), 360 págs., R$ 40,00, 2016. Site: www.letraselvagem@letraselvagem.com.br E-mail: letraselvagem.com.br

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 (*) Adelto Gonçalves, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Editorial Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Esta do de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

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“Flores”, de Afonso Cruz, vence Prémio Literário Fernando Namora | in “TSF”

O romance de Afonso Cruz venceu por unanimidade o Prémio Literário Fernando Namora, com o valor pecuniário de 15 mil euros, disse à Lusa fonte do júri.

O júri realçou “a elevada qualidade estética” do romance de Afonso Cruz, lê-se na ata, à qual a Lusa teve acesso.

O mesmo documento destaca também “o domínio da linguagem de ficção, a capacidade de construção de uma história e das suas personagens, sabendo lidar com a introdução do aleatório numa estrutura bem montada”.

O júri salientou ainda o “registo lírico de apreensão do real” da narrativa de Afonso Cruz, na qual o escritor alia “a cultura clássica a referências correntes – através de uma assinalável compreensão do quotidiano e da sua riqueza multifacetada”.

O júri desta edição foi presidido por Guilherme d’Oliveira Martins, e foi ainda constituído por José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Maria Carlos Loureiro, pela Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz, convidados a título individual, e Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, pela Estoril Sol, que organiza e patrocina o prémio.

Nesta 19ª edição o júri “reconheceu ter sido um ano literário de excecional qualidade, tendo selecionado ainda, com muito apreço, os romances concorrentes” de João Tordo, “O luto de Elias Gro”, Inês Pedrosa, “Desamparo”, Joel Neto, “Arquipélago”, Julieta Monginho, “Os Filhos de K”, Mário Cláudio, “Astronomia”, e de Paulo Castilho, “O sonho português”, segundo a mesma fonte.

O percurso do autor

Afonso Cruz, de 45 anos, além de escritor é também realizador de filmes de animação, ilustrador e músico. Publicou o primeiro romance em 2008, “A carne de Deus: Aventuras de Conrado Fortes e Lola Benites”, ao qual se seguiu, em 2009, “Enciclopédia da estória universal”, que foi distinguido com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.

Em 2012, venceu o Prémio da União Europeia de Literatura com o livro “A Boneca de Kokoschka”. Outros galardões que já recebeu foram o Prémio Autores da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), em 2011 e 2014, e o Prémio Nacional de Ilustração, em 2014.

É também autor de “Os livros que devoraram o meu pai”, distinguido com o Prémio Literário Maria Rosa Colaço, e “A contradição humana”, com o qual venceu o Prémio Autores SPA/RTP.

Em 2012 editou o romance “Jesus Cristo bebia cerveja”, que foi distinguido com Prémio Time Out – Livro do Ano e eleito Melhor Livro, segundo escolha dos leitores do diário Público. Em 2013 publicou “Para onde vão os guarda-chuvas”, com o qual recebeu o Prémio Autores/SPA na categoria Melhor Livro de Ficção.

TSF

AGATHA CHRISTIE também nasceu num dia 15 de Setembro em 1890 | Cristina Carvalho

Foi uma escritora do género policial, foi contista e escreveu para o teatro. Quem não conhece os famosíssimos detectives Hercule Poirot ou Miss Jane Marple, essas vivíssimas personagens que resolveram todas as tramas e ardis criminais em cada um dos seus livros?
Sob pseudónimo também escreveu vários romances.

Agatha Christie é considerada até hoje como a escritora mais conhecida, mais traduzida – os seus livros estão traduzidos em 130 línguas – e mais vendida em todo o planeta logo a seguir a Shakespeare e à Bíblia. Para cima de dois bilhões de exemplares!
A sua peça de teatro The Mousetrap está em cena desde 1952 e até hoje com mais de 25 000 representações.

Não conheço os seus 66 livros policiais, mas li trinta e tal. Os que tenho em casa e acho, de facto e dentro do género, fascinante. Insuperável, eu diria, ainda que haja mais mestres neste género literário.

CC

Adenda pessoal – uma inspiração e um desafio a alguns escritores portugueses  (Vítor Coelho da Silva)

Informação de agenda | Lançamento da Bíblia | Centro Cultural de Belém, quinta-feira, 22/09, 18h30

Apresentação da Bíblia

Quinta-feira, 22 de setembro, às 18h30

Sala Sophia de Mello Breyner, Centro Cultural de Belém

Praça do Império, 1449-003 Lisboa

O primeiro volume da nova edição da Bíblia, com tradução de Frederico Lourenço a partir do grego, chega às livrarias portuguesas a 23 de setembro, pela mão da Quetzal. É a primeira vez que é publicada uma versão da Bíblia para todos os leitores, crentes e não crentes, isenta de preconceitos ou fins religiosos.

A tradução é da chamada Bíblia Grega (Septuaginta), o que torna esta nova edição a mais completa alguma vez publicada em português. Contém 80 livros (27 do Novo Testamento e 53 do Antigo Testamento), ou seja, mais 14 livros do que as versões do cânone protestante e mais sete do que a tradução do atual cânone católico.

Além de se tratar de uma nova e mais rigorosa tradução, sem juízos ou inferências de cariz religioso – em algumas passagens, sublinham-se mesmo as diferenças em relação às edições correntes –, Frederico Lourenço eleva o texto bíblico a uma condição literária, incluindo notas que esclarecem e contextualizam o texto original.

Relativamente a este primeiro volume, o texto dos quatro Evangelhos canónicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) readquire, nesta tradução, uma beleza arrepiante, um ritmo que enleva o leitor e o transporta até ao tempo e às circunstâncias da vida de Cristo. A singularidade da escrita de Lucas e João aparece finalmente visível em português, quase como se se tratasse da reinvenção do romance moderno. Nunca o texto bíblico foi tão belo na nossa língua.

Até 2019, serão publicados os restantes volumes. Esta nova tradução da Bíblia encontra-se dividida da seguinte forma:

Volume I – Novo Testamento: Os Quatro Evangelhos [Mateus, Marcos, Lucas e João]

Volume II – Novo Testamento: Atos dos Apóstolos, Epístolas [Paulo, Tiago, Pedro, João, Judas], Apocalipse

Volume III – Antigo Testamento: Os Livros Proféticos

Volume IV – Antigo Testamento: Os Livros Sapienciais [Salmos, Odes, Provérbios, Eclesiastes, Cântico, Job, Sabedoria]

Volume V – Antigo Testamento: Os Livros Históricos [Juízes, Josué, Reis, Samuel, Crónicas, Esdras, Ester, Judite, Macabeus]

Volume VI – Antigo Testamento: Os Livros da Lei [Génesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronómio]

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Apresentação de «Segurança Social» em Coimbra com Francisco Louçã e José Luís Albuquerque

Apresentação do livro «Segurança Social»

22 de setembro, quinta-feira, às 22h

Café Santa Cruz

Praça 8 de Maio, Coimbra

Francisco Louçã e José Luís Albuquerque, dois dos coordenadores de «Segurança Social», farão a apresentação do seu mais recente livro no próximo dia 22 de setembro, às 22h, no Café Santa Cruz, em Coimbra, contando com Pedro Nogueira Ramos, Professor Catedrático na Universidade de Coimbra como apresentador.

Disponível à venda desde 15 de julho, «Segurança Social» nasceu dos trabalhos das Oficinas sobre Políticas Alternativas e conta com o contributo de Francisco Louçã, José Luís Albuquerque, Vítor Junqueira e João Ramos de Almeida como coordenadores, bem como de outros investigadores em políticas sociais, Manuel Pires, Maria Clara Murteira, Nuno Serra e Ricardo Antunes.

Considerando as existentes pressões internacionais sobre o Estado português, e sendo este um dos debates atuais mais intensos, «Segurança Social» responde a esta discussão com base em informação estatística e documentos de referência, apresentando a possibilidade de construção de um sistema sólido de segurança social. Fruto de uma forte investigação sobre as políticas sociais, «Segurança Social» levanta variadas questões sobre regras sociais e sugere respostas, apresentando as diferentes perspetivas dos autores que, em conjunto, procuram responder a uma preocupação comum: a de que os sistemas de proteção social são formas essenciais da democracia.

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«O Euro», de Joseph E. Stiglitz | Pode a Europa prosperar sem a moeda comum?

A 23 de setembro, chega às livrarias portuguesas o livro «O Euro», do académico norte-americano Joseph E. Stiglitz, que pretende mostrar que o mandato do Banco Central Europeu está erradamente obstinado pelo controlo da inflação.

Assim, o autor propõe três alternativas: uma reforma profunda na estrutura da Zona Euro e nas políticas impostas aos países-membros mais atingidos; uma gestão cuidada para acabar com a Zona Euro; ou um novo sistema corajoso, apelidado de “euro flexível”.

«Se a análise efetuada neste livro estiver correta, a crise do euro está longe de acabar (…) Todavia, estes jogos não são mais recomendáveis do que qualquer outra hipocrisia. A Zona Euro será atingida por outros choques e os países mais debilitados serão, de novo, atirados para a crise – tal como existe hoje, a Zona Euro pura e simplesmente não tem a flexibilidade necessária para que os mais frágeis saiam beneficiados e, na melhor das hipóteses, prevê-se que o seu crescimento seja muito lento.»

Esta é uma leitura urgente e essencial, que inclui um capítulo escrito após o referendo que deu origem à saída britânica da União Europeia, o Brexit, apresentando uma reflexão sobre as questões que lhe estão associadas.

Joseph E. Stiglitz foi Prémio Nobel da Economia em 2001 e Prémio Nobel da Paz em 2007, tendo sido nomeado em 2011 uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time.

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Arturo Pérez-Reverte | Patrícia Reis

Amanhã (14 Setembro 2016), no âmbito do FIC (Festival Internacional de Cultura), entrevistarei Arturo Pérez-Reverte, ele que é o escritor espanhol mais traduzido (40 países), com cerca de 17 milhões de livros vendidos. Passei o verão a ler e a reler a sua obra, terminando com o novo livro Homens Bons (edições Teorema), uma aventura no século XVIII e, a propósito, várias considerações filosóficas da época sobre a luz e as trevas, a razão e a ciência, a fé e a religião, e até as mulheres e as suas coisas. Pérez-Reverte é um dos nomes grandes da Literatura e é, sobretudo, um homem livre, para muitos politicamente incorrecto, para outros corajoso e lúcido na forma como vê o mundo. Repórter de guerra durante 21 anos, este autor dedicou-se aos livros e à navegação, as duas artes que o salvaram. Será uma conversa e tanto e tenho quase a certeza de que falaremos de História, de memória (ou da falta dela), de xadrez, barcos e livros, muitos livros. Por isto e mais, tragam o corpo. É às 22h00 na casa das histórias  Paula Rêgo em Cascais.

Retirado do Facebook | Mural de Patrícia Reis

Um estudo da ‘pedagogia’ da violência | Adelto Gonçalves

I

Que a execução dos Távoras a 13 de janeiro de 1759, em Belém, foi um “excesso de horror”, na definição do filósofo francês François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (1694-1778), não se discute. Mas não se pense que por isso Portugal fosse o país mais bárbaro da Europa Ocidental. À época, em casos de regicídio ou crimes considerados de lesa-majestade, na maioria dos países europeus, era comum que o criminoso fosse executado com requintes de crueldade, pois se esperava que, desse modo, ficasse a sociedade atemorizada e ninguém mais ousasse praticar atentado semelhante. Por isso, costumava-se pendurar em lugares públicos pedaços dos corpos dos acusados para que o medo se alastrasse.

Em 1761, os atos de barbárie seriam repetidos com a execução do padre Gabriel Malagrida (1689-1761), condenado ao garrote e à fogueira da Inquisição ao Rossio, em Lisboa, ainda como desdobramento do atentado sofrido pelo rei D. José I (1714-1777) a 3 de setembro de 1758, que teria sido idealizado pelos Távoras em conluio com os jesuítas, segundo o juízo do ministro Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), conde de Oeiras e, depois, marquês de Pombal. Ainda no século XVIII, em 1792, no Rio de Janeiro, a sociedade colonial também teria a oportunidade de assistir a espetáculo semelhante, com a execução do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), acusado de liderar uma conspiração em Minas Gerais, em 1789.

Estudar os sistemas europeus da justiça para a aplicação da pena máxima foi o que levou o professor Manuel Cadafaz de Matos, da Academia Portuguesa da História, a escrever o trabalho “Ausência de liberdade, violência, e sociologia punitiva à escala global na Idade Moderna (I). Foucault, Ricoeur, a normativa do Direito e a História da Justiça sentenciária na Europa ao longo dos séculos XV e XVI: a pedagogia da violência pela imagem impressa”, publicado na Revista Portuguesa de História do Livro, ano XVII, nºs 33-34, 2014, pp. 441-551.

Diz o professor que esse tipo de pena era aplicada diretamente a pessoas (nobres ou não) que estivessem envolvidas em crimes contra o rei e príncipes. Se não estivessem envolvidos membros da família real, haveria outra tipologia de execução, que previa apenas a execução dos sentenciados na forca, embora nem sempre esse procedimento tenha sido rigidamente seguido. Foi o caso do padre Fernando Costa (1416-1478), prior de Trancoso, sentenciado durante no reinado de D. João II (1455-1495), que teve seu corpo esquartejado e “posto aos quartos, cabeças e mãos em diferentes distritos”, como se lê na sentença em auto depositado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. O sacerdote era acusado de ter levado vida dissoluta, tendo dormido com afilhadas, comadres, escravas e uma tia, colocando no mundo 281 filhos e filhas, “concebidos de 53 mulheres”.

Explica o estudioso que, como o polígamo prior de Trancoso era um plebeu, o tipo de encenação para o seu ato executório não poderia ter os mesmos ingredientes sociológicos de espetáculo da expiação do Duque de Bragança (1430-1483), que ocorreu cinco anos depois, em Évora, pelo crime de conjura contra D. João II, ou da expiação em Paris, em 1475, de Luís de Luxemburgo (1418-1475), o Condestável de França, por crime de conjura contra o rei Luís XI (1423-1483). Talvez tenha pesado muito a perplexidade da sociedade diante de quem se esperava que tivesse uma vida projetada para o divino.

Fosse como fosse, segundo o professor, tudo parece apontar que a justiça penal de Portugal andava de par com a das demais nações europeias, ou seja, “acompanhava trâmites processuais de algum modo comuns aos praticados em outros pontos da Europa ocidental e central”.

O objetivo do professor, porém, foi mostrar que houve uma lógica, nas monarquias europeias, quatrocentistas e quinhentistas, no âmbito de uma sociologia punitiva, bem como de uma pedagogia da violência, tal como entenderam os filósofos franceses Michel Foucault (1926-1984) e Paul Ricoeur (1913-2005). Essa pedagogia da violência valeu-se de gravuras que rememoravam tais execuções, o que se deu a partir dos séculos XV e XVI, com gravadores e pintores passando para a imagem aqueles momentos dramáticos da aplicação das penas. Mas seria nos séculos XVII e XVIII que essas gravuras passariam a assumir plenamente essa função pedagógica.

II

A exemplo do trabalho do professor Manuel Cadafaz de Matos, os demais ensaios que compõem este volume especial (duplo) da Revista Portuguesa de História do Livro homenageiam o filósofo francês Paul Ricoeur, a propósito do centenário de. seu nascimento. Licenciado em Filosofia em 1936, Ricoeur, mobilizado durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), passou vários meses prisioneiro das forças nazistas na região da Pomerânia. Depois de sua libertação, integrou-se ao corpo docente da Universidade Paris-Sorbonne. A partir de então, produziu vasta obra filosófica, que teve repercussão não só na Europa como no Brasil e nos Estados Unidos.

Seus trabalhos filosóficos, que compreendem a Fenomenologia, a Heurística bíblica e outras áreas do pensamento, exerceram influência decisiva em Portugal, inclusive sobre o professor Manuel Cadafaz de Matos, que o conheceu pessoalmente. Seu espólio hoje faz parte do acervo da Faculté Libre de Théologie Protestante de Paris.

Deste volume da Revista Portuguesa de História do Livro, constam também trabalhos do investigador francês François Dosse, autor de uma biografia de Ricoeur, e da professora francesa Françoise Dastur, além de ensaios dos investigadores portugueses Fernanda Henriques, da Universidade de Évora, Maria Luísa Portocarrero e Gonçalo Marcelo, da Universidade de Coimbra, e Gabriela Castro, da Universidade dos Açores, e do professor castelhano Tomás Domingo Moratalla, da Universidade Complutense de Madrid.

Do Brasil, há colaborações do professor Luís Henriques Menezes Fernandes, da Universidade Estadual de Londrina, que estuda o parentesco ideológico de Ricoeur com o português João Ferreira de Almeida, tradutor seiscentista da Bíblia, e da professora Josiane Magalhães, da Universidade do Estado do Mato Grosso, que faz comentários sobre as reflexões de Ricoeur às Meditações, de René Descartes (1596-1650).

 

III

Doutor em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa, título obtido em julho de 1998, Manuel Cadafaz de Matos é membro da Academia Portuguesa da História e da Academia de Marinha. Ex-docente da Universidade Católica Portuguesa e ex-professor associado na Escola Superior de Design, ambas em Lisboa, lecionou como professor catedrático convidado na Universidade de Barcelona em 2004.

Atualmente, dirige projetos editoriais das obras latinas de Damião de Góis (1502-1574) e André de Resende (1498-1573). É diretor, desde 1997, da Revista Portuguesa de História do Livro, que se edita semestralmente, e do Centro de Estudos de História do Livro e da Edição (Cehle), que patrocina a publicação da revista. Acompanha, de igual modo, a edição das suas Obras Completas de que até ao momento já saíram oito volumes, os cinco últimos dos quais de uma assinalável dimensão (cada um deles com cerca de 800 páginas).

Em 2015, obteve o Prêmio Laranjo Coelho, de Estudos Medievais, um dos prêmios atribuídos anualmente pela Academia Portuguesa da História, pelo volume VII das suas Obras Completas, sobre o tema específico Da História Cultural, Social e das Técnicas, à História das Bibliotecas, na Idade Média Europeia (Lisboa, Edições Távola Redonda, 2014).

Naquele mesmo ano, recebeu o Prêmio História da Europa daquela mesma instituição pela sua obra Estudos Erasmianos, 1987-2012 (Obras Completas, vol. 5), atribuído em colaboração com a Fundação Calouste  Gulbenkian. Ainda em abril daquele ano, recebera das mãos do presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, no Palácio de Belém, a Ordem Honorífica da Instrução Pública e o Grau de Comendador, por quatro décadas de dedicação à pesquisa história e ao serviço do ensino superior, em Portugal e no estrangeiro. Em outubro, no XIII Simpósio de História Marítima, promovido pela Academia da Marinha, recebeu daquela instituição o Prêmio EDP – História da Missionação e Encontro de Culturas.

Tem, em sua especialidade, cerca de 120 trabalhos científicos, a maioria deles sobre temas da História do Livro e da Edição. Tais estudos do autor encontram-se publicados em Portugal e em outros países como Espanha, França, Itália, Holanda, Macau e República Popular da China.

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Revista Portuguesa de História do Livro, ano XVII, vols. 33-34 (2014). Lisboa: Edições Távola Redonda/Centro de Estudos de História do Livro e da Edição (Cehle), 807 págs., ISSN: 0874-1336. Site: www.cehle.com E-mail: manuelcadafazdematos@cehle.com

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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

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O GRITO NOVO | Ernane Catroli

Daquela vez, a fita do Bonfim rasgando nas dobras no momento da nossa discussão. Como um aviso.

Guardo as alianças, um crucifixo, algumas fotos. As santas relíquias na caixa de prata incrustada de pedras.

Também, quando atravessei o portão do edifício na rua tranquila onde morávamos. Final de tarde.

Então partir.

E a certeza de não voltar. Os últimos pertences como se esquecidos na pressa.

No trajeto até a pensão, a igreja da Penha. O meu olhar na sua direção. Aquele lado da rua. As preces que ali mesmo inventei. Os vocativos.

E é o pai que retorna vívido, sua voz firme: ô vida margarida! Uma litania. Um desejo de solução.

Tenho uma foto. Vejo-o de costas, subindo a pequena ladeira em direção ao trabalho na estação ferroviária. O passo largo. O seu jeito de jogar o braço. No sentido contrário, uma garotinha, os cabelos cacheados: a mais velha das minhas irmãs. Ao fundo, a igreja, a pracinha. Algumas casas.

Aquele dia, na hora do almoço, ele falou pausado: o nome do garoto vai ser Conrado. Ouvi no rádio.

Conrado – ele repetiu, demorando nas sílabas.

Minha mãe, a cabeça inclinada na minha direção.

Tia Nanzita contava e recontava.  Um texto decorado. Sem variação.

*

A pequena escada – os degraus de pedra talhada – leva ao caramanchão com suas pilastras de mármore, suas marcas. No mais alto da colina. O mosteiro.

De todos os ângulos casam perfeito: azul, verde, ocre, rosa, roxo e anil.

E mais: o que diviso até onde o limite da minha fé.

Agora. Tanto tempo. Fosse bem antes.

O cambiante das cores. As três partes do dia.  O desmedido silêncio.

Cecim, o criador do Éden amazônico | Vicente Franz Cecim | por Adelto Gonçalves

I

Apontado pela crítica portuguesa como o segundo melhor lançamento de 2005, o livro K O escuro da semente, do poeta brasileiro Vicente Franz Cecim (1944), sai agora no Brasil pela editora Letra Selvagem, de Taubaté, em versão transcriada que deixa um pouco desatualizada a edição portuguesa. Na época, o seu autor foi saudado por Eduardo Prado Coelho (1944-2007) no jornal Público, de Lisboa, como “uma revelação extraordinária”. Quem conheceu Prado Coelho sabe que era preciso muito para arrancar daquele professor, crítico e ensaísta um elogio tão desmedido.

Talvez por isso Cecim seja hoje mais conhecido em Portugal do que no Brasil. Assim, este lançamento da Letra Selvagem, de certo modo, vem corrigir essa injustiça, já que, por um desses paradoxos brasileiros, o poeta ainda é quase um desconhecido, embora seja vasta a sua fortuna crítica e grande o número de resenhas de seus livros publicadas em jornais e revistas.

Aliás, em artigo publicado no Jornal da Tarde, de São Paulo, em 31/1/1981, o grande crítico Leo Gilson Ribeiro (1929-2007), ao resenhar os dois primeiros livros do jovem Cecim – A asa da serpente e Os animais da terra –, publicados em Belém, em edições de autor, já o colocava como um importante escritor da geração pós-1964, ao lado Raduan Nassar, João Gilberto Noll, Mora Fuentes (1951-2009) e Carlos Emílio Correa Lima. Ribeiro destacava que em A asa da serpente Cecim abordava um tema caro a Jorge Luis Borges (1899-1986), o de um homem que consegue o direito a uma segunda morte, já que a primeira havia sido a de um covarde.

Refinado e sofisticadíssimo, aprovado por outros críticos como Benedito Nunes (1929-2011), Moacir Amâncio, Oscar D´Ambrosio, Nelly Novaes Coelho e Carlos Menezes, no Brasil, e Manuel de Freitas e António Cabrita, em Portugal, Cecim constrói há quatro décadas uma obra multifacetada e marcada pela presença da natureza, com a Amazônia transfigurada na região metafísica de Andara, um Éden amazônico e suas alegorias.

II

K O escuro da semente é mais um daqueles livros que o autor chama de “visíveis” e reúne na obra imaginária Viagem a Andara oO livro invisível, que não escreve e só existe na alusão de um título. É o que o poeta denomina de “literatura-fantasma”, em que foge a uma classificação formal, pois não se sabe se se trata de um romance escrito em prosa poética ou de um longo poema em prosa, mas sim de um gênero híbrido, que absorve todos, constituindo um diálogo entre Pai e Filho ou entre irmãos, como Iziel e Azael e Oniro e Orino. É também o seu primeiro livro em iconescritura, pois une imagens e palavras.

De difícil leitura e definição, ao menos para aqueles leitores pouco afeitos à poesia menos convencional, o estilo de Cecim lembra a inquietação existencial de Samuel Beckett (1906-1989), Thomas Stearns Eliot (1888-1965), Ezra Pound (1885-1972) e Franz Kafka (1883-1924), passando ainda por Lautréamont (1846-1870), especialmente o de Os Cantos de Maldoror, e Zaratustra (660-583 a.C). Não é pouco.

É o que se pode constatar no capítulo (?) “Da voz de Areia Lenta” (pag. 67-68):

Eis: a história:/ – E cada um possui a todos dentro de si e vê em outro a todos, e tudo é tudo e cada um é tudo/ e cada um é tudo/ e o Fulgor é imenso, / pois cada um deles é grande,/ pois também o pequeno é grande/ Lá o sol é todos os sóis/ E cada sol é sol e todos os sóis/ Tendo nos dito isso, e o Fulgor é imenso,/ Plotino, pois fosse sua aquela Voz em chamas. / – É? Nos perguntamos. E cada um possui a todos dentro de si. / Mas de onde vem então esse vento, em Andara, que diz:/ – Um animal é uma falta de tudo para sempre./Vem de páginas passadas em Andara, virando páginas passadas de Andara./ É sempre em Andara que esses ventos vêm soprar, e esse quis soprar aqui de novo./ Ei-lo. Dizendo, esse vento/ O que um dia já foi dito por Iziel a Azael nessas páginas passadas/ Está lá, no livro que um dia se chamou Silencioso como o Paraíso após a expulsão das criaturas humanas, essa página passada./ Que diz, seu eco ainda nos chegando/ Vem lá do Paraíso (….).

Na apresentação que escreveu para este livro, António Cabrita, romancista e ensaísta português que vive em Moçambique desde 2005, diz que Cecim escreve sempre o mesmo livro sob um novo ângulo, “numa busca do que é mais conforme à fonte”. E acrescenta: “as figuras, os topoi, as metáforas que se apresentam neste longo poema já estão presentes nos anteriores”. Por isso, diz, “K O escuro da semente ergue-se então como um novo andamento na sinfonia”. Não é preciso dizer mais. Só resta, então, ao leitor buscar este livro. E tentar decifrar o enigma.

III

Vicente Franz Cecim, jornalista e publicitário, nasceu em Belém do Pará, onde vive até hoje. Seus avós paternos eram libaneses e italianos que imigraram para a Amazônia no início do século XX. Da mãe brasileira, paraense nascida em Santarém, a escritora Yara Cecim (1916-2009), o escritor herdou o gosto pelo mundo natural.

Em 1979, com A asa e a serpente, teve início a sua obra imaginária Viagem a Andara oOlivro invisível, transfiguração da Amazônia em região-metáfora da vida em que natural e sobrenatural convivem de maneira harmoniosa e mútua epifania. Em 1980, recebeu o prêmio Revelação de Autor da Associação Paulista de Críticos de Arte (Apca), por sua segunda obra, Os animais da terra. Em 1981, A noite do Curau, primeira versão do terceiro livro de Andara, Os jardins e a noite, recebeu menção especial do Prêmio Plural, no México. Em 1983, durante o Congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belém, o escritor fez um apelo à insurreição da Amazônia em seu “Manifesto Curau”.

Ao longo dos sete primeiros livros do ciclo de Andara, prosseguiu abolindo as fronteiras entre prosa e poesia. Publicados inicialmente pela Editora Iluminuras, de São Paulo, no volume Viagem a Andara, os livros receberam, em 1988, o Grande Prêmio da Crítica da Apca, que, década de 1980 seria somente atribuído também a Hilda Hilst (1930-2004), Cora Coralina (1889-1985) e Mário Quintana (1906-1994) e, na seguinte, a Manoel de Barros (1916-2014).

Em 1995, publicou Silencioso como o Paraíso (São Paulo, Iluminuras), reunindo mais quatro “livros visíveis” de Andara. Em 2001, quando a invenção Andara completava 22 anos, publicou O Serdespanto, pela Íman Edições, de Almada, com dois novos livros de Andara, apontado pela crítica portuguesa como o segundo melhor lançamento do ano. Livro duplo, em que a palavra cada vez mais aprofunda o seu diálogo com o silêncio, foi reeditado em 2006 pela Bertrand Brasil.

Em 2004, relançou as versões finais, transcriadas, os sete primeiros livros de Andara reunidos nos volumes A asa da serpente e a Terra da sombra e do não (Belém, Cejup). Em 2005, publicou o seu primeiro livro em Portugal, K O escuro da semente (Maia, Ver o Verso), então inédito no Brasil.

Em 2008, lançou pela Tessitura, de Belo Horizonte: oÓ: Desnutrir a pedra. Nesta obra, aprofunda sua demanda de uma nova escritura, mesclando palavra, silêncio

da página em branco e imagem. Segundo ele, durante esses anos todos, Andara lhe desvelou que “o natural é sobrenatural, o sobrenatural é natural.”

Em 2009, a invenção de Andara atingiu 30 anos de criação. Nesse ano, saiu encartado no volume Do abismo às montanhas (Seminários Internacionais Vale) seu livro de cantos/poemas de Andara, Fonte dos que dormem. Em 2014, lançou Breve é a febre da terra (Belém, IAP, Prêmio Haroldo Maranhão de Romance). Atualmente, escreve Oniá um lugar cintilante, “um novo livro visível”.

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K O escuro da semente, de Vicente Franz Cecim, com apresentação de António Cabrita. Taubaté: Editora Letra Selvagem, 1ª edição, 384 págs., R$ 50,00, 2016. Site: www.letraselvagem@letraselvagem.com.br E-mail: letraselvagem.com.br

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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

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AS FABULOSAS HISTÓRIAS DA TAPADA DE MAFRA | Cristina Carvalho

Nas livrarias a partir de 22 de Setembro

(…) Sou a maior ave de rapina nocturna do mundo inteiro! E a mais bela! E a mais silenciosa no voo!
No dia em que nasci, nesse dia em que o ovo estalou e o céu se abriu num todo claro e imenso consegui, por fim, espreitar a medo, cá para fora. Eu vivia, por essa altura, num emaranhado de babas gelatinosas e mal podia ser distinguido. Era um bico, apenas. Um bico aberto à sede e à fome. Neste mesmo dia em que apareci no mundo, nasceu também o meu adorado amigo. Eu fui um pássaro. Ele foi um homem.

(…) Logo que nasci, fiquei ali, meio fora, meio dentro da casca do meu ovo branco a piar, a piar num alvoroço doido de penas e líquidos gelatinosos que bordavam todo o redondo do ninho. E ouvia muito bem o potente som que a minha mãe emitia, aquele Hooooo Hooooo prolongado, suave e, ao mesmo tempo, poderoso e quente. Conseguia ouvir o som da minha mãe ainda que ela estivesse bastante longe, a caçar para me alimentar. Depois, já muito de noite, ela chegava com pequenos ratos pendurados no bico que largava perto de mim. Quando eu ainda era muito pequeno e sem forças, ela segurava o ratico e ali ficávamos, eu a petiscar o bicho e ela a segurá-lo para que eu me alimentasse devidamente.
(…)

Cristina Carvalho – excerto de “AS FABULOSAS HISTÓRIAS DA TAPADA DE MAFRA” – publicado por Sextante / Porto Editora.

tapada

Discurso da Presidenta Dilma no Senado Federal

Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski

Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal Renan Calheiros,

Excelentíssimas Senhoras Senadoras e Excelentíssimos Senhores Senadores,

Cidadãs e Cidadãos de meu amado Brasil,

No dia 1o de janeiro de 2015 assumi meu segundo mandato à Presidência da República Federativa do Brasil. Fui eleita por mais 54 milhões de votos.

Na minha posse, assumi o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, bem como o de observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil.

Ao exercer a Presidência da República respeitei fielmente o compromisso que assumi perante a nação e aos que me elegeram. E me orgulho disso. Sempre acreditei na democracia e no Estado de direito, e sempre vi na Constituição de 1988 uma das grandes conquistas do nosso povo.

Jamais atentaria contra o que acredito ou praticaria atos contrários aos interesses daqueles que me elegeram.

Nesta jornada para me defender do impeachment me aproximei mais do povo, tive oportunidade de ouvir seu reconhecimento, de receber seu carinho. Ouvi também críticas duras ao meu governo, a erros que foram cometidos e a medidas e políticas que não foram adotadas. Acolho essas críticas com humildade.

Até porque, como todos, tenho defeitos e cometo erros.

Entre os meus defeitos não está a deslealdade e a covardia. Não traio os compromissos que assumo, os princípios que defendo ou os que lutam ao meu lado. Na luta contra a ditadura, recebi no meu corpo as marcas da tortura. Amarguei por anos o sofrimento da prisão. Vi companheiros e companheiras sendo violentados, e até assassinados.

Na época, eu era muito jovem. Tinha muito a esperar da vida. Tinha medo da morte, das sequelas da tortura no meu corpo e na minha alma. Mas não cedi. Resisti. Resisti à tempestade de terror que começava a me engolir, na escuridão dos tempos amargos em que o país vivia. Não mudei de lado. Apesar de receber o peso da injustiça nos meus ombros, continuei lutando pela democracia.

Dediquei todos esses anos da minha vida à luta por uma sociedade sem ódios e intolerância. Lutei por uma sociedade livre de preconceitos e de discriminações. Lutei por uma sociedade onde não houvesse miséria ou excluídos. Lutei por um Brasil soberano, mais igual e onde houvesse justiça.

Disso tenho orgulho. Quem acredita, luta.

Aos quase setenta anos de idade, não seria agora, após ser mãe e avó, que abdicaria dos princípios que sempre me guiaram.

Exercendo a Presidência da República tenho honrado o compromisso com o meu país, com a Democracia, com o Estado de Direito. Tenho sido intransigente na defesa da honestidade na gestão da coisa pública.

Por isso, diante das acusações que contra mim são dirigidas neste processo, não posso deixar de sentir, na boca, novamente, o gosto áspero e amargo da injustiça e do arbítrio.

E por isso, como no passado, resisto.

Não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes. No passado, com as armas, e hoje, com a retórica jurídica, pretendem novamente atentar contra a democracia e contra o Estado do Direito.

Se alguns rasgam o seu passado e negociam as benesses do presente, que respondam perante a sua consciência e perante a história pelos atos que praticam. A mim cabe lamentar pelo que foram e pelo que se tornaram.

E resistir. Resistir sempre. Resistir para acordar as consciências ainda adormecidas para que, juntos, finquemos o pé no terreno que está do lado certo da história, mesmo que o chão trema e ameace de novo nos engolir.

Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder, como é próprio dos que não tem caráter, princípios ou utopias a conquistar. Luto pela democracia, pela verdade e pela justiça. Luto pelo povo do meu País, pelo seu bem-estar.

Muitos hoje me perguntam de onde vem a minha energia para prosseguir. Vem do que acredito. Posso olhar para trás e ver tudo o que fizemos. Olhar para a frente e ver tudo o que ainda precisamos e podemos fazer. O mais importante é que posso olhar para mim mesma e ver a face de alguém que, mesmo marcada pelo tempo, tem forças para defender suas ideias e seus direitos.

Sei que, em breve, e mais uma vez na vida, serei julgada. E é por ter a minha consciência absolutamente tranquila em relação ao que fiz, no exercício da Presidência da República que venho pessoalmente à presença dos que me julgarão. Venho para olhar diretamente nos olhos de Vossas Excelências, e dizer, com a serenidade dos que nada tem a esconder que não cometi nenhum crime de responsabilidade. Não cometi os crimes dos quais sou acusada injusta e arbitrariamente.

Hoje o Brasil, o mundo e a história nos observam e aguardam o desfecho deste processo de impeachment.

No passado da América Latina e do Brasil, sempre que interesses de setores da elite econômica e política foram feridos pelas urnas, e não existiam razões jurídicas para uma destituição legítima, conspirações eram tramadas resultando em golpes de estado.

O Presidente Getúlio Vargas, que nos legou a CLT e a defesa do patrimônio nacional, sofreu uma implacável perseguição; a hedionda trama orquestrada pela chamada “República do Galeão, que o levou ao suicídio.

O Presidente Juscelino Kubitscheck, que contruiu essa cidade, foi vítima de constantes e fracassadas tentativas de golpe, como ocorreu no episódio de Aragarças.

O presidente João Goulart, defensor da democracia, dos direitos dos trabalhadores e das Reformas de Base, superou o golpe do parlamentarismo mas foi deposto e instaurou-se a ditadura militar, em 1964. Durante 20 anos, vivemos o silêncio imposto pelo arbítrio e a democracia foi varrida de nosso País. Milhões de brasileiros lutaram e reconquistaram o direito a eleições diretas.

Hoje, mais uma vez, ao serem contrariados e feridos nas urnas os interesses de setores da elite econômica e política nos vemos diante do risco de uma ruptura democrática. Os padrões políticos dominantes no mundo repelem a violência explícita. Agora, a ruptura democrática se dá por meio da violência moral e de pretextos constitucionais para que se empreste aparência de legitimidade ao governo que assume sem o amparo das urnas. Invoca-se a Constituição para que o mundo das aparências encubra hipocritamente o mundo dos fatos.

As provas produzidas deixam claro e inconteste que as acusações contra mim dirigidas são meros pretextos, embasados por uma frágil retórica jurídica.

Nos últimos dias, novos fatos evidenciaram outro aspecto da trama que caracteriza este processo de impeachment. O autor da representação junto ao Tribunal de Contas da União que motivou as acusações discutidas nesse processo, foi reconhecido como suspeito pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal. Soube-se ainda, pelo depoimento do auditor responsável pelo parecer técnico, que ele havia ajudado a elaborar a própria representação que auditou. Fica claro o vício da parcialidade, a trama, na construção das teses por eles defendidas.

São pretextos, apenas pretextos, para derrubar, por meio de um processo de impeachment sem crime de responsabilidade, um governo legítimo, escolhido em eleição direta com a participação de 110 milhões de brasileiros e brasileiras. O governo de uma mulher que ousou ganhar duas eleições presidenciais consecutivas.

São pretextos para viabilizar um golpe na Constituição. Um golpe que, se consumado, resultará na eleição indireta de um governo usurpador.

A eleição indireta de um governo que, já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios, quando o povo, nas urnas, escolheu uma mulher para comandar o país. Um governo que dispensa os negros na sua composição ministerial e já revelou um profundo desprezo pelo programa escolhido pelo povo em 2014.

Fui eleita presidenta por 54 milhões e meio de votos para cumprir um programa cuja síntese está gravada nas palavras “nenhum direito a menos”.

O que está em jogo no processo de impeachment não é apenas o meu mandato. O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição.

O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos: os ganhos da população, das pessoas mais pobres e da classe média; a proteção às crianças; os jovens chegando às universidades e às escolas técnicas; a valorização do salário mínimo; os médicos atendendo a população; a realização do sonho da casa própria.

O que está em jogo é o investimento em obras para garantir a convivência com a seca no semiárido, é a conclusão do sonhado e esperado projeto de integração do São Francisco. O que está em jogo é, também, a grande descoberta do Brasil, o pré-sal. O que está em jogo é a inserção soberana de nosso País no cenário internacional, pautada pela ética e pela busca de interesses comuns.

O que está em jogo é a auto-estima dos brasileiros e brasileiras, que resistiram aos ataques dos pessimistas de plantão à capacidade do País de realizar, com sucesso, a Copa do Mundo e as Olimpíadas e Paraolimpíadas.

O que está em jogo é a conquista da estabilidade, que busca o equilíbrio fiscal mas não abre mão de programas sociais para a nossa população.

O que está em jogo é o futuro do País, a oportunidade e a esperança de avançar sempre mais.

Senhoras e senhores senadores,

No presidencialismo previsto em nossa Constituição, não basta a eventual perda de maioria parlamentar para afastar um Presidente. Há que se configurar crime de responsabilidade. E está claro que não houve tal crime.

Não é legítimo, como querem os meus acusadores, afastar o chefe de Estado e de governo pelo “conjunto da obra”. Quem afasta o Presidente pelo “conjunto da obra” é o povo e, só o povo, nas eleições. E nas eleições o programa de governo vencedor não foi este agora ensaiado e desenhado pelo Governo interino e defendido pelos meus acusadores.

O que pretende o governo interino, se transmudado em efetivo, é um verdadeiro ataque às conquistas dos últimos anos.

Desvincular o piso das aposentadorias e pensões do salário mínimo será a destruição do maior instrumento de distribuição de renda do país, que é a Previdência Social. O resultado será mais pobreza, mais mortalidade infantil e a decadência dos pequenos municípios.

A revisão dos direitos e garantias sociais previstos na CLT e a proibição do saque do FGTS na demissão do trabalhador são ameaças que pairam sobre a população brasileira caso prospere o impeachment sem crime de responsabilidade.

Conquistas importantes para as mulheres, os negros e as populações LGBT estarão comprometidas pela submissão a princípios ultraconservadores.

O nosso patrimônio estará em questão, com os recursos do pré-sal, as riquezas naturais e minerárias sendo privatizadas.

A ameaça mais assustadora desse processo de impeachment sem crime de responsabilidade é congelar por inacreditáveis 20 anos todas as despesas com saúde, educação, saneamento, habitação. É impedir que, por 20 anos, mais crianças e jovens tenham acesso às escolas; que, por 20 anos, as pessoas possam ter melhor atendimento à saúde; que, por 20 anos, as famílias possam sonhar com casa própria.

Senhor Presidente Ricardo Lewandowski, Sras. e Srs. Senadores,

A verdade é que o resultado eleitoral de 2014 foi um rude golpe em setores da elite conservadora brasileira.

Desde a proclamação dos resultados eleitorais, os partidos que apoiavam o candidato derrotado nas eleições fizeram de tudo para impedir a minha posse e a estabilidade do meu governo. Disseram que as eleições haviam sido fraudadas, pediram auditoria nas urnas, impugnaram minhas contas eleitorais, e após a minha posse, buscaram de forma desmedida quaisquer fatos que pudessem justificar retoricamente um processo de impeachment.

Como é próprio das elites conservadoras e autoritárias, não viam na vontade do povo o elemento legitimador de um governo. Queriam o poder a qualquer preço.

Tudo fizeram para desestabilizar a mim e ao meu governo.

Só é possível compreender a gravidade da crise que assola o Brasil desde 2015, levando-se em consideração a instabilidade política aguda que, desde a minha reeleição, tem caracterizado o ambiente em que ocorrem o investimento e a produção de bens e serviços.

Não se procurou discutir e aprovar uma melhor proposta para o País. O que se pretendeu permanentemente foi a afirmação do “quanto pior melhor”, na busca obsessiva de se desgastar o governo, pouco importando os resultados danosos desta questionável ação política para toda a população.

A possibilidade de impeachment tornou-se assunto central da pauta política e jornalística apenas dois meses após minha reeleição, apesar da evidente improcedência dos motivos para justificar esse movimento radical.

Nesse ambiente de turbulências e incertezas, o risco político permanente provocado pelo ativismo de parcela considerável da oposição acabou sendo um elemento central para a retração do investimento e para o aprofundamento da crise econômica.

Deve ser também ressaltado que a busca do reequilíbrio fiscal, desde 2015, encontrou uma forte resistência na Câmara dos Deputados, à época presidida pelo Deputado Eduardo Cunha. Os projetos enviados pelo governo foram rejeitados, parcial ou integralmente. Pautas bombas foram apresentadas e algumas aprovadas.

As comissões permanentes da Câmara, em 2016, só funcionaram a partir do dia 5 de maio, ou seja, uma semana antes da aceitação do processo de impeachment pela Comissão do Senado Federal. Os Srs. e as Sras. Senadores sabem que o funcionamento dessas Comissões era e é absolutamente indispensável para a aprovação de matérias que interferem no cenário fiscal e encaminhar a saída da crise.

Foi criado assim o desejado ambiente de instabilidade política, propício a abertura do processo de impeachment sem crime de responsabilidade.

Sem essas ações, o Brasil certamente estaria hoje em outra situação política, econômica e fiscal.

Muitos articularam e votaram contra propostas que durante toda a vida defenderam, sem pensar nas consequências que seus gestos trariam para o país e para o povo brasileiro. Queriam aproveitar a crise econômica, porque sabiam que assim que o meu governo viesse a superá-la, sua aspiração de acesso ao poder haveria de ficar sepultada por mais um longo período.

Mas, a bem da verdade, as forças oposicionistas somente conseguiram levar adiante o seu intento quando outra poderosa força política a elas se agregou: a força política dos que queriam evitar a continuidade da “sangria” de setores da classe política brasileira, motivada pelas investigações sobre a corrupção e o desvio de dinheiro público.

É notório que durante o meu governo e o do Pr Lula foram dadas todas as condições para que estas investigações fossem realizadas. Propusemos importantes leis que dotaram os órgãos competentes de condições para investigar e punir os culpados.

Assegurei a autonomia do Ministério Público, nomeando como Procurador Geral da República o primeiro nome da lista indicado pelos próprios membros da instituição. Não permiti qualquer interferência política na atuação da Polícia Federal.

Contrariei, com essa minha postura, muitos interesses. Por isso, paguei e pago um elevado preço pessoal pela postura que tive.

Arquitetaram a minha destituição, independentemente da existência de quaisquer fatos que pudesse justificá-la perante a nossa Constituição.

Encontraram, na pessoa do ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha o vértice da sua aliança golpista.

Articularam e viabilizaram a perda da maioria parlamentar do governo. Situações foram criadas, com apoio escancarado de setores da mídia, para construir o clima político necessário para a desconstituição do resultado eleitoral de 2014.

Todos sabem que este processo de impeachment foi aberto por uma “chantagem explícita” do ex-Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, como chegou a reconhecer em declarações à imprensa um dos próprios denunciantes. Exigia aquele parlamentar que eu intercedesse para que deputados do meu partido não votassem pela abertura do seu processo de cassação.

Nunca aceitei na minha vida ameaças ou chantagens. Se não o fiz antes, não o faria na condição de Presidenta da República. É fato, porém, que não ter me curvado a esta chantagem motivou o recebimento da denúncia por crime de responsabilidade e a abertura deste d processo, sob o aplauso dos derrotados em 2014 e dos temerosos pelas investigações.

Se eu tivesse me acumpliciado com a improbidade e com o que há de pior na política brasileira, como muitos até hoje parecem não ter o menor pudor em fazê-lo, eu não correria o risco de ser condenada injustamente.

Quem se acumplicia ao imoral e ao ilícito, não tem respeitabilidade para governar o Brasil. Quem age para poupar ou adiar o julgamento de uma pessoa que é acusada de enriquecer às custas do Estado brasileiro e do povo que paga impostos, cedo ou tarde, acabará pagando perante a sociedade e a história o preço do seu descompromisso com a ética.

Todos sabem que não enriqueci no exercício de cargos públicos, que não desviei dinheiro público em meu proveito próprio, nem de meus familiares, e que não possuo contas ou imóveis no exterior. Sempre agi com absoluta probidade nos cargos públicos que ocupei ao longo da minha vida.

Curiosamente, serei julgada, por crimes que não cometi, antes do julgamento do ex-presidente da Câmara, acusado de ter praticado gravíssimos atos ilícitos e que liderou as tramas e os ardis que alavancaram as ações voltadas à minha destituição.

Ironia da história? Não, de forma nenhuma. Trata-se de uma ação deliberada que conta com o silêncio cúmplice de setores da grande mídia brasileira.

Viola-se a democracia e pune-se uma inocente. Este é o pano de fundo que marca o julgamento que será realizado pela vontade dos que lançam contra mim pretextos acusatórios infundados.

Estamos a um passo da consumação de uma grave ruptura institucional. Estamos a um passo da concretização de um verdadeiro golpe de Estado.

Senhoras e Senhores Senadores,

Vamos aos autos deste processo. Do que sou acusada? Quais foram os atentados à Constituição que cometi? Quais foram os crimes hediondos que pratiquei?

A primeira acusação refere-se à edição de três decretos de crédito suplementar sem autorização legislativa. Ao longo de todo o processo, mostramos que a edição desses decretos seguiu todas as regras legais. Respeitamos a previsão contida na Constituição, a meta definida na LDO e as autorizações estabelecidas no artigo 4° da Lei Orçamentária de 2015, aprovadas pelo Congresso Nacional.

Todas essas previsões legais foram respeitadas em relação aos 3 decretos. Eles apenas ofereceram alternativas para alocação dos mesmos limites, de empenho e financeiro, estabelecidos pelo decreto de contingenciamento, que não foram alterados. Por isso, não afetaram em nada a meta fiscal.

Ademais, desde 2014, por iniciativa do Executivo, o Congresso aprovou a inclusão, na LDO, da obrigatoriedade que qualquer crédito aberto deve ter sua execução subordinada ao decreto de contingenciamento, editado segundo as normas estabelecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. E isso foi precisamente respeitado.

Não sei se por incompreensão ou por estratégia, as acusações feitas neste processo buscam atribuir a esses decretos nossos problemas fiscais. Ignoram ou escondem que os resultados fiscais negativos são consequência da desaceleração econômica e não a sua causa.

Escondem que, em 2015, com o agravamento da crise, tivemos uma expressiva queda da receita ao longo do ano — foram R$ 180 bilhões a menos que o previsto na Lei Orçamentária.

Fazem questão de ignorar que realizamos, em 2015, o maior contingenciamento de nossa história. Cobram que, quando enviei ao Congresso Nacional, em julho de 2015, o pedido de autorização para reduzir a meta fiscal, deveria ter imediatamente realizado um novo contingenciamento. Não o fiz porque segui o procedimento que não foi questionado pelo Tribunal de Contas da União ou pelo Congresso Nacional na análise das contas de 2009.

Além disso, a responsabilidade com a população justifica também nossa decisão. Se aplicássemos, em julho, o contingenciamento proposto pelos nossos acusadores cortaríamos 96% do total de recursos disponíveis para as despesas da União. Isto representaria um corte radical em todas as dotações orçamentárias dos órgãos federais. Ministérios seriam paralisados, universidades fechariam suas portas, o Mais Médicos seria interrompido, a compra de medicamentos seria prejudicada, as agências reguladoras deixariam de funcionar. Na verdade, o ano de 2015 teria, orçamentariamente, acabado em julho.

Volto a dizer: ao editar estes decretos de crédito suplementar, agi em conformidade plena com a legislação vigente. Em nenhum desses atos, o Congresso Nacional foi desrespeitado. Aliás, este foi o comportamento que adotei em meus dois mandatos.

Somente depois que assinei estes decretos é que o Tribunal de Contas da União mudou a posição que sempre teve a respeito da matéria. É importante que a população brasileira seja esclarecida sobre este ponto: os decretos foram editados em julho e agosto de 2015 e somente em outubro de 2015 o TCU aprovou a nova interpretação.

O TCU recomendou a aprovação das contas de todos os presidentes que editaram decretos idênticos aos que editei. Nunca levantaram qualquer problema técnico ou apresentaram a interpretação que passaram a ter depois que assinei estes atos.

Querem me condenar por ter assinado decretos que atendiam a demandas de diversos órgãos, inclusive do próprio Poder Judiciário, com base no mesmo procedimento adotado desde a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2001?

Por ter assinado decretos que somados, não implicaram, como provado nos autos, em nenhum centavo de gastos a mais para prejudicar a meta fiscal?

A segunda denúncia dirigida contra mim neste processo também é injusta e frágil. Afirma-se que o alegado atraso nos pagamentos das subvenções econômicas devidas ao Banco do Brasil, no âmbito da execução do programa de crédito rural Plano Safra, equivale a uma “operação de crédito”, o que estaria vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Como minha defesa e várias testemunhas já relataram, a execução do Plano Safra é regida por uma lei de 1992, que atribui ao Ministério da Fazenda a competência de sua normatização, inclusive em relação à atuação do Banco do Brasil. A Presidenta da República não pratica nenhum ato em relação à execução do Plano Safra. Parece óbvio, além de juridicamente justo, que eu não seja acusada por um ato inexistente.

A controvérsia quanto a existência de operação de crédito surgiu de uma mudança de interpretação do TCU, cuja decisão definitiva foi emitida em dezembro de 2015. Novamente, há uma tentativa de dizer que cometi um crime antes da definição da tese de que haveria um crime. Uma tese que nunca havia surgido antes e que, como todas as senhoras e senhores senadores souberam em dias recentes, foi urdida especialmente para esta ocasião.

Lembro ainda a decisão recente do Ministério Público Federal, que arquivou inquérito exatamente sobre esta questão. Afirmou não caber falar em ofensa à lei de responsabilidade fiscal porque eventuais atrasos de pagamento em contratos de prestação de serviços entre a União e instituições financeiras públicas não são operações de crédito.

Insisto, senhoras senadoras e senhores senadores: não sou eu nem tampouco minha defesa que fazemos estas alegações. É o Ministério Público Federal que se recusou a dar sequência ao processo, pela inexistência de crime.

Sobre a mudança de interpretação do TCU, lembro que, ainda antes da decisão final, agi de forma preventiva. Solicitei ao Congresso Nacional a autorização para pagamento dos passivos e defini em decreto prazos de pagamento para as subvenções devidas. Em dezembro de 2015, após a decisão definitiva do TCU e com a autorização do Congresso, saldamos todos os débitos existentes.

Não é possível que não se veja aqui também o arbítrio deste processo e a injustiça também desta acusação.

Este processo de impeachment não é legítimo. Eu não atentei, em nada, em absolutamente nada contra qualquer dos dispositivos da Constituição que, como Presidenta da República, jurei cumprir. Não pratiquei ato ilícito. Está provado que não agi dolosamente em nada. Os atos praticados estavam inteiramente voltados aos interesses da sociedade. Nenhuma lesão trouxeram ao erário ou ao patrimônio público.

Volto a afirmar, como o fez a minha defesa durante todo o tempo, que este processo está marcado, do início ao fim, por um clamoroso desvio de poder.

É isto que explica a absoluta fragilidade das acusações que contra mim são dirigidas.

Tem-se afirmado que este processo de impeachment seria legítimo porque os ritos e prazos teriam sido respeitados. No entanto, para que seja feita justiça e a democracia se imponha, a forma só não basta. É necessário que o conteúdo de uma sentença também seja justo. E no caso, jamais haverá justiça na minha condenação.

Ouso dizer que em vários momentos este processo se desviou, clamorosamente, daquilo que a Constituição e os juristas denominam de “devido processo legal”.

Não há respeito ao devido processo legal quando a opinião condenatória de grande parte dos julgadores é divulgada e registrada pela grande imprensa, antes do exercício final do direito de defesa.

Não há respeito ao devido processo legal quando julgadores afirmam que a condenação não passa de uma questão de tempo, porque votarão contra mim de qualquer jeito.

Nesse caso, o direito de defesa será exercido apenas formalmente, mas não será apreciado substantivamente nos seus argumentos e nas suas provas. A forma existirá apenas para dar aparência de legitimidade ao que é ilegítimo na essência.

Senhoras e senhores senadores,

Nesses meses, me perguntaram inúmeras vezes porque eu não renunciava, para encurtar este capítulo tão difícil de minha vida.

Jamais o faria porque tenho compromisso inarredável com o Estado Democrático de Direito.

Jamais o faria porque nunca renuncio à luta.

Confesso a Vossas Excelências, no entanto, que a traição, as agressões verbais e a violência do preconceito me assombraram e, em alguns momentos, até me magoaram. Mas foram sempre superados, em muito, pela solidariedade, pelo apoio e pela disposição de luta de milhões de brasileiras e brasileiros pelo País afora. Por meio de manifestações de rua, reuniões, seminários, livros, shows, mobilizações na internet, nosso povo esbanjou criatividade e disposição para a luta contra o golpe.

As mulheres brasileiras têm sido, neste período, um esteio fundamental para minha resistência. Me cobriram de flores e me protegeram com sua solidariedade. Parceiras incansáveis de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostraram suas garras, as brasileiras expressaram, neste combate pela democracia e pelos direitos, sua força e resiliência. Bravas mulheres brasileiras, que tenho a honra e o dever de representar como primeira mulher Presidenta do Brasil.

Chego à última etapa desse processo comprometida com a realização de uma demanda da maioria dos brasileiros: convocá-los a decidir, nas urnas, sobre o futuro de nosso País. Diálogo, participação e voto direto e livre são as melhores armas que temos para a preservação da democracia.

Confio que as senhoras senadoras e os senhores senadores farão justiça. Tenho a consciência tranquila. Não pratiquei nenhum crime de responsabilidade. As acusações dirigidas contra mim são injustas e descabidas. Cassar em definitivo meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política.

Este é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus. Na primeira vez, fui condenada por um tribunal de exceção. Daquela época, além das marcas dolorosas da tortura, ficou o registro, em uma foto, da minha presença diante de meus algozes, num momento em que eu os olhava de cabeça erguida enquanto eles escondiam os rostos, com medo de serem reconhecidos e julgados pela história.

Hoje, quatro décadas depois, não há prisão ilegal, não há tortura, meus julgadores chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência. Tenho por todos o maior respeito, mas continuo de cabeça erguida, olhando nos olhos dos meus julgadores.

Apesar das diferenças, sofro de novo com o sentimento de injustiça e o receio de que, mais uma vez, a democracia seja condenada junto comigo. E não tenho dúvida que, também desta vez, todos nós seremos julgados pela história.

Por duas vezes vi de perto a face da morte: quando fui torturada por dias seguidos, submetida a sevícias que nos fazem duvidar da humanidade e do próprio sentido da vida; e quando uma doença grave e extremamente dolorosa poderia ter abreviado minha existência.

Hoje eu só temo a morte da democracia, pela qual muitos de nós, aqui neste plenário, lutamos com o melhor dos nossos esforços.

Reitero: respeito os meus julgadores.

Não nutro rancor por aqueles que votarão pela minha destituição.

Respeito e tenho especial apreço por aqueles que têm lutado bravamente pela minha absolvição, aos quais serei eternamente grata.

Neste momento, quero me dirigir aos senadores que, mesmo sendo de oposição a mim e ao meu governo, estão indecisos.

Lembrem-se que, no regime presidencialista e sob a égide da nossa Constituição, uma condenação política exige obrigatoriamente a ocorrência de um crime de responsabilidade, cometido dolosamente e comprovado de forma cabal.

Lembrem-se do terrível precedente que a decisão pode abrir para outros presidentes, governadores e prefeitos. Condenar sem provas substantivas. Condenar um inocente.

Faço um apelo final a todos os senadores: não aceitem um golpe que, em vez de solucionar, agravará a crise brasileira.

Peço que façam justiça a uma presidenta honesta, que jamais cometeu qualquer ato ilegal, na vida pessoal ou nas funções públicas que exerceu. Votem sem ressentimento. O que cada senador sente por mim e o que nós sentimos uns pelos outros importa menos, neste momento, do que aquilo que todos sentimos pelo país e pelo povo brasileiro.

Peço: votem contra o impeachment. Votem pela democracia.

Muito obrigada.

Dilma Rousseff

Grupo BertrandCírculo na Festa do Livro de Belém

O Grupo BertrandCírculo, composto pelas editoras Bertrand, Pergaminho, Quetzal, Temas e Debates, ArtePlural, GestãoPlus, Livros de Bolso 11X17 e Círculo de Leitores, estará presente na Festa do Livro de Belém, que decorrerá entre 1 e 4 de setembro no Palácio Nacional de Belém.

Com centenas de livros disponíveis dos vários selos editoriais, o Grupo BertrandCírculo contará ainda com a presença de três autores para a realização de sessões de autógrafos: a 2 de setembro, entre as 18h e as 19h, Álvaro Laborinho Lúcio, autor de «O Chamador», editado pela Quetzal Editores; a 3 de setembro, entre as 16h e as 17h, Bruno Vieira Amaral, autor de «As Primeiras Coisas», editado pela Quetzal Editores, Prémio Literário José Saramago 2015, Prémio Literário Fernando Namora 2013, Prémio PEN Clube Narrativa 2013, Livro do Ano 2013 | Revista Time Out e Prémio Novos 2013, na categoria Literatura; e a dia 4 de setembro, em hora a confirmar, Manuela Gonzaga, autora de «Xerazade – A Última Noite»; «Moçambique, para a Mãe se Lembrar como Foi», «Imperatriz Isabel de Portugal», «Meu Único Grande Amor: Casei-me» e «Doida Não e Não! – Maria Adelaide Coelho da Cunha», editados pela Bertrand Editora.

Promovida pela Presidência da República e pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, esta iniciativa pretende celebrar os autores de língua portuguesa. O evento abre as portas na quinta-feira, 1 de setembro, e termina no domingo, 4 de setembro.