Caminho das pedras | Domingos da Mota Publicado em 2017/08/15 por DasLetrasO chão que pisas, chão de terra Dura, saibro, seixos, pedras, erva Seca, tojo e urtigas, E a secura das pernas A correr Ceca e Meca, E as pegadas visíveis dos sapatos E o rasto das sandálias e […]
Segundo Poema de Natal | Domingos da Mota Publicado em 2016/12/28 por DasLetrasPudesse do Natal dizer que é mais que o corre-corre, que a lufa-lufa, que a passada célere demais, que a mole humana que se adensa e arrufa e satura nos amplos corredores, nas ruas e nas lojas, nos […]
Ninguém | Domingos da Mota Publicado em 2016/07/30, atualizado em 2016/07/30 por DasLetrasHá-de chegar o dia em que ninguém se lembrará de ti – e, de passagem, quase todos depois serão também esquecidos no meio da voragem que aprofunda a imensa desmemória e mesmo que algumas das pegadas tenham marcas […]
Como um fósforo | Domingos da Mota Publicado em 2016/07/17, atualizado em 2016/07/17 por DasLetrasVai de mal a pior este começo: traçado o azimute, nesse rumo, não quero estar na pele, pagar o preço do frio que virá depois do fumo, pois se fogo sem fumo não existe, tanto fogo-de-vista, mesmo preso, […]
Branco no branco | Domingos da Mota Publicado em 2016/06/26, atualizado em 2016/06/26 por DasLetras Narciso e biombo Um o outro ilumina Branco no branco Matsuo Bashô Sendo a sombra da sombra duma alvura mais branca que a brancura, dia-a-dia, cujo branco no branco é […]
Vesânia | Domingos da Mota Publicado em 2016/05/11, atualizado em 2016/05/11 por DasLetrasQuando julgas que tens o santo-e-senha para acender nos lábios um sorriso ou suster uma lágrima que venha marejar bruscamente, sem aviso; e te sentes imune, fleumático, perante os mais inóspitos delírios e carregas o cenho sorumbático e […]
Soneto de Natal | Domingos da Mota Publicado em 2015/12/29 por DasLetras Dissesse do Natal o muito que se olha sem se ver, aquando e onde o outro é transparente, como se fosse um corpo invisível que se esconde, alheio à roda-viva de quem estuga o passo pra […]
Epitáfio | Domingos da Mota Publicado em 2015/12/07 por DasLetras Ainda que a visão se não abrume lá chegarás pois atingida a meta a passagem dará para o negrume negrume abrupto essa luz secreta que sendo luz abarcará as trevas podendo transformar-se em fogo ou […]
A Balada de Narayama | Domingos da Mota Publicado em 2015/11/22, atualizado em 2015/11/22 por DasLetras (Narayama-Bushiko, Shohei Imamura, 1983) O tempo urge. E a montanha além já te vê com os olhos pedregosos; se a quiseres subir, não tens ninguém que te ponha no cimo. Sinuosos são os trilhos perversos […]
Soneto familiar | Domingos da Mota Publicado em 2015/11/22, atualizado em 2015/11/23 por DasLetras Minhas duas irmãs éramos três, minha mãe e meu pai éramos cinco. Armando Pinheiro Os meus catorze irmãos éramos quinze, dezassete juntando a mãe e o pai. Haverá quem aprove e quem ranzinze e torça […]
Cogitação profunda do Sr. S. sobre o estado-a-que-isto-chegou | Domingos da Mota Publicado em 2015/10/26 por DasLetras Aturo a democracia dos que votam em quem voto. Quanto aos outros, com a azia, sinto náuseas se noto uma tendência, diria, com laivos que não tolero, que ameace as conezias dos parceiros que venero. Como […]
Como um foco | Domingos da Mota Publicado em 2015/10/09 por DasLetras Ainda que o despisses, onde e quando exibes o sorriso e assim desnudo o teu sorriso fosse sobretudo como um foco de luz que ofuscando disfarçasse a perfídia, o engodo que se ocultam atrás de mil […]
Lembrança | Domingos da Mota Publicado em 2015/10/03, atualizado em 2015/10/03 por DasLetras Se depois de passada a vida a limpo, com sabão ou lixívia ou aguarrás, eliminando as nódoas do garimpo ou doutros veios sujos, for capaz de atingir claramente o desapego, ainda que o presente e o […]
A colheita | Domingos da Mota Publicado em 2015/09/24, atualizado em 2015/09/24 por DasLetras O pouco que sobrou de quase nada Manuel Alberto Valente Quase nada é pouco, mas o pouco é tanto que apesar de pouco sobrepuja e quanto o nada que sendo quase […]
Aylan Kurdi | Domingos da Mota Publicado em 2015/09/14 por DasLetras Arrastado na fuga para a vala comum que aprofunda a crueldade, foragido da guerra ou duma bala perdida nos confins da iniquidade, ao dar à costa, depois do naufrágio, o corpo exangue do menino morto agravou […]
Oração das Vésperas | Domingos da Mota Publicado em 2015/07/29, atualizado em 2015/07/29 por DasLetras Fazei, Senhor, com que os velhos se esqueçam da pancada, do rombo que levaram; que a amnésia se agrave e permaneçam em busca dos tostões que amealharam, de que foram sacados, despojados no altar de voláteis […]
Natureza morta com pé-de-chumbo | Domingos da Mota Publicado em 2015/05/19, atualizado em 2015/05/19 por DasLetras Fosse a vida cor-de-rosa, e fosse a rosa vermelha, e não a flor zelosa de apertar a cravelha; mostrasse o sal na ferida aberta assim como se fosse uma chaga que a vida contaminou desde que […]
Soneto da insanidade | Domingos da Mota Publicado em 2015/04/18 por DasLetras Como se trapos revelhos os velhos, cujo saber não é tido nos conselhos, nas decisões de poder desta gente obstinada em maltratá-los sem dó nem piedade de cada vez que apertam o nó, sem medir a […]
Natureza morta | Domingos da Mota Publicado em 2015/04/06 por DasLetras Esgotado o filão, perdido o rasto do veio que chegou até ao fundo, no mais fundo poço, o ar nefasto contagia os pulmões, torna-se imundo e logo sufocante. E, ademais, os gases venenosos, poluentes, empestam as […]
Oh! | Domingos da Mota Publicado em 2015/03/27 por DasLetras Da leveza das pernas, oh, o vértice; oh, a boca do corpo, se a vertigem alucina o desejo sem um óbice, um óbice que seja duma virgem; do vértice do corpo, dessa boca que incendeia a […]
Fuga | Domingos da Mota Publicado em 2015/03/22, atualizado em 2015/03/22 por DasLetras Sem dizer ao que vinha, foi-se embora em busca doutra face, doutro ombro; ao menos que partisse em boa hora, levada pelo pasmo, pelo assombro, mas temo que não tenha sido isso, e fique sem poder […]