Fuga | Domingos da Mota

 

 

Sem dizer ao que vinha, foi-se embora
em busca doutra face, doutro ombro;
ao menos que partisse em boa hora,
levada pelo pasmo, pelo assombro,

mas temo que não tenha sido isso,
e fique sem poder entabular
uma conversa a dois, dado o sumiço
de quem se afasta assim, sem avisar,

pois anda tudo numa roda-viva,
e quando te apercebes, pelas costas,
a vida que passou por ti altiva
apressa o andamento, enquanto arrostas

com a vaga esperança de que a fuga
abrande o passo, quando o passo estuga.

Domingos da Mota

[inédito]