Os orfanatos de Ceausescu

Depois de prémios e nomeações várias, Ana Cristina Silva regressa à publicação com um romance, A Noite não É Eterna, cuja acção decorre nos anos de chumbo da Roménia, sob o jugo do ditador Nicolae Ceausescu, com a população enfraquecida pela fome e dominada pelo terror. Seguindo as orientações do Presidente para a criação de um exército no qual os soldados são treinados desde crianças, Paul, um ambicioso funcionário do partido, decide levar de casa o filho de três anos e entregá-lo aos cuidados do Estado.

ler mais em Horas Extraordinárias, de Maria do Rosário Pedreira.

 

Fronteira regressa a Castelo Branco entre os dias 7 e 9 de abril.

A quarta edição do Fronteira — Festival Literário de Castelo Branco acaba de ser anunciada. Numa edição em que irão debater-se antagonismos e cumplicidades entre a ficção e a poesia, nas letras como na música, cabe a autores como Manuel Alegre, Matilde Campilho, José Eduardo Agualusa,Inês Pedrosa, Nuno Júdice ou Luís Represas o papel de … Continuar a ler
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Pequeno ensaio sobre a coisificação | Domingos da Mota

                        E tu que és mulher de corpo Inteiro, quiçá fisicamente apelativa, como pede e cobiça, sobranceiro, quem pretende explorar-te, em carne viva (condição do anúncio que sugere, para quem se quiser candidatar, que seja bem mais coisa que mulher, um objecto pronto a … Continuar a ler
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Direito e Justiça | Adelto Gonçalves | por Anderson Braga Horta

O estudo da história pátria é válido, entre outras razões, pelas implícitas no imperativo do oráculo, que o vai buscar nas palavras do sábio: Nosce te ipsum. Encarar nossas mazelas, mergulhar em suas origens, traçar o seu perfil diacrônico – eis o caminho ideal para compreendê-las, lutar contra elas, transcendê-las. Na trilha de investigações como … Continuar a ler
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Dois portugueses recebem 4,15 milhões de euros em bolsas europeias

Um dos projectos financiados pelo Conselho Europeu de Investigação é na área da física e o outro na das ciências sociais e humanas. Luís Oliveira e Silva, professor catedrático do Departamento de Física e presidente do conselho científico do Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, acaba de obter uma bolsa de 1,950 milhões de euros … Continuar a ler
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Instituto Superior Técnico | Teseu Quântico encontra Minotauro mais rapidamente

Imagine que está perdido num labirinto à procura da saída. Ou que é o antigo herói grego Teseu à procura do Minotauro. Será que a utilização de um computador quântico, que pode explorar todos os caminhos em paralelo graças ao princípio da sobreposição quântica, torna mais rápida a forma de encontrar a solução? A resposta … Continuar a ler
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O Rio Com Regresso – Ensaios Camilianos | Maria Alzira Seixo

Este conjunto de estudos é constituído por dez ensaios que analisam individualmente aspectos bastante diversos, mas todos eles importantes, da obra de um dos maiores prosadores da literatura portuguesa, Camilo Castelo Branco. Nele se encontram de igual modo tratados temas mais amplos, como o lugar da novela camiliana no panorama histórico-literário português ou a problemática do feminino na obra do escritor, e tópicos mais aprofundados que dizem respeito a um determinado texto, como a análise da personagem Maria Moisés da novela homónima do segundo volume das Novelas do Minho. Este é, pois, um livro que tanto pode interessar aos apreciadores da obra do escritor, como também a todos aqueles que se dedicam ao estudo da ficção no geral e de aspectos da teoria da narrativa e do romance em particular.

A Noite não é eterna | Ana Cristina Silva

A Roménia, sob o jugo do ditador Nicolae Ceausescu, atravessa um dos piores períodos da sua história, com a sua população a enfrentar a fome e dominada pelo terror. Seguindo as orientações do Presidente para a criação de um exército do povo no qual os soldados seriam treinados desde crianças, Paul, um ambicioso funcionário do partido, decide levar de casa o filho de três anos e entregá-lo aos cuidados do Estado. Quando a mãe se apercebe do desaparecimento do pequeno Drago, o desespero já não a abandonará, bem como o firme desejo de acabar com a vida do marido.
Correndo riscos tremendos, Nadia não desistirá, porém, de procurar o menino, ainda que para isso tenha de forjar uma nova identidade, de fazer falsas denúncias, de correr os orfanatos cujas imagens terríveis chocaram o mundo e até de integrar uma rede que transporta clandestinamente crianças romenas seropositivas para o Ocidente. Mas será que o seu sofrimento pode ser apaziguado enquanto Paul for vivo? Enquanto o ditador for vivo?

mcsilva

A MULHER E A DANÇA | Casimiro de Brito

 

 

As mulheres dançam.
Os homens navegam. São ondas
do mesmo rio.

O amor é sinónimo de dança,
de mudança. Quando amo sou,
em cada momento, diferente. Uma flor
que trepa. Nunca o Um
foi tão Múltiplo como na festa labiríntica
do amor. Um caminho
que não tem fim. Uma cerimónia
que nunca se repete.

Quem respira
dança. Quem ama
respira um pouco mais.

AL – GARBE | Soledade Martinho Costa

 

 

Castrados de seiva

Lembrados de outros silêncios

E outros passos

Acesa na memória dos olhos

A imagem dos cerros ateados

No calor de Julho:

 

O avatar do tempo

Num sono de princesa

Ao Sol

No dorso dos lagartos.

 

Das copas

O verde das figueiras

Curvado

Num beijo de sombra

Pelo chão.

 

A terra

Labirinto de frestas

Em agonias de sede milenária

Sob a coroa rubra das romãs.

 

De veludo

Gémeos

Os frutos

Na folhagem das amendoeiras.

 

Invisível

O canto das cigarras

No sortilégio mouro das manhãs.

 

Soledade Martinho Costa

Do livro «Poemas do Sol e da Cal»

Ed. Editorial Presença

A Memória de Shakespeare e Nove Ensaios Dantescos, Jorge Luis Borges

A ideia para este conto terá surgido a Borges durante um sonho. Tudo o resto ter-se-á desvanecido, exceto a frase: «Eu vendo-lhe a memória de Shakespeare.» A partir daí, Borges construiu esta extraordinária história em que Hermann Soergel, um estudioso de Shakespeare, encontra um homem, Daniel Thorpe, que afirma ter a memória de Shakespeare e o dom de poder passá-la a quem a quiser receber. E Soergel desejou-o, não sabendo, porém, que chamava a si uma maldição. É este conto homónimo que dá título ao primeiro conjunto de ficções deste volume.

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Só sei que foi amor | Maria Isabel Fidalgo

 

 

 

Só sei que foi amor
a farpa aguda do teu ser
e que derramei no mar e nos caminhos
o sofrimento doloroso que passei
no trilho dos espinhos.
Hoje interrogo-me baixinho
se valeu a pena essa epopeia
de versos dolorosos
escritas ao sabor da minha pena.
Não sei.
Só sei que pergunto ao vento ao rio à ave
a rota do teu voo
e que na amplitude da manhã
no fervor da dor
a asa escreve outro poema.

maria isabel fidalgo

O Meças, de J. Rentes de Carvalho

Romance inédito que conta a história de António Roque, homem atormentado, possesso do demónio de funestas memórias. As imagens do passado que regularmente se apoderam dele transformam-no num monstro capaz dos piores actos. No entanto, a obscura história da irmã e do homem abastado que se servia dela e que, apesar de morto, continua a instigar-lhe um ódio devastador, não é exatamente como ele pensa que se lembra.

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Os Memoráveis, de Lídia Jorge

Dois homens falam entre si. Falam em inglês e, ocasionalmente, mencionam uma mulher como se ela estivesse ausente. O mais velho, o antigo embaixador, convida a portuguesa a juntar-se-lhes, pretende lançar um desafio: recolher o resto da metralha entalada entre as pedras da calçada portuguesa. A metralha que se solta em todas as revoluções, mesmo quando feitas por um povo tão sensato como o português. Red carnations recorda, após algum esforço, o nome da flor que enfeitou os canos das armas.

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EXCERTO | Soledade Martinho Costa

«Gosto das crónicas de diversos autores, mas gosto igualmente, de me perder […] noutro género de livros, de outras obras. E digo perder-me, porque assim é. Perder-me no labirinto da criatividade. Perder-me e voltar a encontrar-me no enredo, na vida das suas personagens. Agarrá-las, deixá-las ir e reencontrá-las. O escritor a (parecer) brincar às escondidas. Por vezes, a desconexão coerente da escrita, ora para cá, ora para lá, numa dança onde as palavras são música tocada por muitos pensamentos. Controlados, ou loucos, numa vertigem de sabedoria, numa imaginativa de arquitecto que projecta, inventa e reinventa, num rigor que baila ao sabor dessa música misteriosa regida pela batuta (caneta, teclado?) que dirige a sua mão. Perco-me e perco-me. E volto a perder-me. E volto atrás. Às vezes, volto atrás. Releio outra vez e outra. E entendo depois. E prossigo a leitura em busca de mais enigmas, da ponta da meada, de mais palavras desconcertantes, impenetrantes, onde possa pousar a preferência dos meus olhos e a exactidão do meu entendimento. Geralmente, agradam-me os títulos, a não destoar dos conteúdos. […]. Sim, gosto de certos estilos de escrita a lembrar, nas linhas das páginas, as teclas de um piano envolto no enigma e no sortilégio de um segredo. Fico a pensar. Fico indecisa. Por momentos, as linhas ganham-me na corrida. E torno à parte cimeira da página, a descê-la devagar. A despi-la devagarinho. Por completo. Para finalmente a entender. Para conseguir acompanhar o seu passo, o seu objectivo, com o autor a expressar-se de modo a tornar difícil, difícil, a sua leitura. E o prazer que dá entendê-la? Por fim, acabar por entendê-la? É um exercício mental. Um esforço recompensado. Sim, é isso. Mas um prazer desusado ler livros assim.»

Soledade Martinho Costa 

Do livro «Uma Estátua no Meu Coração»

Edições Vela Branca