Inquieta-me a lucidez de certas horas. Como dizer? Tudo nelas é perfeito e claro e inabalável até à dor. A realidade põe-se a subir sorrateira pelo corpo fusiforme de sonhos e desejos. Mata-os! É perigoso […]
Antes de todas as coisas era a escuridão. Era o frio que me doía nas mãos, era a lenta passagem das horas nos relógios de todos os invernos. Depois tu vieste e […]
por vezes percorro jardins de calcário e sinto pena ao ver as estátuas de pedra perecer sem um gesto de libertação. mas aquele menino talhado na rocha, não! farto de […]
daquilo que passou nada te prenda não tenhas pena do que foi do que não foste. inútil todo o lamento. sê breve agora nos sonhos e nos desejos para que te […]
preciso de ti agora que as palavras me afloram com o sabor ocre da terra rugosas como fragas com cheiro a resina e a musgo. deixam nos ombros a friagem húmida […]
por mais que se saiba graníticoo chão desta terra que nos tem impossível não amá-la. é nestas oliveiras, nestes penhascos nestes campos abertos aos ventos aos corvos aos fenos que […]
cá nesta manhã de brumas em que penso o canto das aves suspeito que me farão falta lá sim é preciso pensar o canto das aves para poder amá-las enquanto me […]
madrigais de pássaros baloiçam desatentos nos ramos da magnólia estou aqui do lado de dentro desta manhã de maio e sei que maio é atemporal maio tem hoje o rosto […]
Havia uma intenção madura de traduzir a terra escutar-lhe a correnteza da seiva o despertar lento da semente a obediência das raízes. Para dizer o indizível onde buscar as palavras? […]
sou agora toda em ti, Poesia e se tanto fica por dizer é porque me é pouca a fala. e se alguma coisa fica por viver… quem disso há de querer […]
“Fuir! là-bas fuir!” que podereis saber do sol se deixais arrefecer nas mãos o mais leve indício de primavera? da luz não tocais o oiro nem da escuridão o breu […]
Aquele banco de jardim abrigado pela árvore tem histórias p’ra contar. Fala de pássaros, de ninhos, de meninos a brincar. Fala de um velhinho que reparte pelos pombos saquinhos de afeição: […]
dizes saber de cor o rio que corre em frente da tua janela dizes que as cantigas da água são sempre líquidas e insípidas e que do canto das aves resta […]
Lídia Borges é o pseudónimo literário de Olívia Maria B. G. Marques, nascida em Braga, onde desenvolveu a sua atividade profissional como professora do 1.º Ciclo até 2009. É mestre em Teoria da […]
As mãos vazias de temporais, de tragédias, de grandezas, regressam da cidade sem promessas de paz ou abundância. Nos campos, a ondulação do pão perdeu-se do vento e nas casas portas […]