| Maria Isabel Fidalgo

 

 

Se eu perder a inspiração
cobre-me de novo com os teus olhos
alados de flores
para que cresçam poemas em pântanos secos
com compassos de rimas perfumadas
Se eu perder a inspiração
abre estrelas na escuridão do tempo
e ilumina de sílabas o sarro das palavras sujas
como astros de fogo
na doce transpiração da noite
Se eu perder a inspiração
canta-me uma cantiga galega
ao levantar da alba
com o corpo húmido
de amor
e busca-me na fonte
onde vou lavar camisas
alba eu menina
de minha mãe
filha velida
Se eu perder a inspiração
e formos pelo inverno dentro
protege-me do gelo
e traz-me a tua voz manselinha
caiada de trevos à beira da ermida
onde te aguardo rodeada de ondas
que altas são
para me afogar no mar alto
antes do rio.

maria isabel fidalgo