2º episódio – O MÊNSTRUO MÁGICO DAS ORQUÍDEAS GRÁVIDAS – Folhetim em setenta episódios

O vento balança a cortina, deixa escapar fragmentos de fora, a mãe prende a roupa no varal, eu ao lado, cesta com pregadores nas mãos, ela percebe que desvio o rosto quando prende a calcinha. Ao retornar da clausura encontro seus olhos rindo de mim, de minha vergonha, de meu rosto vermelho. Não gostava nenhum pouco da reação dela, não sabia que pensamentos levavam-me àquela reclusão vergonhosa, encolhendo meu corpo como tatuzinho-de-quintal. Era o desejo, sentia-se atraído pelas calcinhas, você adora cheirá-las, roçar o rosto com elas. Sempre foi sua tese… E deve ter razão, ressuscitasse a conheceria pelo cheiro. E pela panturrilha, fugia da calcinha encontrava a barriga das pernas… De Greta Garbo. Depreciação chamar aquilo de barriga. E os cabelos? Ondulando na testa, a escorrer rente ao olho. Que olhar de tristeza e gozo era aquele? Que sonhos continham e que não eram alcançados? Mas não era sueca como essa… Talvez fosse. Esta mulher tem algo de nosso passado… Pervertido! Não, apenas falo de nosso primeiro amor, nossa primeira paixão, do cheiro percebido ainda na fase pré-verbal. Não posso aceitar isso… Então fique com as cuecas samba-canção do velho, se é o que deseja. Vá à merda! Do velho sempre quis distância. Lembra quando doente? Foram os melhores tempos… Não tivemos pai, talvez um tirano, constituíamos um agregado, e o modo como ele a tratava… O ar de Greta esvaindo-se lentamente, a sensualidade dando lugar à melancolia, mas os lábios simetricamente resenhados, leves como poeira, majestosos no caixão, única parte dela que na morte manteve a alma. Como os lábios de Carol… Um beijo à distância, lembra-se? Melhor se calar! Você ao lado querendo beijá-la, mas o que pensariam de um filho que beija o cadáver da mãe? Ninguém nunca soube… Você foi até ela, eu tremia, abaixou a cabeça e me fez sentir os lábios dela nos meus. Nem me lembrava… Tem muitas coisas que faz questão de não recordar. Não entenderam nosso repentino interesse pelo cinema depois da morte dela. Não perceberam que a atração era por Khata. Foi um gozo encontrar aquela fotografia, não largava dela por nada, passava de livro em livro… Continue! Até o velho descobrir e fazer picadinho da foto. Mas a imagem até hoje interferindo nas escolhas… As outras foram surgindo ao acaso, Claudia Cardinale de 81/2, Catherine Deneuve… Você adquiriu a mania de nomear as mulheres que cruzavam nossas vidas. E esta se parece com quem? Laura Dern… Desabou, ronca baixinho. Veja como ela para de respirar ao ter o clitóris acariciado, ele endurece, botão intumescido… O clitóris com formato de coração. Também pulsa. O sonho nos traz cada imagem! O coração verdadeiro deve estar no clitóris e na glande, não no tórax. Fruto… No quintal fazíamos sexo oral com as frutas. Lembra-se? Adorávamos brincar com o figo e a manga-rosa. Viemos da mãe dos homens, modo de dizer de Da Graça, expulsos pelo furor uterino. A empregada sabia da malícia carregada pela metáfora. Flagrada nua por diversas vezes. Pelos negros em abundância, os seios em rigidez militar, o bico emergente como um pêssego. Quando nos via, escondia tudo com os braços. Adorava aquele Seus safados! que nos dirigia, desejosa. Você assustado com a floresta. E você tirando sarro de minha reação. Ela sabia sendo espiada. Conhecia esse duplo voyeur. Fugíamos para o quintal, atrás da mangueira, um dia descobrimos não precisar dos frutos, era só massagear, lentamente, depois bem rápido, para cuspir o líquido esbranquiçado e sentir aquela coisa prazerosa e inexplicável no corpo. Veja! O clitóris está durinho, baba secreção pela vagina. E o cheiro de cio.

 

(continua)