FERREIRA GULLAR | 10 setembro 1930 – 04 dezembro 2016

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

O antirromance de quem ainda vai nascer | Silas Corrêa Leite | por Adelto Gonçalves

I

Depois de publicar Goto – o reino encantado do barqueiro noturno do rio Itararé (Joinville-SC: Editora Clube de Autores, 2014), obra nitidamente do século XXI, em que toda a coerência formal da narrativa já foi desrespeitada, o poeta e ficcionista Silas Corrêa Leite ressurge agora com Gute Gute – Barriga Experimental de Repertório (Rio de Janeiro: Editora Autografia, 2015), outro romance pós-moderno, igualmente fragmentado, desintegrado e de linguagem rebelde, que se apresenta como não-romance ou antirromance, assumindo um rompimento definitivo com as fôrmas literárias do Romantismo e do Modernismo.

Conhecido como ciberpoeta, Silas Corrêa Leite, um dos mais originais escritores deste Brasil pós-moderno, surpreende, mais uma vez, com um relato fragmentário de um bebê de altíssimo quociente intelectual (QI) que, ainda no útero materno, mas em fase final de gestação, já demonstra sentimentos, reações e faz citações, algumas de raízes populares e outras de poetas e pensadores famosos. Abusando do recurso da intertextualidade, o romancista faz o seu personagem ainda sem nome questionar não só momentos íntimos da mãe como manifestar algumas reflexões e impressões a respeito do mundo que há de viver fora do útero.

Com tanta originalidade, por certo, Gute Gute – Barriga Experimental de Repertório começa a atrair os leitores desde as primeiras linhas, ao fazer questionamentos sobre termos, canções e sons que o protagonista ouve de dentro da barriga da mãe. Como diz o autor na introdução, o romance trata da relação da criança, ainda na forma fetal, com tudo o que a cerca: “o lar, as barulhanças nos derredores, as tristices e contentezas de formação, as formatações e configurações evolutivas de meio, os sentimentos de base e aprumo, a sensibilidade generalizada de compreender e ser inteirado da vida intrauterina a partir do que rola lá fora, no exterior, a partir do que sente no colmeial do adjacente barrigal”.

Leia-se, por exemplo, este excerto:

“(…) A gente vive aqui dentro pelo menos 9 meses. Parece uma eternidade. E na vida lá fora deve ser dez ou cem vezes isso. Sei não, não vou ser bom de aritmética, matemática. A barriga da natureza-mãe é melhor ou pior? Como o Pai diz, numa graceza lá dele (o velho é bom de bico): o buraco é mais embaixo. Não saquei direito essa frase detravessada dele. Quer dizer alguma coisa que faça sentido? (…)

II

Sempre em busca da surpresa e do ineditismo, o ficcionista vai compondo o seu antirromance porque, se a vida ainda não existe fora do útero, tampouco não há como traçar um enredo com começo, meio e fim. Só restam reflexos produzidos por atos de quem gera – “percebo tudo aqui dentro da barriga” –, além de suposições sobre um futuro que há de vir: “Sobreviver lá fora deve ser um grande negócio. Ou é barra pesada? Ou tudo é rigorosamente regrado, regulado, normas e leis? Tudo lá fora é certinho, funciona direito e com precisão como um relógio?”, imagina.

Dividida em seu quatro livros e subdividida em muitas partes, esta obra reproduz também as angústias de uma futura mãe ainda adolescente, que se deixou engravidar por quem não pretende assumir o filho. Lê-se: “(…) – Eu não estava no programa… falhou o calendário, a cartelinha, alguma coisa que deveria estar vestido e não estava, alguma coisa que deveria ter usado, sei lá mais o quê… Eu fui um acidente de encontro… Acidente de percurso, sei lá… (…).

Como se percebe, o poeta Silas Corrêa Leite, com muita criatividade, atrai o leitor com uma linguagem do dia-a-dia brasileiro, ou melhor, do mundo caipira do interior de São Paulo e do Paraná, colocando novamente em evidência a cidadezinha de Itararé, com suas ruas de pedras, onde nasceu, na divisa entre estes dois Estados, e com a qual mantém vínculos familiares e sentimentais até hoje. Como dele já escreveu o romancista Moacir Scliar (1937-2011), percebe-se que o poeta sente prazer em narrar, “prazer este que se transmite ao leitor como um forte apelo – o apelo que se espera da verdadeira literatura”.

O leitor, portanto, só terá a ganhar ao conhecer e experimentar esta prosa experimentalista deste poeta cibernético, que, antenado com o seu tempo, não hesita em apertar a tecla SAP, mandar poemas-mensagens ou mensagens-poemas por torpedo, e-mail ou WahtsApp para construir um antirromance de uma vida que ainda vai nascer;

III

Silas Corrêa Leite, educador, jornalista comunitário e conselheiro em Direitos Humanos, começou a escrever aos 16 anos no jornal O Guarani, de Itararé-SP. Migrou para São Paulo em 1970. Formado em Direito e Geografia, é especialista em Educação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, com extensão universitária em Literatura na Comunicação na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).

É autor também, entre outros, de Porta-lapsos, poemas (Editora All-Print-SP), Campo de trigo com corvos, contos (Editora Design-SC), obra finalista do prêmio Telecom, Portugal, 2007, O homem que virou cerveja: crônicas hilárias de um poeta boêmio (Giz Editorial-SP), Prêmio Valdeck Almeida de Jesus, Salvador-BA, 2009, e Pirilâmpadas (Editora Pragmatha-Porto Alegre), poesia infanto-juvenil.

Seu e-book O rinoceronte de Clarice, onze ficções, cada uma com três finais, um feliz, um de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, por ser pioneiro, foi destaque em jornais como O Estado de S. Paulo, Diário Popular, Revista Época, Revista Ao Mestre Com Carinho e Revista Kalunga e na rede televisiva. Por ser único no gênero e o primeiro livro interativo da Rede Mundial de Computadores, foi recomendado como leitura obrigatória na disciplina Linguagem Virtual no mestrado de Ciência da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina. Foi tema de tese de doutoramento na Universidade Federal de Alagoas (“Hipertextualidade, o livro depois do livro”).

Silas Corrêa Leite recebeu os prêmios Paulo Leminski de Contos, Ignácio Loyola Brandão de Contos; Lygia Fagundes Telles para Professor Escritor, Prêmio Biblioteca Mário de Andrade (Poesia Sobre São Paulo), Prêmio Literal (Fundação Petrobrás), Prêmio Instituto Piaget (Lisboa, Portugal/Cancioneiro Infanto-Juvenil); Prêmio Elos Clube/Comunidade Lusíada Internacional; Primeiro Salão Nacional de Causos de Pescadores (USP), Prêmio Simetria Ficções e Fantástico, Portugal (Microconto), entre outros. Tem trabalhos publicados em mais de 100 antologias e até no exterior (Antologia Multilingue de Letteratura Contemporânea, Trento, Itália; e Cristhmas Anthology, Ohio, EUA).

______________________________

Gute Gute – Barriga Experimental de Repertório, de Silas Corrêa Leite. Rio de Janeiro: Editora Autografia, 225 págs., R$ 40,00,  2015. E-mail: poesilas@terra.com.br Site: www.autografia.com.br

_______________________________

(*) Adelto Gonçalves, jornalista, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

gutegute-capa

Um mergulho na cultura árabe | Enigmas da Primavera | João Almino | texto de Adelto Gonçalves

I

Se para conhecer a São Petersburgo do século XIX, é preciso ler Fiódor Dostoiévski (1821-1881), tal como para descobrir detalhes do Rio de Janeiro do final daquele século é fundamental percorrer os romances de Machado de Assis (1839-1908), daqui a cem anos, certamente, para saber como era (ou é) a cidade de Brasília (e o Brasil) deste começo de século XXI, será necessário ler Enigmas da Primavera (Rio de Janeiro: Editora Record, 2015), o novo (e sexto) romance do diplomata João Almino (1950). Trata-se da primeira obra de peso na literatura brasileira que não só traz para as páginas da ficção os movimentos políticos dos últimos anos, conforme observou o crítico Manuel da Costa Pinto (Folha de S. Paulo, 16/10/2015), como incorpora na prosa as novas tecnologias e formas de comunicação, como o e -mail, o iPhone, o iPad, o Facebook, o WhatsApp e outras redes sociais.

A partir das chamadas Jornadas de Junho, que agitaram as grandes cidades brasileiras em 2013, o autor cria um jovem personagem, Majnun, neto de um antigo esquerdista, simpatizante da luta armada contra a ditadura civil-militar (1964-1985), que, a exemplo daqueles que foram às ruas, não sabe bem o que quer nem para onde ir. “Se não fosse a companhia de seu laptop, de seu iPhone e de seu iPad, seu mundo não seria mais do que uns poucos centímetros de chão de cimento rachado”, diz o narrador. Com o pai morto por overdose de droga e a mãe, viciada e psicótica, sem condições para assumir sua criação, os avós de Majnun seriam os seus verdadeiros progenitores,

Apaixonado pela cultura muçulmana, Majnun sonha abandonar a casa do avô e ganhar o mundo, indo de Brasília para Madri e, em seguida, para Granada, à época do 15-M (15 de maio de 2011), movimento de protesto que ganhou as ruas da capital espanhola, e da Primavera Árabe, que marcou a queda de vários regimes ditatoriais no Oriente Médio.

Como um protagonista de romance picaresco, Majnun está em vários lugares, vê o mundo de fora, mas acaba por não se integrar à sociedade. “Aos 20 anos, ele era uma tela em branco”, diz o narrador. Não tinha vocação para se tornar militante político, como fora seu avô. “Não havia mais ditadura contra a qual lutar, e não era suficiente juntar-se à mediocridade, agregar uma pequena peça na engrenagem, corrigir uma injustiça aqui e outra ali, fazer um trabalho de formiguinha, tapar um buraco, consertar um defeito. Sua avó Elvira fazia projetos para prefeituras. Mas ele nunca conseguiria ser prático (…)”.

II

Encantado pelas fábulas e histórias do mundo árabe e em busca de suas raízes, o protagonista do romance depara-se com o paradoxo multissecular do fundamentalismo islâmico, que, em seus primórdios, assumia a tolerância como comportamento ético, mas que, hoje, dividido por facções radicais, faz da intolerância o seu lema. Por isso, romântico, contraditório e imprevisível, Majnun encarnaria as idiossincrasias da juventude dos dias de hoje. “Majnun é um jovem enfadado com seu cotidiano, que busca preencher seu vazio nas redes sociais. Tem todo um futuro pela frente, que, em vez de alimentar sua utopia, o faz mergulhar inicialmente num pensamento antiutópico, já que flerta com a volta a um passado que nunca vivenciou”, diz o narrador.

Dividido pela atração por três mulheres – especialmente, Laila, casada, mais velha que ele quinze anos –, Majnun, “o homem que amava demais”, envolve-se numa trama densa e sedutora, que atrai do começo ao fim. E que ao mesmo tempo, não só consagra como mostra o perfeito domínio que o ficcionista João Almino tem de seu ofício, ao passar ao leitor uma reflexão sobre o atual estágio político do Brasil deste século em que os jovens não vêem a saída nem o futuro e protestam sem saber o que colocar no lugar daqueles que lhes causam repulsa porque não encontram líderes confiáveis.

III

Não bastasse a erudição do autor, que, de fato, preparou-se para escrever este romance, mergulhando no estudo da história árabe e de sua influência na Espanha de ontem e de hoje, o livro traz ainda um percuciente e esclarecedor prefácio de João Cezar de Castro Rocha, que ajuda o leitor a conhecer os caminhos que o romancista percorreu para construir a sua ficção neste livro labiríntico, ao mostrar que a trama de Enigmas da Primavera “atualiza, ou seja, transforma, a mais divulgada história de amor da literatura árabe, transmitida oralmente e codificada, no século XII, pelo poeta persa Nizami – e, desde então, reescrita um sem-fim de vezes”. De fato, como observa o prefaciador, o protagonista do romance carrega o nome do personagem do poema de Nizâmî ou Nizman ou Nezami Ganjavi (1141-1209), “Layla y Majnún”, que t em um pequeno trecho reproduzido como epígrafe em tradução de Jordi Quingles.

Como se sabe, “Laila e Majnun”, uma espécie de “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare (1564-1616), da literatura persa, é um conto folclórico em versos e seu protagonista está associado a um homem que, de fato, teria existido, Qays Ibn al-Mulawwah, que viveu, provavelmente, na segunda metade do século VII d.C., no deserto de Najd, na Península Árabe. Esse poema épico, dedicado ao rei Shirvanshah, com cerca de 8 mil versos, em 1188, tornou-se tema de populares canções, sonetos e odes de amor entre os beduínos ao longo dos séculos.

IV

João Almino, nascido em Mossoró, Rio Grande do Norte, diplomata, é autor de seis romances. Fez doutoramento em Paris, orientado pelo filósofo Claude Lefort (1924-2010), ex-professor da Sorbonne, da École des Hautes Études en Sciences Sociales e da Universidade de São Paulo (USP), que teve como tutor o fenomenologista Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), cujas publicações póstumas editou.

Almino ministrou aulas na Universidade Nacional Autónoma do México (Unam), na Universidade de Stanford e na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Parte de sua obra está traduzida para o inglês, o francês, o espanhol e o italiano, entre outras línguas. Tem também escritos de história e filosofia política, que são referência para os estudiosos do autoritarismo e da democracia.

Vencedor de prêmios como o Casa de las Américas de 2003 e o Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura de 2011, área de ficção, entre outros, João Almino é autor ainda de Ideias para Onde Passar o Fim do Mundo (1987), Samba-Enredo, (1994), As Cinco Estações do Amor (2001), O Livro das Emoções (2008) e Cidade Livre (2010).

Na área de não-ficção, incluem-se Os Democratas Autoritários (1980), A Idade do Presente (1985), Era uma Vez uma Constituinte (1985), O Segredo e a Informação (1986), Brasil-EUA: Balanço Poético (1996), Literatura Brasileira e Portuguesa Ano 2000, organizado com Arnaldo Saraiva (2000), Rio Branco, a América do Sul e a Modernização do Brasil, organizado com Carlos Henrique Cardim (2002), Naturezas Mortas – A Filosofia Política do Ecologismo (2004), Escrita em Contraponto – Ensaios Literários (2008) e O Diabrete Angélico e o Pavão: enredo e amor possíveis em Brás Cubas (2009).

______________________________

Enigmas da Primavera, de João Almino. Rio de Janeiro: Editora Record, 287 págs., 42 reais, 2015. E-mail: mdireto@record.com.br

_______________________________

(*) Adelto Gonçalves, jornalista, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

enigmas-capa

E Agora, José | Poema de Carlos Drummond de Andrade com narração de Mundo Dos Poemas (youtube.com)

Poesia e poema de poeta brasileiro. Escritor brasileiro, Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 1902. Estudou em Belo Horizonte e diplomou-se em Farmácia, carreira que não exerceu, e fez a sua vida no Rio de Janeiro, entregando-se às letras. Aderiu ao Modernismo, no qual se distinguiu.

Ler mais em: https://youtu.be/fEshqntKXbk?si=n4mqUDg0mPC5e9xb

Amilca Ismael e a escravidão no século XXI | Adelto Gonçalves

 

I

A escravidão é prática tão antiga quanto a Humanidade. Mas, ao que tudo indica, foi na Roma Antiga (723.aC.-476) que se estabeleceu o tráfico de seres humanos.  Os escravos se encarregavam apenas da produção das grandes fazendas e de todo serviço nas obras públicas, inclusive nas arenas dos gladiadores, mas, a princípio, não eram utilizados como mercadoria. Na África, em muitos reinos, a escravidão sempre constituiu prática milenar, mas o tráfico parece que foi implantado por viajantes europeus, provavelmente romanos, que logo descobririam que também poderiam explorar os atributos físicos de seus escravos.

Tanto séculos depois, essa prática ainda é corrente não só nos lupanares requintados de Roma, Milão, Turim e outras cidades italianas como é visível em suas ruas e avenidas. E não há evidência de que, algum dia, venha a ter fim, apesar da retórica dos governos que sempre anunciam medidas de repressão policial.

Para denunciar essa ignomínia, a escritora moçambicana Amilca Ismael decidiu escrever o seu terceiro romance, Efémera Liberdade (Lisboa, Labirinto de Letras, 2014). Escrito originalmente em italiano (Effimera Libertà) e lançado em 2014 pela editora Youcanprint, o romance ganhou tradução de João Manuel Peres de Seixas e da própria autora, com revisão de Adriana Barreiros.

O romance nasceu a partir da leitura de uma reportagem de jornal que exaltava os esforços de uma equipe médica para salvar uma jovem que fora abandonada de madrugada à porta de um hospital, em Turim. Com lesões internas e hemorragia grave como resultado de uma tentativa inábil de fazê-la abortar, a jovem morreu, sem que as autoridades policiais soubessem sequer o seu nome. A partir daí, Amilca imaginou a jovem, que seria Ruth Onwenu, africana, de 24 anos, a delirar e lutar pela vida e com o seu passado numa mesa de operações, em estado de semiconsciência.

II

O romance denuncia a mercantilização da sexualidade feminina, ao recuperar a travessia que Ruth faz, saindo, aos 14 anos de idade, de um país africano, vendida por seu pai a um suposto protetor italiano, um tal de Presidente, que a levaria para Roma a fim de que pudesse supostamente prosseguir os estudos. A princípio, ao chegar, a jovem fica encantada com o que vê ao seu redor:

(…) É a casa onde ficarei hospedada e não consigo acreditar. Não é apenas uma casa, é grande como um castelo mas é moderna: sintaxe maravilhosa de paralelepípedos, janelas enormes sobre as quais o telhado parece flutuar, casa de cristal, aquário de sereias. Num dia passei de uma tabanca húmida em África para um castelo de vidro fora de Milão. Querido Deus, serei eu, na verdade, uma Princesa Castanha? Olho para a boneca e não me atrevo a ter resposta. Depois penso na minha mãe que ficou sozinha na tabanca, na humidade que faz apodrecer os ossos, devorada pelos mosquitos, ressequida, e não me capacito como pode o meu destino ser tão diferente do seu. (…).

Obviamente, a jovem cai num circuito de prostituição, onde é preparada por funcionários e funcionárias do tal Presidente para frequentar ambientes sofisticados em que transitam mulheres oriundas de regiões pobres de países da África, da Ásia e da América Latina e homens endinheirados.

Ganha o nome de guerra de Princesa Castanha, aprende a beber whisky sem vomitar, a fumar cigarros de uma maneira “provocante”, a ter as unhas bem cuidadas, a dançar valsas de Strauss, a ver filmes pornográficos sem se envergonhar, a consumir drogas e, um dia, é conduzida num carro alemão com assento de pele branca leitosa por um motorista particular e começa a descobrir a realidade: em Turim, sua virgindade vai à leilão.

Começa assim uma carreira pecaminosa que poderia ser igual à de tantas jovens do Terceiro Mundo atraídas para a prostituição, não fosse o incidente – ou melhor, o crime – que a levaria à morte. À beira da morte, ela ainda reflete:

(…) “Atrás de mim, de onde eu parti, surge assustadora a África machista e polígama que me vendeu a Itália. O que é que eu queria ser? Advogada? Médica? Queria ajudar as pessoas de minha aldeia? Garantir educação, igualdade, bem-estar? Queria lutar pelos direitos das mulheres do meu País e, portanto, pelos direitos de todas as mulheres do mundo? Mas que proporção poderia existir entre uma menina de catorze anos e o mundo? (…).

III

O romance é dedicado a Laura Prati, sindaca (funcionária pública) de Cardano al Campo, cidade da Lombardia, ao Norte da Itália, assassinada provavelmente por desafetos que se irritavam com o seu trabalho em favor de jovens com trajetória e  destino semelhantes ao da personagem Ruth. Depois da dedicatória, a título de complemento, há ainda uma carta escrita pelo filho de Laura Prati, Massimo Poliseno, que, na altura do assassinato, tinha 22 anos de idade.

Como se vê, embora seja um romance, a obra tem muitos pontos de contato com a realidade, pois inspirado em fatos verídicos. Em outras palavras: trata-se de uma denúncia e um alerta para a situação das mulheres africanas (e não só africanas) atraídas para Itália (e outros países ricos) com falsas promessas, mas que depois são obrigadas a prostituir-se para sobreviver e sustentar máfias de proxenetas.

IV

Amilca Ismael nasceu em Lourenço Marques, atual Maputo, no dia 25 de junho de 1963 e mudou-se para a Itália em 1986. Na Itália, depois de vários trabalhos ocasionais, decidiu voltar à escola, tendo obtido em 2002 um diploma de assistente social e, em 2004, o diploma de assistente de saúde. Técnica social e de saúde, trabalhou por anos num lar de idosos, mas hoje a sua vida está dedicada às letras.

Sua estreia na literatura deu-se em 2008 com o romance A Casa de Recordações (La casa dei ricordi), publicado pela editora Ndjira (do Grupo Leya), de Maputo, com mais de 2000 exemplares vendidos, 11 reimpressões e uma segunda edição. O livro conta precisamente as recordações de uma mulher que vive num lar de idosos.

Em dezembro de 2010, publicou o seu segundo romance, Il raconto di Nadia (A história de Nadia), que conta o encontro num avião de duas moçambicanas, uma que mora na Itália e outra residente em Portugal. No trajeto de Maputo para Lisboa, Nadia conta a história da mãe em paralelo com a história de Moçambique no tempo colonial. O livro deverá ganhar em breve edição em português.

Amilca Ismael já participou de várias feiras internacionais, como a Expo América, em Nova York, a Piú libri piú leberi, em Roma, a Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt, a Feira Internacional do Livro de Pequim, a Feira Internacional do Livro do Cairo, e a Feira Internacional do Livro de Londres.

Em outubro de 2010, recebeu, na Universidade da Suíça Italiana e de um júri internacional o Prêmio da Mulher do Ano-Secção Social. Já conquistou vários prêmios literários, como o Mulher Somente Mulher, dedicado ao Dia Mundial da Não Violência contra as Mulheres, o Prêmio Musolona Solbiate Olona Varese, na Itália, o Prêmio Europa, em Lugano, na Suíça, e o prêmio especial para os Direitos Humanos, em Nápoles, entre outros. Faz parte do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora, de Lisboa, e é conselheira da Literarte – Associação Internacional de Escritores e Artistas, do Brasil, entre outras entidades.

______________________________

Efémera Liberdade, de Amilca Ismael, com tradução de João Manuel Pereira de Seixas. Lisboa: Editora Labirinto de Letras, 115 págs., 12 euros, 2014. E-mail: correio@labirintodeletras.pt Site: www.labirintodeletras.pt

_______________________________

(*) Adelto Gonçalves, jornalista, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

EfemeraLib-capa 00

deus-dará | Alexandra Lucas Coelho

Este romance chegou hoje às livrarias. Escrevi-o ao longo de três anos e meio, com longos intervalos, por vezes de um ano. Durante todo esse tempo, Lucas, Judite, Zaca, Tristão, Inês, Gabriel & Noé só existiram na minha cabeça. Eu pensava que não podia morrer senão eles ficariam presos para sempre. Agora o mundo não acaba. Boa viagem.

Alexandra Lucas Coelho

VULTO DE UM PAÍS | Soledade Martinho Costa

Sou feito de seivas

De geadas e matos

De aves e manhãs

Pedras e regatos.

Sou fruto das flores

Safões dos pastores

Água dos cantis.

Sou lume ateado

Seara de espigas

Sou pão amassado

Lágrimas, cantigas.

Sou mel e orvalho

Sou sede e calor

Sou do milho o malho

Sou a hora do amor.

Sou o povo que reza

Sou o Sol a nascer

Sou enxada que pesa

Sou o trigo a crescer.

Sou o pisar da uva

Sou o corpo cansado

Sou o canto da chuva

Sou o estrume e o arado.

Sou barco parado

Sobre ondas de pranto

Sou o sangue que corre

Nas veias do vento.

Sou feito de estrelas

De sal e marés

De limos e algas

Tormenta e convés.

Sou sopro de brisa

Saudade, cadência

Vulto de um País.

Soledade Martinho Costa

Do livro “Reduto”

‘MISTÉRIOS’ | Cristina Carvalho

KNUT HAMSUN (1859-1952), escritor norueguês, no ano em que lhe foi atribuído o Prémio Nobel de Literatura, em 1920, era provavelmente o mais influente autor europeu: Thomas Mann, André Gide, Máximo Gorki, Franz Kafka ou o jovem Hemingway contavam-se entre os seus incondicionais admiradores. O uso que fez da subjectividade e do monólogo interior, aliados a um forte lirismo e a temáticas absolutamente inovadoras à época, fizeram de romances como “Fome”, “Mistérios”, “Pan” ou “Victoria” obras-primas e marcos do início da modernidade na literatura. Para influenciar a sua visão do mundo, que se consubstancia num declarado panteísmo e amor pela natureza, em contraponto com uma profunda aversão à civilização e ao progresso, talvez tenham contribuído a extrema pobreza e a constante vagabundagem em que viveu a sua juventude.

Knut Hamsun morreu com 92 anos na mais completa pobreza.
“Toda a escola literária moderna do século XX provém de Hamsun. Foram todos seus discípulos: Thomas Mann, Arthur Schnitzler, Fitzgerald, Hemingway…”

Isaac B. Singer (Nobel de Literatura)
“Hamsun é o maior escritor de sempre”

Thomas Mann

Acabado de reler ontem à noite, este livro Mistérios. Há ainda publicados em Portugal e todos pela Cavalo de Ferro os seguintes livros do mesmo escritor.

‘Fome’ , ‘Vitória’ , ‘Pan’ , ‘Os Frutos da Terra’

Todo o aspirante a escritor deveria passar, pelo menos, por estes três pequenos romances: Fome, Vitória e Pan.

CC

knut

Huitièmes Rencontres euromaghrébines des écrivains | 2 et 3/11 | Argel

NOS PREMIERS ROMANS
Huitièmes Rencontres euromaghrébines des écrivains

Tous les écrivains se souviennent de leur premier roman comme un moment particulier de leur existence, une sorte de saut dans l’inconnu, le début d’une aventure… Les lecteurs aussi retiennent souvent la lecture de leur premier roman avec émotion, ainsi qu’une porte franchie pour entrer dans le vaste univers de la littérature.
Diverse et disparate, la notion de premier roman exerce une certaine fascination autant sur les publics que les professionnels. Elle revient à interroger l’expérience des premières écritures et lectures ainsi que sur le passage éventuel de l’état de lecteur à celui d’auteur.
Depuis plusieurs années maintenant, le premier roman s’est imposé comme une catégorie à part entière du monde de l’édition avec ses révélations, ses succès critiques et populaires et son lot de déconvenues. Il existe même des salons du livre et des prix littéraires entièrement consacrés aux premiers romans.
Il est remarquable que des premiers romans, écrits à l’aube d’une carrière littéraire et rejetés par les éditeurs, soient publiés une fois établie la notoriété de l’écrivain et connaissent en quelque sorte des succès « à retardement ». Dans ce sens, le premier roman nous interpelle aussi sur les rapports entre écriture et édition et sur la relation entre l’écrivain et ce primo-lecteur qu’est l’éditeur.
Comment dévoiler ce rapport exceptionnel, intime et personnel que nous pouvons entretenir ou même entreprendre avec ce premier roman qui nous a marqué, soit en tant que lecteur, soit en tant qu’auteur ?
Les huitièmes rencontres euro-maghrébines des écrivains au 21e Salon International du Livre d’Alger (SILA) vous donnent rendez-vous, les 2 et 3 novembre 2016, à la salle El Djazair du Palais des Expositions (Pins Maritimes, Alger) autour de ce thème passionnant.
Venus d’Algérie, du Maghreb et d’Europe, des écrivains viendront faire part de leurs expériences, raconter les espoirs et les craintes qui ont accompagné leurs premières publications et relater les dessous de ce passage initiatique.
Ils discuteront avec les lecteurs et lectrices présents au SILA pour explorer ce champ particulier et tisser, au fil des confidences littéraires, les cordes solides du dialogue interculturel entre l’Union Européenne et l’Algérie dans le monde du livre.

nos - 500

Bob Dylan | “Like A Rolling Stone”

“Like A Rolling Stone”

Once upon a time you dressed so fine
You threw the bums a dime in your prime, didn’t you ?
People’d call, say, “Beware doll, you’re bound to fall.”
You thought they were all kiddin’ you
You used to laugh about
Everybody that was hangin’ out
Now you don’t talk so loud
Now you don’t seem so proud
About having to be scrounging for your next meal.How does it feel?
How does it feel
To be without a home
Like a complete unknown
Like a rolling stone ?You’ve gone to the finest school all right, Miss Lonely
But you know you only used to get juiced in it
And nobody’s ever taught you how to live out on the street
And now you’re gonna have to get used to it
You said you’d never compromise
With the mystery tramp, but now you realize
He’s not selling any alibis
As you stare into the vacuum of his eyes
And say do you want to make a deal?How does it feel?
How does it feel
To be on your own
With no direction home
A complete unknown
Like a rolling stone ?You never turned around to see the frowns on the jugglers and the clowns
When they all come down and did tricks for you
You never understood that it ain’t no good
You shouldn’t let other people get your kicks for you
You used to ride on the chrome horse with your diplomat
Who carried on his shoulder a Siamese cat
Ain’t it hard when you discover that
He really wasn’t where it’s at
After he took from you everything he could steal.

How does it feel?
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone ?

Princess on the steeple and all the pretty people
They’re all drinkin’, thinkin’ that they got it made
Exchanging all precious gifts
But you’d better take your diamond ring, you’d better pawn it babe
You used to be so amused
At Napoleon in rags and the language that he used
Go to him now, he calls you, you can’t refuse
When you ain’t got nothing, you got nothing to lose
You’re invisible now, you got no secrets to conceal.

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone ?

Pubicado na categoria Poesia Tagged

Há Mulheres Que Trazem O Mar Nos Olhos | Poema de Sophia de Mello Breyner narração Mundo Dos Poemas (youtube.com)

Poesia e poema de autor português. Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de novembro 1919 no Porto, onde passou a infância. Em 1939-1940 estudou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa. Publicou os primeiros versos em 1940, nos Cadernos de Poesia. Na sequência do seu casamento com o jornalista, político e advogado Francisco …

Ler mais em; https://youtu.be/aItitJ9JcLc?si=UI8tphH4r0cUe3kF

O Caruru dos 7 Poetas acontece na Flica em Cachoeira-BA

Unindo literatura, manifestações artísticas e a tradição cultural e religiosa baiana, o Caruru dos 7 Poetas completa 12 anos e chega a sua 11ª edição. Em 2016 a festa aconteceu no dia 24 de setembro, sábado, no Largo D’Ajuda, em Cachoeira, Bahia, a se renova na Festa Literária Internacional de Cachoeira, na Mesa 10, dia 16.10.2016, às 10hs, com os poetas Valdeck Almeida de Jesus, Fábio Haendel, Herculano Neto, Giselli Oliveira, Deisiane Barbosa, Bárbara Uila e Camillo César Alvarenga.

Nessa edição Vovó Ebomi Cici será homenageada pelos sete poetas convidados, e haverá intervenção artística do grupo Importuno Poético, além, claro, do recital e do famoso caruru, que será servido aos poetas.
Os poetas convidados

Valdeck Almeida de Jesus – jornalista, escritor e poeta, Membro-fundador do Projeto Fala Escritor (2009) e da União Baiana de Escritores – UBESC (2009), Ex-presidente do Colegiado Setorial de Literatura do Estado da Bahia (2012-2014), autor de “Gayroto de Programa – 5000 tons de sexo”, “Sim, sou gay. E daí? – desabafos de Alice no País das Maravilhas”, “Vinte poemas de amor e uma crônica desesperada”, “Ruta 66: amores y dolores de um poeta”, e mais dezoito obras solo. Participa de 150 antologias e tem textos publicados em inglês, espanhol, alemão e holandês.

Fábio Haendel – é um artista múltiplo, originalmente das artes plásticas, formado pela escola de Belas Artes da UFBA, com experiência nas áreas de ilustração, HQ, animação e arte-educação. Filho do músico instrumentista Willy Handel, tem em suas raízes o gosto pela música e, movido pelas criações de Bob Dylan, também se tornou cantor e compositor, participando de diversos festivais e eventos universitários. Possui mais de 70 composições, dois CD’s gravados, “O dono do tempo”, de 2008 e “Nuvens”, de 2014. Em 2012, junto com Kátia Borges, Mariana Paiva, Nilson Galvão e Ligia Benigno criou o Sarau Prosa e Poesia e desde então vem aprofundando-se na pesquisa literária. Participou de três antologias poéticas: Cógito, Sarau da Onça e Focus. Em 2015 lançou o seu primeiro livro de poesias e ilustrações “Antes das nuvens”, pela editora Cogito.

Camillo César Alvarenga – nasceu em São Félix, no Vale do Paraguaçu, no Recôncavo da Bahia, em 1988. Poeta, crítico e tradutor é autor do livro Scombros (EdUFRB, 2012) e organizou a coletânea Canoas do Paraguaçu (EdUFRB, 2012). Publicou o poemário O FILTRO (Coleção Oju, Aiye, 2013). Idealizador e fundador do movimento literário Frente Livre Pela Palavra Escrita (FLIPPE), atua pela cultura poética na região do recôncavo baiano com o Ciclo Literário “O Depoimento do Poeta”. Recebeu o Prêmio Maximiano Campos de Literatura (Instituto Maximiano Campos) na categoria micro conto (2013).

Bárbara Uila – mulher, baiana e sertaneja, mãe de Bernardo, poeta. Começou sua carreira no teatro, foi atriz e produtora no Coletivo Religare (2008) e na Companhia Teatro do Incêndio (2012), onde conheceu a obra de Roberto Piva. Desde então sua expressão é a poesia. Integrou o Coletivo La Vie En Close (2013/2014) realizando eventos multiculturais na periferia de São Paulo e ações poéticas pela cidade e em viagens. Autora do livreto de poesia “Pelas Bárbaras do Profeta” (São Paulo, 2013) e do “Rosa dos Ventos” (Cachoeira, 2016), ambos são publicações independentes confeccionados e distribuídos no “mano a mano” pela autora.

Deisiane Barbosa – escritora de cartas, artista visual, andarilha, costureira de papel & palavras, nascida no século passado, do outro lado de um rio; faz poesia enquanto pedala bicicleta e nutre um amor platônico pelo vento; em 2015 lançou o seu primeiro outono de ‘cartas à Tereza: fragmentos de uma correspondência incompleta. Desenvolve o projeto artístico ‘cartas à Tereza’, no qual envolve processos de escrita, arte postal, fotografia e videoarte e livro-objeto.

Giselli Oliveira – mulher, preta e cadeirante. Cachoeirana nascida e criada. Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). É afroempreendedora com a marca Quilombelas, criada em parceria com uma amiga que busca, através da mora, uma afirmação do poder do povo negro, trazendo em suas coleções referências da história e cultura afro-brasileiras. É mãe de duas filhas gêmeas, Amana Raha e Naíma Ayra, e ser mãe é uma das melhores e mais gostosa ocupação para ela. Escreve poemas desde a adolescência, porém não guardava seus registros poéticos (na verdade não se compreendia enquanto poetisa). Já na universidade resolve expor um de seus poemas eróticos, o qual a tornou conhecida, lhe rendendo o convite para participar da coletânea Canoas do Paraguaçu, lançada pela editora UFRB.

Herculano Neto – nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA). É poeta, ficcionista e letrista de música popular. Publicou pela Fundação Casa de Jorge Amado (Prêmio Braskem Cultura e Arte) o livro de poesia CINEMA e, pela editora Mondrongo, A CASA DA ÁRVORE, além de organizar a coletânea de contos inspirados em canções de Raul Seixas, OUTRO LIVRO NA ESTANTE. Pela coleção Cartas Baianas, lançou o volume de contos SALVADOR ABAIXO DE ZERO. Possui canções gravadas por Raimundo Fagner, Alcione, Roberto Mendes, entre outros. Mantém o blogue POR QUE VOCÊ FAZ POEMA?
SERVIÇO
O que: 11ª edição do Caruru dos 7 Poetas – Recital com Gostinho de Dendê
Quando: Domingo, 16 de setembro, a partir das 10 horas
Onde: Festa Literária Internacional de Cachoeira/BA
Quanto: Gratuito

A Galinha vai pular na Festa Literária Internacional de Cachoeira

A Editora Galinha Pulando vai estar em Cachoeira-BA, durante a programação da Festa Literária Internacional de Cachoeira – FLICA, de 13 a 16 de outubro de 2016. O convite foi feito pela Fundação Pedro Calmon e a Diretoria de Livros e Leitura, órgãos da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Editoras baianas vão expor suas produções em estandes em frente ao Pouso da Palavra, divulgando a literatura de vários autores baianos.

A Galinha Pulando é a mais nova editora da Bahia, que publica essencialmente livros de escritores da periferia, com recursos dos próprios autores ou através de crowfounding. Sem financiamentos outros, a pequena empresa vai conquistando seu espaço e já teve sucessos como lançar os livros de poetas do Calabar, Sarau da Onça e Grupo Ágape no Salão do Livro e da Imprensa de Genebra (Suíça), por três anos consecutivos, através do Varal do Brasil, lançamentos desses mesmos poetas na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no Parlamento Internacional de Escritores da Colômbia, bem como em festas literárias de Jequié, feiras do livro de Feira de Santana, Campo Grande em Salvador e outras paragens.

Durante o evento a Galinha Pulando vai comercializar os seguintes títulos, dentre outros:

– Memorial do Inferno (Valdeck Almeida de Jesus) – livro que conta a história da Família Almeida, natural de Jequié-BA, que passou fome por mais de 25 anos e que conseguiu se estabelecer, contra todas as apostas;

– A Poesia Cria Asas (Grupo Recital Ágape) – formado por dez poetas e poetisas de Sussuarana, o livro encanta pela beleza estética, pela pujança dos textos, que trazem denúncias sociais, de violências institucionalizas, e aponta soluções, através do trabalho coletivo e da batalha contra o racismo;

– Abre a Boca, Calabar (crianças e jovens do Calabar, Salvador-BA) – resultado de oficinas de poesia na Biblioteca Comunitária do Calabar, que envolveu pedagogos, professores, historiadores, crianças, jovens e adolescentes do bairro, além de poetas mirins de outras periferias da cidade, o livro se tornou o símbolo da beleza poética revelada através dos olhos e mãos de quem vive na periferia e expressa todos os outros lados bons das comunidades de Salvador-BA.

– Ruta 66: Amores e Dolores de un Poeta (Valdeck Almeida, ilustrações de Danaia dos Santos) – publicado inicialmente em espanhol, traduzido pela venezuelana Gladys Mendía e revisado pelo colombiano Julio Bustos, “Ruta 66” relata uma viagem simbólica de um poeta através do tempo, seus amores e desamores. Nascido no Parlamento de Escritores da Colômbia, o livro tem conexões com o Caruru dos Sete Poetas, realizado por João Vanderley de Morais Filho e o pensamento de levar a poesia aos sete cantos do mundo.

– Vinte poemas de amor e uma crônica desesperada (Valdeck Almeida, ilustrações de Zezé Olukemi) – com título já utilizado por Pablo Neruda e pelo baiano José Carlos Capinam, a obra do jornalista jequieense Valdeck Almeida simboliza um amor idealizado através de cartas entre Bahia e Minas Gerais, que nunca se concretizou, e que renasceu entre os dois estados outra vez, agora morando na mesma cidade do Salvador, revivido pela internet e por telefone, que ainda não se tornou real e, talvez, nunca venha a se tornar.

– Os poemas que eu não gostaria de escrever e nem você de ler (Rita Pinheiro) – a professora Rita Pinheiro faz poemas que cortam, dilaceram, sangram. A obra é forte, dura, incisiva, luta contra todo tipo de injustiça, principalmente contra a violência contra a mulher. Emocionante e pleno de afetividade, este livro marca um lugar na história da poesia da Bahia.

– Gayroto de Programa: 5000 mil tons de sexo (Valdeck Almeida) – relato da vida nada romântica de um homossexual nascido na pequena Upabuçu, cidade da região de Lagedo do Tabocal, no Vale do Jequiriçá, emociona pela crueza e beleza da luta de um gay interiorano que tenta, a seu modo, ser aceito e conquistar um amor.

– Dicionário de Escritores Baianos Contemporâneos (Carlos Sousa Yeshua, autores do estado da Bahia) – a obra reúne mais de duzentos escritores de toda a Bahia, o livro é um marco histórico, que concentra centenas de anos da poesia, crônica, romance, conto, cordel e de outras manifestações culturais.

A Editora Galinha Pulando foi fundada em 2012 e já tem um catálogo de quase 30 livros publicados, muitos deles lançados nas Bienais do Livro de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia; Festas Literárias de Jequié, Lençóis, Feira de Santana; Parlamento Internacional de Escritores da Colômbia, Salão do Livro e da Imprensa de Genebra (Suíça). Promove e patrocina um concurso literário idealizado por Valdeck Almeida, o qual já publicou quase 2000 poetas de vinte e cinco países.
Valdeck Almeida de Jesus representa a Galinha Pulando e é natural de Jequié e morador da capital baiana, onde é membro-fundador do Fala Escritor e da União Baiana de Escritores – UBESC, além de participante ativo do Sarau da Onça, Sarau do Gheto, Sarau da Juventude Ativista de Cajazeiras, Sarau da Paz etc. O escritor já lançou dois livros nos Estados Unidos e tem obras traduzidas para espanhol, inglês, alemão e holandês.

 

Contatos: Valdeck Almeida de Jesus

Fone 71 99345 5255

E-mail poeta.baiano@gmail.com

Bob Dylan | Prémio Nobel de Literatura | Carlos Reis

Pensemos brevemente na atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan. É um equívoco? É um escândalo? Faço uma declaração de interesses: Bob Dylan foi um dos meus ídolos, num tempo em que os costumes conviviam mal com atitudes de heterodoxia como as que Dylan protagonizava.
À parte isso, convém lembrar duas coisas. Uma: o Nobel foi atribuído à poesia de Bob Dylan, não à sua música; e a poesia de Dylan, certamente indissociável das canções que criou, é, como poesia, autónoma em relação a ela. Outra: a Academia Sueca é muitas vezes acusada de conservadorismo e de procedimentos de institucionalização, não raro associados a inconfessáveis conveniências políticas. Pois bem, por uma vez, a Academia surpreendeu pela positiva, não pela omissão (Jorge Luis Borges é a mais gritante, mas não é a única). E lançou-nos um desafio: tratemos de ler ou reler a poesia de Bob Dylan enquanto poesia e talvez tenhamos algumas surpresas. E sobretudo não fiquemos chocados, pelo facto de essa poesia ser difundida em concertos (como foi), pela rádio, pela televisão e pela internet. Pergunta final, talvez antes de outra reflexão mais alargada: a cultura do século XX seria a mesma sem Bob Dylan? Like a rolling stone, os critérios vão mudando, as instituições acolhem essa mudança e os juízos são relativos e historicamente datados.

Carlos Reis

Retirado do Facebook | Mural de Maria Isabel Fidalgo

Citação | Manuel S. Fonseca

Bob Dylan é grande por ter sido transgressor, profeta assimétrico, rebelde contra os conservadores, rebelde outra vez contra os iconoclastas de feira, mas sobretudo por ter marcado a música popular do século XX. Usou para isso palavras e escreveu-as, à mão, à máquina, para aí num Remington de escritor. Ultimamente num laptop, quem sabe. Mas as grandes e maravilhosas palavras que escreveu, escreveu-as para uma arquitectura que envolve sons, para uma construção a que chamamos música. Soprou palavras e as palavras mudaram um tempo. Em cima de um palco incendiou um tempo. Não dentro de um livro.

In “Escrever é Triste” | http://www.escreveretriste.com/2016/10/em-defesa-de-bob-dylan/