Uma Causa Improcedente, de Claudio Magris

Após o sucesso de Danúbio e Às Cegas e de ensaios como A História Não Acabou e Alfabetos, a Quetzal publica Uma Causa Improcedente, o regresso fenomenal de Claudio Magris ao romance.

Neste romance violento e apaixonado, Claudio Magris confronta-se com a obsessão da guerra, a guerra de todos os tempos, a guerra universal: vermelha como o sangue, negra como os navios de escravos, profunda como o mar que engole tesouros e destinos, cinzenta como o fumo dos corpos calcinados no forno crematório de Risiera de San Sabba, branca como a cal que cobre o sepulcro.

Uma Causa Improcedente é a história de um grotesco museu de guerra pelo advento da paz, das suas salas e armas; a história do homem que sacrifica a vida à sua maníaca construção para resgatar, no fim da renhida luta, uma verdade escondida; é a história de uma mulher, Luisa, herdeira do exílio judaico e da escravatura dos negros.

Magris explora com ferocidade o inferno desapiedado da nossa culpa e relata a empolgante epopeia das tragédias e dos silêncios do amor e do horror.

Uma narrativa total, precisa e visionária.

«Raras vezes a luz dourada da literatura se manifestou com tal intensidade.»
Eduardo Pitta

Claudio Magris nasceu em Trieste, em abril de 1939, filho de um corretor de seguros e de uma professora primária. É romancista, ensaísta, germanista, e colabora regularmente com revistas e jornais europeus. Depois de uma passagem pela Universidade de Freiburg, foi professor de Língua e Literatura Germânicas na Universidade de Turim. Atualmente dá aulas na sua cidade natal. Magris exerceu também o cargo de Senador entre 1994 e 1996. Os seus livros contribuíram para o conhecimento literário da cultura europeia, e em 2013 foi-lhe atribuído o Prémio Helena Vaz da Silva Europa Nostra para a divulgação do património cultural europeu. Claudio Magris é um dos candidatos permanentes ao Prémio Nobel da Literatura.

(Nota de Imprensa da Quetzal)

Behind Time

Behind Time

COM AS MINHAS TAMANQUINHAS |exposição João de Azevedo

As comemorações dos 12 anos da DDLX continuam.
A exposição vai ficar por cá até ao final de Maio. João de Azevedo, o artista convidado que nos ajudou a festejar, vai estar presente na próxima quinta-feira, dia 14, para conversarmos com ele sobre o projecto. Haverá festa de novo, é claro. Convidados. (DDLX)
JoaoDeAzevedo

Santarém celebra Dia Mundial do Livro com José Eduardo Agualusa e Teolinda Gersão

Grupo Porto Editora oferecerá livros de grandes autores a todos os espectadores desta etapa da Viagem Literária
A “Viagem Literária“ celebra o Dia Mundial do Livro na sua próxima paragem. No dia 23 de abril, a partir das 17:00, o Teatro Sá da Bandeira, em Santarém, acolhe a 13.ª etapa desta festa itinerante do livro e da literatura.

Nesta etapa especial, organizada em parceria com a Câmara Municipal de Santarém, e na qual os “passageiros” serão surpreendidos por uma oferta do Grupo Porto Editora, a Viagem faz-se à boleia de José Eduardo Agualusa, escritor recentemente incluído entre os finalistas do prestigiado Man Booker Prize International, com o seu Teoria Geral do Esquecimento, e da escritora Teolinda Gersão.

A partir das 17 horas, o jornalista João Paulo Sacadura conduz uma conversa entre os dois convidados, rumando entre as suas afinidades e diferenças, a atualidade social e, como não poderia deixar de ser, os livros e a literatura. Ainda durante estes 90 minutos, haverá espaço para as questões da plateia e, no final, para a habitual sessão de autógrafos e contacto mais direto com os escritores.

Nesta sessão, os passageiros serão presenteados com livros de grandes autores publicados pelo Grupo Porto Editora, tais como Albert Camus, Ernest Hemingway, Isabel Allende, John Steinbeck, José Saramago, Luis Sepúlveda, Manuel António Pina, Mário de Carvalho, Miguel Esteves Cardoso, Patrick Modiano ou Valter Hugo Mãe.

José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do Huambo, em Angola, a 13 de dezembro de 1960. É jornalista. Viveu em Lisboa, Luanda, Rio de Janeiro e Berlim. É autor de vários livros, entre os quais A Conjura, vencedor do Prémio Revelação Sonangol, Nação Crioula (romance vencedor do Grande Prémio de Literatura RTP), Fronteiras Perdidas (Grande Prémio de Conto da APE), O Ano Que Zumbi Tomou o Rio, O Vendedor de Passados e o mais recente O Livro dos Camaleões. Com Teoria Geral do Esquecimento, tornou-se um dos treze finalistas da edição de 2016 do prestigiado prémio Man Booker Prize.

Teolinda Gersão nasceu em Coimbra, estudou Germanística, Romanística e Anglística nas Universidades de Coimbra, Tübingen e Berlim. Foi Leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim, assistente na Faculdade de Letras de Lisboa e ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada na Universidade Nova de Lisboa. A partir de 1995, dedica-se exclusivamente à literatura.
Autora de vários trabalhos de crítica literária, recebeu duas vezes o prémio de ficção PEN Clube, atribuído ao seu livro de estreia, O Silêncio, em 1981, e ao romance O Cavalo de Sol, em 1989. Foi também galardoada com o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores em 1995 e, na Roménia, com o Prémio de Teatro Marele do Festival de Bucareste (adaptação da obra ao teatro) com o romance A Casa da Cabeça de Cavalo. Em maio de 2003, o seu livro Histórias de Ver e Andar foi galardoado com o Grande Prémio do Conto 2002 Camilo Castelo Branco, da Associação Portuguesa de Escritores.

Na estrada desde abril de 2015, a Viagem Literária completou já 10 etapas em Portugal continental e 2 grandes sessões nas Regiões Autónomas. Depois de Santarém, a Viagem Literária sobe até Leiria e vai continuar a percorrer as capitais de distrito de Portugal até à sua etapa final, em Viana do Castelo, cumprindo a sua missão de levar os escritores ao encontro dos seus leitores, contribuindo para a descentralização e democratização do acesso à cultura. Os espaços em que decorrerão as sessões serão, preferencialmente, os teatros municipais, por forma a permitir a participação de centenas de leitores, e os bilhetes serão gratuitos.

A “Viagem Literária“ tem espaços próprios de contacto com o grande público: no site da Porto Editora, no Facebook e no Instagram.

VLsantarem

Metamorfose em Agosto – poema de Nuno Júdice

METAMORFOSE EM AGOSTO

O verão solta os cabelos como a mulher
que se ergueu do leito e avança para o espelho,
com as mãos da manhã a viajarem pela sua pele. O que ela vê é o reflexo dos sonhos que as suas pálpebras fecharam para que o dia se não apoderasse de imagens que ela própria já esqueceu; e
quando despe a túnica da noite, olha
para os seios como se neles corresse o leite
que alimenta o desejo, e entrelaça nos seus
cumes os gestos trânsfugas do amor.

O verão, que subiu às açoteias do litoral
como o grito dos amantes que incendiou
a tarde e atravessou a terra com um calafrio
de nortada, transformou-se no carreiro
de formigas que se perderam da sua cova. Sigo-as
num caos de vagabundagem, como se elas me levassem ao encontro de uma recordação de madrugadas
de ócio, ouvindo a voz que ficou da insónia
emergir de uma dobra de lençóis, com
as sílabas exaustas de um imenso abraço.

E saúdo o verão que as trepadeiras possuíram
nos quintais anónimos de ruínas imprecisas, esse
que fez cair sobre nós o seu relâmpago de seda,
um sumo de palavras húmidas e a última ressonância de uma sombra de corpos.

A Convergência dos Ventos, Nuno Júdice, 2015, D. Quixote

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Luís Filipe Castro Mendes – Ministro da Cultura

O novo ministro da Cultura vai ser o embaixador Luís Filipe Castro Mendes, actual representante de Portugal junto do Conselho da Europa em Estrasburgo. (fonte Público)

Outro Ulisses Regressa a Casa é a sua mais recente obra de poesia publicada pela Assírio & Alvim.

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Sobre a Finitude, de Günter Grass

Subitamente, e contrariando todas as afrontas da velhice e da «finitude», quase tudo parece tornar-se, de novo, possível: cartas de amor, monólogos, dramas ciumentos, cantos do cisne, sátiras sociais e instantes de felicidade sucedem-se no papel. Subitamente, a prosa breve e ritmada encontra um eco polifónico numa épica sucessão de poemas exuberantes ou concisos e surpreendentes. Subitamente, assistimos a um alegre desdobrar de sentidos e narrativas que o desenhador completa ou complementa.

Só um artista amadurecido, que repetidamente escapou à morte, pode abordar estes temas de forma tão triste e astuta, tão sábia e sensata, sem nunca abdicar da sua combativa vitalidade.

Grass oferece-nos aqui um comovente conjunto de pequenas narrativas cristalizadas em miniaturas artísticas que se manifestam no presente. Em Sobre a Finitude o Prémio Nobel da Literatura cria, através de uma fascinante e recíproca dinâmica entre poesia, prosa e ilustração, a sua derradeira obra de arte.

Nota de Imprensa D. Quixote.

SobreaFinitude

A Noite não é Eterna, de Ana Cristina Silva

Este romance abre com a frase: “Na semana antes de o marido lhe levar o filho…” A escolha do verbo não é inocente: levar, não retirar ou raptar. Podia ser levar para um colégio militar ou para uma escola de elite do regime, estamos nas mãos do narrador, entregues aos seus caprichos. Mas o que aconteceu nessa semana? Ficamos condicionados por um presságio, ou ser-nos-á revelado algo que condicionará toda a ação do romance? Deve um autor apiedar-se do leitor?

A ação deste romance decorre numa Roménia dominada por Ceausescu. Uma ditadura que abusa do poder policial de forma arbitrária, a fim de dominar os cidadãos pelo medo, forçá-los a um permanente estado de autovigilância, a abster-se de pensar desconfiados das palavras que lhes habitam as ideias.

Quem falasse com imprudência arriscava a cair em desgraça, arrastando a família consigo. Foi assim no tempo de Ceausescu.

Leia a minha recensão no Acrítico, leituras dispersas.

acsilva - 200

 

Madame Bovary, por Cristina Vittoria, en Zenda

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=EcktBShOLHg&w=560&h=315]

Cristina Vittoria tiene 23 años. Graduada en Educación Infantil, es actriz de doblaje, locutora de anuncios publicitarios y modelo de fotografía. Lectora empedernida, incapaz de imaginar un mundo sin libros, su sentido del humor y su talento hacen posible esta sección en la que pasa revista a los personajes femeninos más destacados de la literatura.

Zenda – autores, livros & cia

Arturo Pérez-Reverte promotor da iniciativa: “Nos hemos esforzado, y lo vamos a seguir haciendo durante mucho tiempo, a fin de que transitar libremente por Zenda sea un privilegio de fácil acceso para cualquiera que a título de ciudadano, transeúnte o simple turista ocasional desee visitar o habitar este simpático territorio. Así que, desde hoy, las fronteras de Zenda, lugar del literario país de Ruritania que imaginó Anthony Hope, están abiertas para todos. Sean bienvenidos. Feliz estancia y felices libros.”

Zenda – autores, livros & cia.

Zenda – autores, livros & cia

Autores de língua espanhola uniram-se num espaço independente onde os leitores podem encontrar sugestões de livros, críticas literárias e entrevistas. Um território de livros e amigos.
Arturo Pérez-Reverte é um dos promotores da iniciativa.

“Nos hemos esforzado, y lo vamos a seguir haciendo durante mucho tiempo, a fin de que transitar libremente por Zenda sea un privilegio de fácil acceso para cualquiera que a título de ciudadano, transeúnte o simple turista ocasional desee visitar o habitar este simpático territorio. Así que, desde hoy, las fronteras de Zenda, lugar del literario país de Ruritania que imaginó Anthony Hope, están abiertas para todos. Sean bienvenidos. Feliz estancia y felices libros.” Arturo Pérez-Reverte.

A página oficial.

Zenda

Gramática do Medo – Maria Manuel Viana e Patrícia Reis

Amigas inseparáveis, Mariana e Sara partilham tudo desde que se conhecem (um curso de teatro e cinema, uma carreira difícil, amigos, ex-namorados, dinheiro e um quotidiano nem sempre fácil), até ao dia em que uma delas desaparece, misteriosamente, durante um cruzeiro pelo Mediterrâneo. Poucas são as pistas que deixa atrás de si mas, numa demanda que a irá levar a correr mais de metade da Europa, Sara tenta encontrá-la. O que vai descobrindo leva-a a perceber que, afinal, há muita coisa na vida da amiga que desconhece. Porque desapareceu Mariana, que fantasmas a perseguiam, do que quis fugir? Numa viagem simultaneamente interior e geográfica, esta é também a história do desaparecimento do sujeito na civilização actual, da dissociação da vida comum, da fragmentação da memória e da ténue fronteira entre ficção e realidade.

Uma história escrita a quatro mãos por Maria Manuel Viana e Patrícia Reis.

Nota de Imprensa da D. Quixote.

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O Amor em Lobito Bay, de Lídia Jorge

Todos os contos reunidos neste livro têm vários elementos em comum: a acção decorre num espaço longínquo, a narrativa desenvolve-se em torno de uma revelação demolidora, a memória funciona como uma catarse que o tempo se encarrega de prolongar de modo a não poder ser esquecida. Como no primeiro conto, O Amor em Lobito Bay, que dá título ao volume, em todos existe uma história de amor, no sentido mais amplo do termo, que entrecruza a experiência da confiança na vida com o desconcerto do mundo. E à imagem da criança que deseja comer o coração de uma andorinha, em todos os outros contos ocorre a experiência de uma decepção inaugural transformada em sabedoria.

São contos sobre a marcha humana que não pára de reiniciar continuamente os seus primeiros passos. Contos que parecem chegar até nós com a finalidade de inquietar porque subvertem uma ordem e, ao mesmo tempo, têm o condão de aquietar porque propõem uma clarificação.

Nota de Imprensa da D. Quixote.

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Mediterrâneo – lançamento no Porto

Sessão de lançamento do livro de poesia Mediterrâneo de João Luís Barreto Guimarães.

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O gato não quer movimento

Longas tardes passa o gato espojado
a meditar (de quem é o gato o espectro
cabe ao gato
revelar). A manhã inteira ocupado a
anular movimentos
(uma folhinha pelo chão
a teimosia do vento) coisas
que façam barulhos ou se movam insistentes:
no seu território
não.
Ruínas a toda a volta. Silêncio
dentro do silêncio. O
próprio tempo parado para
dar o exemplo.

Mediterrâneo, de João Luís Barreto Guimarães, 2016, Quetzal

saiba mais aqui

Candeias de Barro, de Osho

O novo título de Osho, o autor indiano de maior sucesso, e chega às livrarias dia 8 de abril. Este livro é uma obra-prima deste conceituado místico e está repleto de elegantes e esclarecedoras histórias, que permanecerão na consciência daqueles o que lerem. Candeias de Barro é um livro pequeno de formato, mas grandioso na capacidade de transportar os leitores ao mais íntimo do seu ser.

(Nota de Imprensa da Pergaminho)

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As Coisas Que os Homens me Explicam – Rebecca Solnit

Neste conjunto de textos, a desigualdade de género é analisada através de diferentes manifestações de violência contra as mulheres, facilmente observáveis, mas quase sempre desvalorizadas pela sociedade em geral. Do tratamento condescendente ao silenciamento, são múltiplas as formas de opressão e violência sobre as mulheres: a descredibilização, a exploração, a agressão física e, em alguns casos, a morte.

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Solnit começa por contar um episódio cómico, em que um homem lhe explica um livro que não leu e que foi ela que escreveu. Este episódio deu origem a um texto postado no blogue «TomDispatch» e teve uma repercussão enorme. Foi assim cunhada a palavra mansplain para a linguagem condescendente usada pelos homens quando explicam às mulheres coisas que elas sabem e eles, muitas vezes, não sabem.

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Rebecca Solnit é escritora, jornalista e historiadora da cultura. É feminista, ativista de questões ambientais e dos direitos humanos. Multipremiada autora de mais de uma dezena de títulos publicados, Solnit colabora regularmente com as revistas Bomb, Wired e Harper’s Magazine. Wanderlust: A History of Walking, A Field Guide to Getting Lost e River of Shadows (galardoado com o National Book Critics Circle Award e o Mark Lynton History Prize) são alguns dos seus livros mais importantes. Em 2015, a Quetzal publicou Esta Distante Proximidade.

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Nota de Imprensa da Quetzal

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Está um rapaz a arder – Eduardo Pitta

Está um rapaz a arder

Está um rapaz a arder
em cima do muro,
as mãos apaziguadas.
Arde indiferente à neve que o encharca.
Outros foram capazes
de lhe sabotar o corpo,
archote glaciar.
Nunca ninguém apagou esse lume.

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Desobediência – poemas escolhidos, Eduardo Pitta, 2011, D. Quixote.

Um livro que reúne poemas de Eduardo Pitta escritos entre 1971 e 1996. É uma edição definitiva da sua obra poética, quer em termos de fixação de texto quer pela exclusão de alguns poemas que o autor decidiu retirar da sua obra.

Um livro que, conforme diz o escritor Nuno Júdice no prefácio, confere «à poesia de Eduardo Pitta um lugar próprio na literatura contemporânea na nossa língua portuguesa.»

A NAIFA nas Noites Ritual 2012 “Rapaz Arder”
Luís Varatojo – Guitarra Portuguesa
Maria Antónia Mendes (Mitó) – Voz
Samuel Palitos – Bateria
Sandra Baptista – BaixoPorto, 1/09/2012 – Jardins Palácio Cristal

O gato não quer movimento – João Luís Barreto Guimarães

O gato não quer movimento

Longas tardes passa o gato espojado
a meditar (de quem é o gato o espectro
cabe ao gato
revelar). A manhã inteira ocupado a
anular movimentos
(uma folhinha pelo chão
a teimosia do vento) coisas
que façam barulhos ou se movam insistentes:
no seu território
não.
Ruínas a toda a volta. Silêncio
dentro do silêncio. O
próprio tempo parado para
dar o exemplo.

Mediterrâneo, de João Luís Barreto Guimarães, 2016, Quetzal

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Ronaldo Werneck e o rio de Minas | Adelto Gonçalves

I

Tantos anos depois do desaparecimento de Rosário Fusco (1910-1977), romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e crítico literário reconhecido pela crítica como o menino-prodígio do Modernismo brasileiro, um verdadeiro precursor do supra-realismo literário, Cataguases, pequena cidade da Zona da Mata de Minas Gerais, nascida em 1877 à época da “febre” pela busca de diamantes (afinal, nunca encontrados), continua a exibir seus talentos literários. Os mais notórios hoje são os romancistas e contistas Luiz Ruffato, Ronaldo Cagiano, ambos da safra de 1961, e Eltânia André.

Sem esquecer de Joaquim Branco (1940), que lançou, no ano passado, Pequena história da fundação de Cataguases. Ou de Guilhermino César (1908-1993), que igualmente exaltou e evocou a mítica Cataguases. Ao lado de outros expoentes do Movimento Verde, como Ascânio Lopes (1906-1929) e Francisco Ignácio Peixoto (1909-1986), que, com Guilhermino César e tantos outros, editaram a Revista Verde (1927-1929), publicação que teve colaboradores da estirpe de Mário de Andrade (1893-1945), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Aníbal Machado (1894-1964), Antônio de Alcântara Machado (1901-1935), Sérgio Milliet (1898-1966) e Ribeiro Couto (1898-1963), entre outros.

Da geração de Joaquim Branco, Ronaldo Werneck (1943) é outro literato que continua em plena atividade, como provam seus últimos lançamentos: O mar de outrora & poemas de agora (2014) e Cataminas pomba & outros rios (2012), livros de poemas entremeados por muitas fotos captadas pelo próprio autor e por sua esposa, Patrícia Barbosa, e outras de arquivo.

                                               II

Poeta de textos rápidos, instantâneos, fragmentários e, às vezes, simultâneos, Werneck é, no dizer do poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista W. J. Solha, autor do prefácio de O mar de outrora & poemas de agora, dono de um trabalho virtuosístico em cima da palavra. Solha cita como exemplo o poema “Fogalegre” em que Werneck brinca com o nome de Audrey Hepburn – happy, rap, help, burn –, tal como Shakespeare (1564-1616), 400 anos antes, pusera a sua assinatura em Antonio e Cleópatra, ao dizer que alguém, como um animal, shakes his ears.

Mais: compara-o, sem recorrer a hipérboles, a Guimarães Rosa (1908-1967), Millor Fernandes (1923-2012), James Joyce (1882-1941) e Ezra Pound (1885-1972). De fato, Werneck, depois de deglutir toda a experiência poética do século 20, é hoje um dos poucos poetas brasileiros capazes de recorrer a todas as formas possíveis de fazer versos para expressar o seu testemunho de um mundo desgovernado, pois a vida é breve/ tome lépido o leme e engrene/ torne-a leve/ não deixe que ela se apequene, como diz no poema “Lemeleve”. É o que se pode ver também em “23.10.13”, poema em que diz: hoje tenho setenta/ e de novo e sempre/ a vida me inventa/ aos setenta e a cada dia – vírus que me adentra – tomado sou pela poesia.

Como se percebe, o livro constitui o resultado do deslumbramento do poeta pela vida e um balanço de seus setenta anos, a partir da infância em Cataguases, a atração pelo mar tão distante, a vida errante pelo Rio de Janeiro, Bahia e as viagens pelo mundo: Paris, Nova York e Barcelona, até o retorno a Cataguases na idade madura.

                                                III

            Cataguases é também homenageada em Cataminas pomba & outros rios, com o poeta recuperando na memória pedaços de sua infância, figuras marcantes de Cataguases, tipos populares, os seus familiares, seus amigos, como observou Manuel das Neves (1914-1999) em prefácio que escreveu em 1977 para Pompa Poema, livro-gênese deste. Como resumo, bastam as palavras deste poema:

 

(…) nada vale com algemas

pois a palavra é poesia

                                   e a poesia morreu

são cibernéticos os contatos

dos homens com os homens

            e dos homens com as coisas

mas nos lados de santa rita

lá entre djaniras lá

entre faculdades orfanatos lá

em meio ao paço centenário lá

entre marciers encobertos

lá entre andorinhas suspeitas lá

a sé velha

bate que bate

diz o vate guilhermino

homenino diz-que lá

a poesia chegará

aos verdes fordes gêmeos do ascânio

se transmutam

                        se debruçam

ainda como gerânios

e levam

upa!

o mesmo sonho na garupa

e trotam belos galgos fidalgos

amarelos burros bucólicos

burricos borrando o município (…)

 

Ninguém definiu tão bem a poesia de Werneck quanto o professor Fábio Lucas, igualmente de alma mineira, para quem só se pode entrar neste livro “como quem ingressa num sonho, puxado por um rio sem foz”. Para ele, Werneck sempre levou em suas lembranças Cataguases, ainda que tenha percorrido o mundo: “Onde quer que tenha estado poeta, corria no seu íntimo o rio de Minas”. Melhor definição, impossível.

                                               IV

Nascido em Cataguases, Ronaldo Werneck morou por mais de 30 anos no Rio de Janeiro, mas voltou a viver em sua cidade natal ao final do século passado. Jornalista e crítico, colaborou com jornais e revistas cariocas, como Jornal do Brasil, Pasquim, Diário de Notícias, Última Hora, Revista Vozes, Revista Poesia Sempre e Revista História, ambas da Biblioteca Nacional. Em 2013, organizou a edição especial sobre Cataguases para o Suplemento Literário Minas Gerais. Desde 1968, colabora com esse Suplemento, onde publicou poemas, resenhas e algumas críticas de cinema.

Poeta, tem mais seis livros publicados: Selva Selvaggia (1976), pomba poema (1977), minas em mim e o mar esse trem azul (1999), Ronaldo Werneck Revisita Selvaggia (2005), Noite Americana/Doris Day by Night (2006) e Minerar O Branco (2008). Lançou em 2009 o livro-ensaio Kiryrí Rendáua Toribóca Opé – humberto MAURO revisto POR ronaldo WERNECK e os livros de crônicas Há Controvérsias 1 (2009) e Há Controvérsias 2 (2011). Em 2001, gravou em show ao vivo o cd Dentro & Fora da Melodia/Que papo é esse, poeta?

Ensaísta, tradutor e crítico de literatura, cinema e artes plásticas, Werneck tem textos e artigos publicados em vários veículos da mídia. Desde os anos 1990, assina a coluna “Há Controvérsias”, publicada em vários blogs e no jornal O Liberal, de Cabo Verde. Produtor Cultural, foi um dos realizadores dos dois Festivais Audiovisuais de Cataguases – Música e Poesia (1969/1970) e coordenador da exposição Os Mineiros do Pasquim, em 2008.

Videomaker, editou em 2009 dois filmes sobre a trajetória do cineasta Humberto Mauro, sOLdade e mauro move O mundo. Membro do Pen Clube do Brasil, é verbete da Enciclopédia da Literatura Brasileira, da Academia Brasileira de Letras, e do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

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Cataminas pomba & outros rios – poemas, de Ronaldo Werneck. São Paulo: Dobra Editorial, 268 págs., 2012. Site: www.dobraeditorial.com.br

 

O mar de outrora & poemas de agora, de Ronaldo Werneck. Belo Horizonte: Anome Livros, 176 págs., 2014. Sites: www.anome.com.br www.ronaldowerneck.com.br

E-mail: roneck@ronaldowerneck.com.br

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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

O Gerente da Noite, de John le Carré

Um dos livros mais emblemáticos de John le Carré deu origem a uma série com o mesmo nome, O Gerente da Noite, protagonizada por Tom Hiddleston e Hugh Laurie e que brevemente poderá ser vista na TV.

No início de tudo, Jonathan Pine é apenas o gerente da noite num hotel de luxo. Mas quando uma tentativa isolada para passar informações às autoridades britânicas – sobre um homem de negócios com transacções suspeitas no hotel – resulta em consequências terríveis, e pessoas próximas a Pine começam a morrer, ele empenha-se numa batalha contra forças tão poderosas que nem pode imaginar.

Numa história arrepiante sobre agências de inteligência corruptas, etiquetas de preço de milhões de dólares e a brutal verdade do comércio de armas, John le Carré cria um mundo claustrofóbico onde não se pode confiar em ninguém.

Nota de Imprensa da D. Quixote.

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Uma outra memória – Manuel Alegre

“Cada língua – como escreveu George Steiner – é um acto de liberdade que permite a sobrevivência do homem. É certo que hoje os novos oráculos não estão em Delfos. Estão nas bolsas e nos mercados. Mas a fonte de Castália não secou. A escrita poética preserva o sagrado e é uma forma de resistência contra o grande mercado do mundo e a degradação da vida.
Hoje, como sempre, poesia é liberdade.”

Estas palavras de Manuel Alegre estão inscritas num texto intitulado Uma Visão Poética, um dos muitos que fazem parte do livro Uma Outra Memória, cuja apresentação pública estará a cargo de José Manuel Santos e terá lugar no dia 7, às 18:30, no auditório da Biblioteca Nacional.

(Fonte D. Quixote)

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