Gabriela Ludovice (Lubango) Formou-se em Filosofia. Experimentou de forma baldia algo de teatro, rádio e fotografia. Publicou um livro de pensamentos/poemas “Caixinha com rodas”, Ed. GEIC, Lx, 2006, colaborou com texto para um […]
Tornar o mundo um miolo, achatá-lo com peso de corpo sobre o tampo atoalhado da mesa, arredondá-lo sob a palma linhosa da mão que o sente ínfimo desperdício, coisa que se pode perseguir […]
As botas embatem surdas com os olhos excitados, na terra de ainda veios vermelhos. Separamo-nos para iludir a nossa figura avolumada pela carga, por entre a ronceira folhagem de cheiros silvestres, que mal […]
Afinal uma bala é só o começo do barulho nos olhos. Este ruído é provocado pelo silêncio de quem se está a afastar depois que deixou uma bomba na concha das mãos de […]
Vamos dar um passeio, sugeriu ele já era escuridão. Ela acelerou-se de alegrias, compondo a saia. Baixaram a rua OKM-474, as intensas chuvas tinham gizado fundura, estrias na terra, eles tinham de inclinar […]
Atar os sapatos à alma, como se fosse ela uma coisa de possível entendimento. Ou nalgum bolso junto à carne, trazê-la num postal de mostrar aos outros ou sê-la como se um cachecol a […]
Há uma zoada de coisas que se amontoam, arrastadas como vestuário longo sobrando do tamanho do corpo. Um ruído surge do serem compelidas até ali e soa como o estrépito já em lama […]
O seu todo pensamento anda inclinado, nessa procura do que parafrasear com os dentes. Está aturdido por dentro, mesmo sem fomentar brusquidão no corpo ou misturar altitudes. Um pé só é possível trás […]
Com Hashmukh começou por ser a incerteza da vestimenta, a incomodá-lo a diário. Ora não se convencionava com a cor da pele ou com as feições adquiridas no sono, ora distorcia a competente […]
De cor o escuro que apadrinha o tecto e quando torço a cara, o resto do quarto e mais para lá ainda o corredor. Chamam-lhe insónia. Na cabeça, brechas. Na estante, coisas para […]
“ As girafas passeiam-se ao fundo do cérebro” Esse sentimento vem-me por ver a sua esparsa barba sobre a pele negra, a pedir a ponta dos meus dedos. Procuro-o, para só olhá-lo. Gasto horas […]
Um dia queimei a biblioteca da cidade na minha cabeça, sem piedade por nenhum dos autores e fui-me sentar no chão a comer com as cabras e a olhar o mar, que estava […]
Experimentemos a rua inclinada da urbe. A vitrina que se sucede à vitrina, em fileira na via que para uns sobe e para outros desce, serve o próprio, não para se imaginar em […]
Ele usa uns olhos lânguidos, dir-se-ia que em cada um há um animal que se espreguiça com todas as linhas do corpo. É-me usurpada toda a coerência por um momento, ele olha-me de […]
Ser consciencioso é estranhamente, por vezes, denegrir a parte pela qual a consciência se sente menos atraída. A consciência é apenas o instrumento, que nos permite inclinar a existência mais para um lado do […]
Ele traduz uma palavra com cuidados de mãe, por uma outra que ele sabe, mas não eu. Levaria o resto da vida para perceber onde põe ele as cores numa cidade, se lhe […]