Promenade

Vamos dar um passeio, sugeriu ele já era escuridão. Ela acelerou-se de alegrias, compondo a saia. Baixaram a rua OKM-474, as intensas chuvas tinham gizado fundura, estrias na terra, eles tinham de inclinar os pés como os carros a carroçaria e adivinhar segundos antes os agudos pedregulhos, para pouparem os dedos despidos dos pés.

Sempre atrás dele alguns passos, chegados à rua principal, ela seguiu-o; primeiro, como se Idrissa fosse um leão portentoso que orgulhosamente esquadrinhasse caminho; depois, confundindo os seus braços balançantes, nuca e cabeça com a própria boca da noite, temeu também perder o tom da camisa que ele levava, quando os faróis que apareciam em solavancos em vez de lhe apontarem as costas azuis, se cingiam às poças. Gritou-lhe aturdida, quero ir para casa. Ele perguntou-se por que era Chioma tão exigente e retorquiu feroz, temos de ver outras coisas, outras pessoas, outras ruas. Ela asseando-se com as costas das mãos, rolou o pó que se lhe colava à pele na face redonda e disse-lhe, isto não é um passeio. Não se vê nada. Não há iluminação nos arruamentos, só viaturas a roçarem-nos as pernas em conversa perigosa e vultos a sacudirem os seus pensamentos.

Ninguém passeia assim sem ter nada para mostrar, sem trocar de olhares após ver alguma coisa ou sem rir de mão dada, imaginou ainda ela.

Ele acrescentou convicto três passos mais adiante, estamos a passear e a ver outras coisas.

Ela acreditou, em metade de si, na outra custava-lhe respirar.

Gabriela Ludovice