Era uma vez um livro insubmisso.
Começou a passar palavra.
O número de livros insubmissos não tardou a aumentar. Um deles, editado na quadra natalícia, lembrou-se de impedir a presença do Pai Natal nas suas ilustrações. A atitude, considerada intolerante, vedou-lhe a possibilidade de qualquer resenha nas páginas culturais de jornais e revistas.
A vozearia tornou-se insuportável. Os livros saíram à rua, dirigiram-se para as grandes superfícies. Derrubaram expositores, escaparates, prateleiras. Alguns sabiam explicar bem as razões da insubmissão. Outros menos. O tempo foi passando. Pontuado por tumultos.
Acabaram todos guilhotinados (coisa que, dizem, já só pode acontecer aos livros), acusados de terroristas e inimigos da democracia.
João Pedro Mésseder