O LUTO NÃO TEM IDADE

Batem-me devagar sonhos idos, vindos, ou que sejam, esta maresia ambulante de livros à beira-mar lubrifica-me, ainda que com sons de espuma, ver partir tardes e vidas confunde, ver fins assim tambem, mas não me morro nas mãos desse dia em hospitais da cidade confundida com os meus choros quotidianos. Hoje, desci à baixa das iras difusas onde te queria num abraço, onde um sorriso ao balcão da brasileira de que chiado, onde que praça do comércio ver Pessoa recitar-te num

guarda-napos de brandy, nem que fim este dia seja, nem que finde viver vivo, sinto ainda vibrar em mim este sangue de glória sem que a glória me convide a ver-te ou a confidenciar-te. Batem-me devagar sonhos mas com sonhos a viver em mim, comigo. Vou calar-me uns segundos meu amor.

O luto não tem idade.

Vítor Burity da Silva