A Filha do Papa, de Dario Fo

Nesta versão romanceada da vida de Lucrécia Borgia, Dario Fo não esconde o fascínio pela heroína, exaltando as suas qualidades de liderança e de resiliência. Lucrécia, vítima dos interesses do pai e do irmão, é forçada a casamentos que não deseja e vê os seus maridos desaparecerem à medida que outras alianças, mais promissoras, surgem aos olhos do seu progenitor. Por uma ironia do destino e por um breve período de tempo consegue liderar a corte Papal ou o destino do ducado de Ferrara.

 

Este livro apresenta uma estrutura que denuncia ter sido inicialmente concebido como uma peça de teatro e que, pela sua extensão, se transformou num romance. A trama de intrigas alimentadas pelo pai de Lucrécia ou pelo quase omnipresente irmão, desenrola-se de uma forma teatral. Alfonso, um dos seus maridos, é empurrado para um local onde, por um orifício, pode assistir dissimulado à conversa de Lucrécia com o irmão e que atesta a inocência desta na sorte que lhe está reservada. Os capítulos separam-se com uma breve descrição de entrada, como os separadores de cena usados no teatro.

Dario Fo dá-nos uma mulher em permanente fuga e que apenas pretende encontrar um lar como o da infância, quando brincava com os irmãos e, nessas brincadeiras, gostavam muito uns dos outros.

Escrever sobre Lucrécia Borgia é como andar em equilíbrio sobre o fio do impossível diante da beleza absoluta. Diz o autor e essa foi a sua arte maior.

(texto publicado no Acrítico, leituras dispersas)

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