VARELA GOMES, de António Louçã

HISTÓRIA DOS VENCEDORES NÃO É MAIS DO QUE UMA PARTE DA HISTÓRIA. 

Das biografias contemporâneas, a mais silenciada na História dos vencedores é, sem dúvida, a de João Varela Gomes. Em 1961, foi o primeiro militar no activo a candidatar-se pela oposição democrática. A sua enérgica agitação tornou-o na figura mais popular da campanha eleitoral – para muitos, «um novo Humberto Delgado». Pouco depois, na Revolta de Beja, pegou em armas contra a ditadura, tendo ficado gravemente ferido. Sobreviveu e enfrentou o Tribunal Plenário com um discurso que teve eco na imprensa internacional. Cumpriu a pena e, após o 25 de Abril, foi reintegrado no Exército como coronel.

Durante a Revolução, dirigiu de facto a 5ª Divisão, que teve um papel decisivo para derrotar o golpe de 11 de Março de 1975. No 25 de Novembro, tentou opor-se ao estado de sítio, tendo, por isso, sido alvo de um mandado de captura e apontado no New York Times e no Le Monde como chefe de uma suposta insurreição. Depois de ter sido, em 1962, o primeiro a pegar em armas contra a Guerra Colonial, era, em 1975, o último a depor as armas perante a contra-revolução. Exilou-se e regressou a Portugal em 1979, ao abrigo da Lei da Amnistia. Nos anos seguintes, manteve uma incansável agitação política. Esta é a biografia de um homem que nunca se rendeu.

ANTÓNIO LOUÇÃ

Mestre em História Contemporânea. Viveu em Berlim na primeira metade dos anos 90, tendo nesta cidade iniciado a investigação sobre a receptação de ouro nazi por Salazar, tema sobre o qual editou vários livros e fez um documentário para a RTP. Publicou depois, com a historiadora Isabelle Paccaud, uma investigação sobre a condecoração nazi atribuída ao dirigente judeu português Moses Amzalak. Com a jornalista Sofia Leite, fez dois documentários sobre a História portuguesa do séc. XX.

Foi o representante dos trabalhadores no Conselho de Opinião da RTP, membro da Comissão de Trabalhadores da RTP e membro do Conselho Fiscal do Sindicato dos Jornalistas. É jornalista da RTP.

(Fonte: Editora Parsifal)

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Fundação José Saramago – o futuro do jornalismo

A partir de 15 de Abril, o auditório da Fundação José Saramago recebe um ciclo de debates que tem como objetivo discutir o futuro do jornalismo. Trata-se de uma parceria entre a iNova Media Lab, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Instituto Cervantes em Lisboa e a Fundação José Saramago que pretende promover um diálogo aberto e construtivo em torno de soluções para os desafios futuros da prática jornalística e dos meios de comunicação.

 Os dois primeiros convidados do ciclo são o jornalista espanhol Alfonso Armada e o escritor e gestor cultural António Mega Ferreira. O primeiro debate deste ciclo terá lugar no dia 15 de Abril (sexta-feira), às 18h30, no Auditório da Fundação José Saramago e tem como tema: «Quem fará jornalismo no futuro».

 A proposta é promover, a cada dois meses, um encontro. Em Junho o ciclo contará com a presença do jornalista R. B. Brenner, ex-Washington Post e diretor da School of Journalism da Universidade do Texas (Austin) e António Câmara, cientista da informação e Prémio Pessoa 2006. O tema do encontro será: «Como se fará o jornalismo do futuro».

 O ciclo de debates, que conta com o apoio da rádio Antena 1 e da produtora de conteúdos Bagabaga, estender-se-á até 2017. A entrada para todas as conversas é livre, sujeita à lotação da sala.

Quem são:

Alfonso Armada (Vigo, 1958) – Jornalista formado pela Universidade Complutense de Madrid, trabalhou nos jornais El País, onde foi correspondente para a África, e no ABC, onde foi correspondente em Nova Iorque. É autor de três livros de reportagens: Cuadernos AfricanosEspaña de sol a sol e El rumor de la frontera.

 António Mega Ferreira (Lisboa, 1949) – Formado em Direito e em Comunicação Social, é autor de algumas dezenas de livros de ficção, ensaio e poesia. Fundou e dirigiu a revista Ler e colaborou como cronista para diversos meios de comunicação em Portugal. Foi comissário executivo da Expo’98 e administrador da Parque Expo, Oceanário de Lisboa e Pavilhão Atlântico.

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Leiteira e Leitora

Todos os leitores deste blogue se lembram certamente do nome de Gabriela Ruivo Trindade, que venceu o Prémio LeYa em 2013 com um romance polifónico intitulado Uma Outra Voz. Pois ela regressa agora aos escaparates e, ainda por cima, não vem sozinha: acompanha-a brilhantemente Rute Reimão, uma ilustradora meticulosa e imaginativa que não faz nada ao acaso e gosta de trabalhar com tecidos, papéis antigos e colagens. A feliz dupla é, assim, responsável por um dos mais bonitos e interessantes livros infantis que publiquei.

(ler mais em Horas Extraordinárias de Maria do Rosário Pedreira)

Mais sobre o livro.

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A Noite Não É Eterna – lançamento na Livraria Barata

A Roménia, sob o jugo do ditador Nicolae Ceausescu, atravessa um dos piores períodos da sua história, com a sua população a enfrentar a fome e dominada pelo terror. Seguindo as orientações do Presidente para a criação de um exército do povo no qual os soldados seriam treinados desde crianças, Paul, um ambicioso funcionário do partido, decide levar de casa o filho de três anos e entregá-lo aos cuidados do Estado. Quando a mãe se apercebe do desaparecimento do pequeno Drago, o desespero já não a abandonará, bem como o firme desejo de acabar com a vida do marido.

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Convite A Noite nao eCorrendo riscos tremendos, Nadia não desistirá, porém, de procurar o menino, ainda que para isso tenha de forjar uma nova identidade, de fazer falsas denúncias, de correr os orfanatos cujas imagens terríveis chocaram o mundo e até de integrar uma rede que transporta clandestinamente crianças romenas seropositivas para o Ocidente. Mas será que o seu sofrimento pode ser apaziguado enquanto Paul for vivo? Enquanto o ditador for vivo?

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– See more at: http://dasletras.com/curtas-e-eventos/a-noite-nao-e-eterna-ana-cristina-silva/#sthash.I7gYHD2d.dpuf

Quarto de Despejo, Um Clássico Escrito Com Fome, Tristeza e Dor | De Carolina Maria de Jesus | by Silas Corrêa Leite

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  • Eu era muito guri de tudo, quando se assomou em minhas mãos de imberbe leitor voraz e precoce, o livro QUARTO DE DESPEJO de Carolina Maria de Jesus, Diário de uma Favelada, em edição acho que do Clube do livro, tipo livro de bolso, e que à época por assim dizer era meio que mal visto, algo censurado nas famílias, aqui e ali algo pecaminoso, se é que me entendem… Eu mal-e-mal era um rapaz de cabelo na testa que amava os Beatles e Tonico e Tinoco. Vão vendo. Eu romântico, virgem, algo bocó de mola, fiquei cismado com o livro que me assustou, a miséria contando, uma favela, uma negra. O que mesmo que era favela? Brasil de anos 50, 60. Eu que era inocente puro e besta, li o livro como um susto, um coice, uma apuradíssima noção de real que da narrativa a palo seco não compreendia de pleno, inteiro, nem poderia, na minha casa em Itararé, em que estávamos todos felizes e ninguém estava morto…
  • Então aquilo existia, realmente, de pobre, negro, mãe solteira, favelada? A catadora de papel expunha sua vida-livro também. Doía ler. Sua cruel realidade arrebentava em nós. Ela falava pela mão da miséria, pelo punho pesado do dezelo. Literatura-verdade, literatura-documentário. As mães, filhas da pátria, num canto, no ermo, sem eira e nem beira, dando testemunho de sua vida, em páginas de sangue, suor, lágrimas. E fome, angustia, solidão, miséria, medo-ranço, dor. Será o impossível? Tem cabimento? Atinei-me com aquilo todo de um historial marrento. A dor escrevendo errado por prismas contundentes. Que despejo de vida, hein?
  • O livro que depois reconhecidamente virou bestseller e ganhou edições planeta afora, trazia um mundo desconhecido pra mim, um sonhador, um pobrinho que pelo menos era rico de família, de pai, rico de mãe. Mas havia aquela realidade sendo escrita a ferro e fogo. E eu lendo aquele desmundo, um quarto de despejo. O dia-a-dia de uma favelada, sem estudos, carente, sofrida, abandonada, a própria dificuldade da autora para obter comida, para o sobrevivencial de cada manhã. A coragem de Carolina Maria de Jesus, a sua sensibilidade, a sua contação, a sua narrativa, tudo isso mexendo com os medos da gente, os brios instintais da gente, a mente atiçada de um eterno aprendiz da alma humana, já na formação da persona ali, sondando de butuca mundos e fungos, ícaros e ácaros… amor e flor, amor e dor na capital daqueles tempos que não voltam mais…
  • Audálio Dantas, um jornalista hoje de renome e premiado, descobriu os diários da favelada. A história sangrava pelos cotovelos. O faro fino do repórter iniciante que depois se consagraria por uma postura ético-plural comunitária, ali vendo o corpo nu de uma vida, de uma história que merecia ser levantada dos escombros do chão, de uma sofrência, de uma dura sobrevivência a ferro e fogo. A fome, a principal personagem. O livro gerou polêmica, a fome ganhou um símbolo, a cor amarela, a tragédia foi pontilhada, o sofrimento revelado ao mundo, em mais de vinte países, e os quartos de despejos aumentando a enorme divida social nesse Brasil de tantas riquezas impunes, de muitos lucros injustos, de várias propriedades roubos, e essa enorme dívida social desde a libertação dos escravos que libertou mas não indenizou, depois a falta de uma reforma agrária, o golpe da canalha de 64, até o dezelo publico amoral de um presidente comunista, ateu e sociólogo, que deu com os burros nágua, privatarias, terceirização neoescravista, o funesto neoliberalismo câncer e o Brasil S/A criou outras tantas Marias, Carolinas, Alices, Clarices, Anas, todas numa abandonada periferia a deus-dará… feito uma Favela Ordem e Progresso…
  • Carolina Maria de Jesus virou um mito. Quarto de despejo tornou-se um clássico. Certamente que daria o roteiro de um belo filme ou minissérie. A dor da gente não sai no jornal? Mas sai nos livros, rompe becos, guetos, palafitas, porões, favelas e cortiços. Favores, esmolas, caridades de percurso. “Quando pobre come comida forte, dá uma tontura”(pg 158,17 de Janeiro.). O livro virou um marcante e datado mosaico da luta dos moradores da Favela Canindé, de São Paulo de tempos idos, de décadas atrás, e na sua linguagem simplória, mas crucialmente dá testemunho de seu tempo, de sua dor, de suas amarguras. E diz ela, reproduzindo-se a linguagem dos seus originais: “Quando eu não tinha nada o que comer, em vez de xingar eu escrevia…”
  • O impacto de “Quarto de despejo” catapultou o sucesso de Carolina de Jesus para além das nossas fronteiras e dela mesma. Quando morreu, em 1977, morando em um sítio de sua propriedade, chegou a dizer que era melhor ter continuado a viver na favela. Em verdade, nunca lhe saíram da curtida pele os efeitos de sua pobre vida, como catadora de papel e intelectual da miséria”. *Uelinton Farias Alves.
  • E vai a contação: “Tive uma infância atribulada”. “Passei 23 anos mesclada com marginais”. “É preciso gostar de livros para sentir o que senti”. “Nós os pobres somos trastes velhos”. “Não há coisa pior na vida, do que a própria vida”. “Eu escrevi a realidade”. Esses são os gomos amargos das laranjas amargas da vida de Carolina Maria de Jesus, num verdadeiro testamento doloroso de uma alma, uma mente, um coração, tudo dizendo a que veio, tudo rompendo barreiras, estrebuchando, e botando as ideias para darem testemunho, e colocando a própria dor de existir para quarar na tábua de tristices da vida.

-0-

Silas Corrêa Leite, Professor, Jornalista Comunitário, diplomado Conselheiro em Direitos Humanos, Blogueiro e escritor premiado membro da UBE-União Brasileira de Escritores.

E-mail: poesilas@terra.com.br

Site com vida e obra da autora:  http://www.vidaporescrito.com/

Post-scriptum

 

Poema Historial

TRIBUTO HOMENAGEM

Poema Saudade Para Carolina Maria de Jesus

 

Carolina de Jesus, tu, ainda soas

Na consciência dos podres poderes

Desde muito tempo são tuas loas

E eles ainda sangram teus quereres

 

Ah se tu soubesses, poeta Carolina

Que as favelas aumentaram mais

Misérias já não estão nas surdinas

Mas ostentam sangue nos jornais

 

Teu livro, Carolina, tua triste vida

Hoje outras em periferias tantas

Divida social, uma severina ferida

Que banzos em tuas páginas cantas

 

Tantas Carolinas Maria de Jesus

Becos, cortiços, favelas, medos

Todos hoje lembram a tua cruz

E têm as deles; novos degredos

 

Escreveste a alma de um passado

Que no presente ainda é bem pior

O povo da periferia abandonado

E a riqueza impune cada vez maior

 

O município, quarto de despejo

Depois o estado, e no plano federal

Em cada excluído Carolina te vejo

Em teu enredo de lágrima ancestral

 

Negra, pobre, catadora, favelada, sensível, escreveste

A página de tua vida errante, em sangue, em lágrima, em pus

A bruteza do Brasil amalgamado em tua rica alma leste

Serás sempre brado retumbante, Carolina Maria de Jesus…

 -0-

Silas Corrêa Leite

Saga de um mundo sem rumo | Adelto Gonçalves

                                                           I

A História, geralmente, só preserva os nomes dos “grandes”, desde a Antiguidade até os nossos dias, embora essa postura tenha passado por certo revisionismo, desde que Lucien Febvre (1878-1956), co-fundador com Marc Bloch (1886-1944) da École des Annales, ao final dos anos 1920, defendeu a leitura microcóspica e a particularização dos assuntos históricos. Resgatar a história dos derrotados sempre foi difícil porque, raramente, eles deixaram relatos de suas vivências.

Esse é o grande problema com que se depara o pesquisador quando, por exemplo, procura escrever sobre o regime da escravidão no Brasil. Nos arquivos oficiais, por exemplo, só encontramos relatos dos escravocratas, geralmente fazendeiros que tinham tido acesso à educação formal. Dos “humilhados e ofendidos”, nenhum relato, até porque não sabiam ler nem escrever.

Assim também se dá na reconstituição da história política contemporânea. É, de certo modo, fácil reconstituir a história de um sindicalista que tenha ascendido na vida e chegado a ocupar cargos importantes num partido ou até mesmo no governo. Nunca faltam testemunhos daqueles que conviveram com ele na intimidade, a favor ou contra. Já o “revolucionário” que prestou serviços a um partido clandestino e à causa operária, mas que nunca deixou os subterrâneos da História, desse dificilmente podemos conseguir relatos sobre a sua militância. Décadas depois, não só serão raros os testemunhos desse período – quase sempre marcado por assassinatos e “desaparecimentos” – como a memória dos sobreviventes acabará por vacilar e trair os fatos.

Nesse caso, a única saída é recorrer à ficção, que pode adquirir foro de grandeza se quem a desenvolver for um escritor da estirpe de Claudio Magris, não só o maior romancista italiano da atualidade como um ensaísta incomparável. É o que se pode constatar em Às cegas (Alla cieca), romance de 2005 publicado no Brasil em 2009 pela Companhia das Letras em tradução de Maurício Santana Dias.

                                               II

Trata-se de um relato da vida de Salvatore Cippico, ou Cipiko, nascido em 1910, antigo militante do Partido Comunista italiano que, aos 80 anos de idade, encontra-se internado em fase agônica numa grande clínica psiquiátrica de Trieste, cidade na fronteira com a Croácia, que, no início do século XX, abrigou aquele que é considerado o maior romancista de todos os tempos, o irlandês James Joyce (1882-1941), e onde nasceu e viveu o judeu Ettore Schmitz (1861-1928), mais conhecido como Italo Svevo.

O relato de Cippico é feito ao médico que o acompanha, doutor Ulcigrai, que o incentiva a colocar no papel as suas aventuras. Provavelmente em função do mal de Alzheimer que o acomete, Cippico já confunde realidade com ficção, ao se assumir como Jorgen Jorgensen, aventureiro dinamarquês que viveu no século XIX e combateu durante as guerras napoleônicas, foi rei da Islândia por três semanas, fundou a capital da Tasmânia, Hobart Town, prisioneiro em Newgate e em Port Arthur e escreveu sermões e uma autobiografia, obviamente controversa, tal a aura fantástica que o cercava.

Sem saber bem quem é, confundindo o mundo vivido com o imaginado a partir de aventuras lidas ou ouvidas, Cippico é, na realidade, outro tipo de aventureiro, daqueles que embarcaram e naufragaram ao aderir a uma das utopias que empolgaram o século XX – o comunismo. A outra utopia – que não chegou ao poder – foi a anarquista e não a liberal, ao contrário do que se lê no texto de apresentação na “orelha” do livro. Até porque o liberalismo não surgiu como ideia de um ou mais pensadores, mas como resultado da própria experiência humana, ainda que não faltem teóricos liberais.

Obviamente, o capitalismo defendido pela ideia liberal não é só virtude nem tampouco tem como objetivo o bem-estar da sociedade, mas está comprometido apenas com o lucro daqueles que detêm o capital. Mesmo assim, é ainda o melhor regime econômico – talvez o único – já criado, ou ao menos aquele que apresenta mais virtudes que defeitos. E oferece oportunidades àqueles que sabem aproveitá-las. Cortar ou minorar os seus defeitos seria tarefa que caberia ao Estado, não fosse todo governo quase sempre um ajuntamento de corruptos.

                                                           III

            O relato de Cippico é a de um homem que viveu os mais conturbados episódios do século XX, combatendo na Guerra Civil espanhola (1936-1939), ao lado dos republicanos, que, como se sabe, eram influenciados pelo anarquismo catalão, e, depois, haveria de se engajar na resistência italiana ao fascismo de Benito Mussolini (1883-1945). Preso e torturado, seria deportado para o campo de concentração de Dachau, na Alemanha nazista, onde contraiu tuberculose óssea. Ao sobreviver, iria lutar pela construção do socialismo na Iugoslávia, do marechal Josip Broz Tito (1892-1980).

Em 1947, Cippico migrou para a Iugoslávia com mais dois mil monfalconeses – ou seja, trabalhadores dos estaleiros navais de Monfalcone, na Itália –, a pretexto de ajudar a construir o socialismo e trabalhar nas construções de Fiume, atual Rijeka, na Croácia. Mas, depois do rompimento de Tito com Josef Stalin (1878-1953), Cippico é preso e acusado pelos iugoslavos de membro do Cominform (birô comunista de informações que pretendia resgatar as ligações institucionais dos partidos comunistas do mundo inteiro). Seria deportado em 1949 para o gulag de Goli Otok, a ilha Nua ou Calva, no mar Adriático, onde acabaria submetido, como os demais, a trabalhos desumanos, sevícias e torturas.

Em outras palavras: depois de torturado pelos asseclas do nazismo, aquele que daria os melhores anos de sua vida pela causa socialista seria torturado exatamente por aqueles que diziam construir o socialismo na Terra. Ao lado dos companheiros, “que tinham decidido deixar tudo, casa, trabalho, pátria, para ir à Iugoslávia construir o socialismo”, Cippico seria acusado de espião de Stalin, de traidor da Iugoslávia, de inimigo do povo e, em seguida, torturado e deportado para uma ilha, perdendo por isso todas as esperanças que poderia ter na espécie humana.

Tateando no escuro, às cegas, num mundo que parece ter perdido o seu rumo, Cippico confunde-se com Jorgen Jorgensen, ao rememorar sem parar: “(…) envelhecer, adoecer, ver morrer os amigos, acertar as contas com a infâmia, a vergonha e a traição que você traz dentro de si. E como se esse acúmulo não bastasse, ainda o amor? É uma guerra muito dura, entende-se perfeitamente que às vezes não resta nada senão desertar”.

                                                           IV

            Para este resenhista, igualmente a caminho do ocaso de sua vida, estas imagens do Adriático e de Trieste são evocativas porque lembram uma tarde de agosto de 1982, ao pé do Castelo de San Giusto, a ler a edição do dia de Il Piccolo della Sera e a ouvir as transmissões da Rádio Tirana, da Albânia, em sua edição em português. E de como chegou à conclusão de que teria de recusar o convite de um emissário do Partido Comunista do Brasil para ir à terra de Enver Hoxa (1908-1985) recolher material para escrever um livro sobre aquele “paraíso” comunista que, em poucos anos, ruiria como um castelo de cartas. Olhando para a vida imaginada de Cippico, ainda bem que este resenhista não desperdiçou os melhores anos de sua vida com uma utopia desastrada nem virou coveiro de um mundo morto.

                                                           V

Nascido em Trieste em 1939, Claudio Magris foi professor catedrático de Língua e Literatura Alemã na universidade local, até se aposentar em 2006. É filólogo e tradutor para o italiano de Ibsen (1828-1906), Kleist (1777-1811) e Schnitzler (1862-1931), além de articulista do Corriere della Sera. Foi senador de 1994 a 1996. É autor de vários livros de ensaios e ficção, como O mito habsbúrgico na literatura austríaca moderna (1963), Atrás das palavras (1978), Danúbio (1996), Microcosmos (1997) e O senhor vai entender (2006), entre outros. No Brasil, a Companhia das Letras publicou também Danúbio, Microcosmos e O senhor vai entender.

Nome frequentemente indicado nas listas para o Prêmio Nobel de Literatura, Magris, em 2013, foi contemplado em Portugal com o primeiro Prêmio Europeu Helena Vaz da Silva para a divulgação do Patrimônio Cultural, instituído pela Europa Nostra, em parceria com o Centro Nacional de Cultura e o Clube Português de Imprensa. Com Microcosmos, ganhou o Prêmio Strega de 1997, na Itália. Em 2009, na Feira do Livro de Frankfurt, recebeu o Prêmio da Paz dos editores alemães.

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Às cegas (Alla cieca), de Claudio Magris, tradução de Maurício Santana Dias. São Paulo: Companhia das Letras, 376 págs., R$ 59,90, 2009. Site: www.companhiadasletras.com.br

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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

Poema | Maria Isabel Fidalgo

 

 

Se calhar não te disse que as flores não abrem
que o chão despe a tarde desolado de água
que o meu coração parou no relógio da casa
onde habitaste de tempo o que já morreu.
Sem centelha de brancura
o negro sobe pelas paredes
em mortalha silenciosa
e é frio o sul da névoa.
Talvez te escreva ainda um verso
nos lençóis lisos da quietude
e no silêncio da carne
um acorde esquecido
acorde uma nota aguda
– uma breve paisagem-
na virilidade do papel.

maria isabel fidalgo

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Da Escrita de Cristina Carvalho

O universo da escrita de Cristina Carvalho move-se entre o fantástico e o romance de narrativa mais clássica. O conto marca também uma presença assídua, quer para adultos, como na sua participação na coletânea Contos Capitais, quer para um público infanto-juvenil como em Tarde Fantástica. Antes de assumir a forma de romance, Ana de Londres foi publicado numa coletânea de contos.

Dentro do fantástico, Lusco-Fusco é um breviário dos elementais, essas criaturas fantásticas que povoam os contos da nossa infância e regulam os elementos da natureza. A poesia pode não atingir a plenitude do indizível, mas seguramente que o torna mais habitável, pelo menos no nosso imaginário. Em O Gato de Upsala temos a descoberta da idade adulta. Agneta e Elvis partem com a ilusão de ver o Vasa, o maior navio de guerra até então construído e, quem sabe, subir bordo e conhecer terras distantes. O Vasa afundar-se-á diante dos seus olhos sem, contudo, lhes levar o sonho de uma vida a dois que então começava. Homem e mulher completando-se desde a origem dos tempos. Em Quatro Cantos do Mundo, o narrador entrega-se à arte de tudo ver e de se deixar maravilhar como só acontece ao viajante experimentado. Só ele consegue fazer a síntese da harmonia entre todos os elementos e os seres vivos, numa celebração da vida, consciente de que, no sonho, ultrapassamos os limites da nossa condição humana.

Nos seus romances surge a mulher na idade adulta. Todas as mulheres nascem já adultas, com essas obrigações a espreitarem-lhe a infância e a macerar a adolescência. Acreditam as mães, que poupam desgostos futuros às filhas se as prepararem para o que a sociedade espera delas. Um mundo sem saída. Então subsiste a dor e uma incontida necessidade de revolta ou de partir. Só lhes resta a opção de serem fortes. Não estamos perante uma escrita de militância feminista ou de vitimização. As mulheres são o motor da narrativa, tanto quanto os homens se anulam ou se embrutecem nas suas vidas. Foi assim em A Casa das Auroras que não é um livro de contos, mas de encontros de pessoas e da forma como encaram a vida, umas arrastadas, outras sem se saber ao certo se a viveram, algumas inconformadas… um rumor de vidas interrompidas percorre este livro. Um silêncio impõe-se a quem lê, não um silêncio qualquer, mas um silêncio que sustente o turbilhão interior que assalta o leitor, só desse modo somos convidados a entrar na Casas das Auroras. No romance Marginal, são mulheres as duas personagens fortes, das quais não conhecemos o nome. Uma delas surge dissimulada, numa escolha criteriosa de palavras, um limbo de ambiguidade que a esconde no texto. Foi seguramente difícil levar esse ardil até ao fim e, provavelmente, para muitos leitores, esse ardil permanecerá para além da leitura do livro. Em Ana de Londres, temos a história desencontrada de todas as mulheres que um dia decidiram partir, partir pela sua felicidade e ficaram presas às mesmas regras de que fugiam, as únicas regras que conheciam; aturando maridos manhosos, perdoando aos homens que as traíram, acreditando que um dia o Sol seria o centro das suas vidas. A sempre estrela da vida.

CC_AGAs biografias romanceadas, sempre sobre homens, seres especiais, especialíssimos, criadores de universos de espanto, que levaram vidas marginais, tanto na arte como na forma como encararam o seu tempo. Então, a escrita envolve-se em níveis de proximidade, num encontro espaço-tempo em que autora e retratado parecem ter habitado sob um mesmo corpo. Foi assim em O Olhar e a Alma, o romance que dedicou ao pintor Amedeo Modigliani, vencedor do Prémio Autores 2016 para ficção da Sociedade Portuguesa de Autores. De uma inquietude vibrante, é a biografia que escreveu sobre Rómulo de Carvalho/António Gedeão, o príncipe perfeito, também seu pai. Um homem que abraçava com os olhos e ao mesmo tempo se mantinha distante; que se expressava com uma fina ironia, elegante e sedutora, mas que não magoa; que aparentava uma certa tristeza, um desgosto da humanidade e ao mesmo tempo nos deixou a “luz doce e caótica” da sua poesia. Rómulo desliza nestas páginas com a elegância de um gato, esses eternos e indomáveis príncipes que habitam entre nós, curiosos das coisas da vida, observadores atentos desta humanidade com quem, em sabedoria, aceitaram partilhar as suas vidas.

A escrita de Cristina Carvalho é acessível, plena de ressonância poética, capaz de libertar doses adequadas de dissimulação contrariando aqueles romances em que se percebem todas as palavras e todas as ideias do princípio ao fim. O deleite de uma escrita inteligente porque, mesmo ao leitor mais exigente, é conferido o direito ao sonho, ao fascínio de ser vivente e terreno, irmão e cúmplice de todas as criaturas e elementos. O portador eterno dessa sede insaciável de saber.

Esta é uma pequena, pequeníssima abordagem à obra de Cristina Carvalho. Corresponde às minhas leituras, sempre tão incompletas, a esse fascínio, a essa febre que cresce em nós sem a conseguirmos conter.

PNL, livros que integram o Plano Nacional de Leitura

CC_PNL

Ilustradores:

Luco-Fusco, Pierre Pratt

Tarde Fantástica, Miz Lucas

Ana de Londres, Manuel San-Payo

Gato de Upsala, Danuta Wojciechowska

Quatro Cantos do Mundo, Manuel San-Payo

Site oficial da escritora.

Nova revista literária Café com Letras

Propriedade da editora Nota de Rodapé e dirigida por Maria João Cantinho, a nova revista literária intitulada Café com Letras, com periodicidade mensal a partir de 1 de Abril, pretende ter um alcance lusófono.

Com cerca de 100 páginas e tiragem de 20.000 exemplares, a revista Café com Letras será distribuída não apenas em Portugal mas igualmente nos países da lusofonia: Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Moçambique e Timor.

Esta nova publicação pretende afirmar-se «como um espaço de reflexão e crítica em torno da realidade literária, através de um conjunto diferenciado de abordagens, umas de cariz jornalístico e outras mais analíticas», como explica Maria João Cantinho. A revista poderá ser encontrada em diversos pontos de venda, como quiosques, lojas de revistas / papelarias ou livrarias.

O primeiro número da Café com Letras inclui duas entrevistas: a Grande Entrevista com a jovem autora e ensaísta Ana Henriques Pato; outra com o prestigiado poeta e ensaísta Manuel Gusmão, que revisita uma tradição de literatura de resistência em Portugal e fala sobre a necessidade de retomar a linguagem como utopia, entre muitos outros temas da sua eleição.

Café com Letras contará também com as secções Crítica/Recensão, Biografia, Eventos, um perfil de um Filósofo e um Dossier temático, que neste primeiro número se intitula “Literatura Portuguesa e Resistência”. Do Dossier constam artigos de Vítor Pena Viçoso, António Cabrita, Pedro Rodrigues, João Céu e Silva, Carlos Brito e Maria João Cabrita.

Na secção da Crítica poderão ler-se textos de Diogo Ramada Curto, Filipa Melo, Ana Raquel Fernandes, Marta Soares, João Oliveira Duarte, entre outros. A Biografia será composta por um texto de João Morales.

Além destes, muitos serão os motivos de interesse para saborear mensalmente Café com Letras.

(ler mais aqui)

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Shakespeare – o mundo, um palco – de Bill Bryson

Nos quatrocentos anos da morte de William Shakespeare.

«Há mais de duzentos anos, o historiador George Steeevens manifestou a opinião, daí para cá incessantemente repetida, de que tudo quanto sabemos a respeito de William Shakespeare se resume a meia dúzia de factos: nasceu em Stratford-upon-Avon, lá constituiu família, foi viver para Londres, tornou-se ator e escritor, voltou para Stratford, fez o testamento e morreu. Já então, isto não era inteiramente verdade, e hoje ainda é menos, mas também não anda muito longe.»

Apesar de ser matéria de estudo e interesse por parte de historiadores, curiosos e leitores, a vida e o percurso de Shakespeare continuam rodeados de mitos. Com toda a clareza e precisão, Bill Bryson tenta desvendar o homem por detrás da confusão de factos dispersos que compõem o retrato de William Shakespeare.

Bryson percorre os esforços dos primeiros estudiosos até às teorias dos académicos mais sonantes da atualidade, incluindo os mais excêntricos, como Delia Bacon, que afirma que a obra que conhecemos como sendo da autoria de Shakespeare foi na realidade escrita por Francis Bacon.

Num registo que nos documenta as viagens e situações que viveu enquanto reunia o material necessário para o livro, Bryson exalta e homenageia William Shakespeare, um dos escritores mais geniais de sempre. E ninguém beneficia mais da perspicácia, o ceticismo e brilhantismo de Bryson do que o próprio Shakespeare.

Bill Bryson nasceu no Iowa. Viveu em Inglaterra durante vinte anos, altura em que trabalhou no Times e no Independent e escreveu para as principais publicações britânicas e norte-americanas. A sua obra inclui livros de viagens, como Nem Aqui, Nem Ali, Crónicas de Uma Pequena Ilha, Diário Africano e Por Aqui e Por Ali, livros de divulgação, como Breve História de Quase Tudo, e uma biografia: Shakespeare. Vive nos Estados Unidos com a mulher e os quatro filhos.

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Eles Dizem Cada Coisa

Um livro para registar as saídas memoráveis dos mais pequenos.
Eles Dizem Cada Coisa é uma das novidades da Arteplural Edições para o mês de abril. Um livro que assume o formato de um scrapbooking verbal, que irá permitir registar aqueles porquês dos mais pequenos e que não têm resposta possível, aquelas afirmações tão taxativas quando absurdas, aqueles comentários tão divertidos quanto comoventes. Porque é mesmo verdade: às vezes eles dizem cada coisa!

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Este é um livro prático e destina-se a registar para a posteridade as saídas memoráveis das crianças, permitindo colmatar aquela falha de memória que por vezes acontece quando se pretende contar aquela frase tão inesperada e desconcertante que foram ditas pelos petizes. O espanto e a inocência com que as crianças encaram o mundo fazem com que tenham a infinita capacidade de surpreender os adultos. Seja durante uma brincadeira a aprender um jogo, seja à hora da refeição a experimentar um alimento novo ou durante um passeio a ver coisas nunca vistas… Acompanhar o crescimento de uma criança é uma experiência verdadeiramente transformadora.

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Em Eles Dizem Cada Coisa é possível registar as mais épicas frases de mais de uma criança, permitindo colocar a foto dos seus autores, assim como criar um pequeno perfil. Um livro que será uma espécie de baú onde estarão guardadas as pérolas mais prodigiosas para ler e reler sempre que apetecer.

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O livro traz ainda algumas das mais belas frases e pensamentos de grandes autores – Victor Hugo, Agustina Bessa-Luís, etc. – sobre as crianças.

Sinopse:
Quantas vezes não comenta com amigos “o meu filho no outro dia disse uma coisa tão gira”, mas quando tenta citar o pequeno génio… a memória falha?
Eles Dizem Cada Coisa! destina-se a colmatar esta falha. Com citações inspiradoras, comoventes ou simplesmente cómicas, este livro oferece-lhe o espaço para apontar as frases memoráveis que ouve – para garantir que não são mesmo esquecidas! -, bem como o autor de cada frase e a data e o local em que foi dita.
Uma espécie de scrapbooking verbal, Eles Dizem Cada Coisa! é um tesouro pessoal de recordações preciosas que irá querer ler e reler vezes sem conta.

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Cartas reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro

A Assírio & Alvim publica Cartas reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro, um livro de Pedro Eiras cuja originalidade, atenção ao detalhe e verosimilhança vão deixar o leitor na dúvida: será isto ficção ou realidade?

Mário de Sá-Carneiro, cujo centenário da morte se assinala em abril, enviou várias cartas a Fernando Pessoa. Essas cartas são conhecidas e foram, de resto, publicadas num volume na Assírio & Alvim (Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa). Das respostas de Pessoa, por sua vez, sabe-se muito pouco. “Durante décadas, os leitores das cartas de Sá-Carneiro especularam, com fascínio, sobre o que conteriam as cartas de Pessoa: muitas vezes, Sá-Carneiro reage às informações do amigo; noutros passos, coloca questões e faz pedidos, a que Pessoa forçosamente se terá referido na correspondência seguinte”, explica Pedro Eiras na abertura deste livro, onde explica ainda como descobriu, no antigo Hôtel de Nice, em Paris, as cartas que Fernando Pessoa enviara a Mário de Sá-Carneiro entre julho de 1915 e abril de 1916. Essa correspondência deixa entrever o quotidiano de Pessoa, os seus projetos, entusiasmos e dúvidas, cem anos depois de Orpheu.

Pedro Eiras nasceu em 1975. É Professor de Literatura Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Desde 2001, publicou diversas obras de ficção (Os Três Desejos de Octávio C., A Cura, Bach), teatro (Um Forte Cheiro a Maçã, Uma Carta a Cassandra, Um Punhado de Terra, Bela Dona), ensaio (Esquecer Fausto, Tentações, Os Ícones de Andrei, Constelações), crónica (Boomerang, Substâncias Perigosas). Publicou vários livros em França, na Roménia, no Brasil. As suas peças de teatro têm sido encenadas ou lidas em diversos países. A Assírio & Alvim publicou em 2014 o seu livro Bach.

(Nota de Imprensa Assírio & Alvim)

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Coma Bem Sinta-se Bem, de Dr.ª Sarah Brewer

«Que o teu alimento seja o teu remédio e que o teu remédio seja o teu alimento». Esta máxima de Hipócrates, pai da medicina moderna, vai ao encontro da essência de Coma Bem Sinta-se Bem, uma das apostas da Arteplural Edições para o mês de abril. Neste livro, a Dr.ª Sarah Brewer explora os alimentos como fontes de nutrientes com propriedades extraordinárias, que trazem incríveis benefícios para a saúde de um modo geral.

Coma Bem Sinta-se Bem está dividido em duas partes. Na primeira parte são analisadas as maravilhas do mundo alimentar como armas de valor incalculável para combater a doença no dia-a-dia, analisando 20 alimentos-chave. As cerejas, a romã, a maçã, os frutos silvestres, os citrinos e as uvas são alguns desses superalimentos. A segunda parte do livro debruça-se de forma aprofundada sobre 50 problemas de saúde comuns, que vão desde a asma e as enxaquecas às doenças cardiovasculares e à artrite reumatoide, desvendando quais são os alimentos mais benéficos e quais devem ser evitados.Coma Bem Sinta-se Bem, que chega às livrarias dia 1 de abril, está repleto de conselhos sobre nutrição baseados nos últimos estudos científicos e apresenta, ainda, um conjunto variado de receitas. Jardineira com tomate e espinafres, bolachas de aveia, banana e tâmaras, truta salmonada com castanha-do-pará são algumas delas.

Sinopse:
A alimentação é a nossa primeira linha de defesa contra a doença – e um regime alimentar ponderado pode ajudar a prevenir ou mitigar praticamente qualquer problema de saúde.
Neste livro, a Dr.ª Sarah Brewer revela o que deve comer para combater 50 maleitas comuns, com base nos princípios da medicina nutricional. Desde a hipertensão arterial ao eczema, passando pela osteoartrite e pela depressão, descubra o que deve – e o que não deve – consumir para fazer pender a balança a favor da sua saúde.
Com deliciosas receitas e ainda conselhos sobre os superalimentos essenciais que lhe trarão benefícios para a saúde de um modo geral, Coma Bem, Sinta-se Bem mostra-lhe como a sua alimentação lhe permitirá manter-se saudável e feliz à medida que vai envelhecendo.
Inclui:
 Conselhos sobre nutrição baseados nos últimos estudos científicos;
 Listagem de problemas de saúde para uma consulta mais rápida e fácil;
 Recomendações de superalimentos para combater a doença no seu dia-a-dia.

Sarah Brewer é médica, nutricionista e terapeuta nutricional certificada, e colabora com vários jornais e revistas, debruçando-se sobre um vasto leque de temas, nomeadamente medicina nutricional e complementar. É uma autora premiada na área da saúde e já escreveu mais de 50 livros de autoajuda de sucesso.

(Nota de Imprensa da ArtePlural.)

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Da Literatura – Não há Tantos Homens…

Hoje na Sábado escrevo sobre Não há Tantos Homens Ricos Como Mulheres Bonitas Que os Mereçam, de Helena Vasconcelos (n. 1949). Radiografar a contemporaneidade pelo crivo do imaginário de Jane Austen não é para todos. Mas a autora arriscou e o resultado é uma obra peculiar, de recorte envolvente. O título adopta uma das frases-chave de Mansfield Park. Dividido em três partes, os Livros I, II e III, o romance confronta a actualidade com as idiossincrasias da Era Austeniana. Não o faz por artifício. Trata-se de pôr em pauta o lugar da mulher na sociedade. (Eduardo Pitta, excerto retirado do blog Da Literatura)

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(Ler mais no Da Literatura de Eduardo Pitta)

Da Literatura

O Livro da Selva, de Rudyard Kipling

O Livro da Selva, de Rudyard Kipling, é um clássico da literatura universal e a sua leitura tem atravessado gerações.

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Em Portugal, a Livros do Brasil publicou-o pela primeira vez há mais de 50 anos e, a 31 de março, chega às livrarias uma nova edição. A acompanhar este lançamento, estreia dia 14 de abril nos cinemas portugueses a adaptação cinematográfica desta história. Apresentado pela Disney, o filme conta com as vozes de atores como Bill Murray, Scarlett Johanson, Lupita Nyongo, Ben Kingsley, Christopher Walken e o jovem Neel Sethi no papel de Mowgli.
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A edição de O Livro da Selva que agora lançamos conta com as ilustrações de J. Lockwood Kipling, pai do autor, e W. H. Drake, incluídas na edição original de 1894. Rudyard Kipling foi o primeiro escritor de língua inglesa a ser galardoado com o Prémio Nobel da Literatura e continua a ser, ainda hoje, o mais jovem a ter recebido a distinção (tinha na altura 42 anos).
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Sinopse:
Abandonada pelos pais no interior da selva indiana, uma criança morena e nua, ainda a dar os primeiros passos, é encontrada por uma alcateia – e logo esta se torna a sua alcateia. Mowgli, assim lhe chama a Mãe Loba, tornar-se-ia um dos seus lobitos e em breve aprenderia a conhecer todos os sussurros da erva, todo o sopro tépido da noite, todo o pio de mocho ou som de peixe no charco. O sábio urso Baloo e a pantera negra Bagheera, a poderosa jiboia Kaa e o ameaçador tigre Shere Khan são alguns dos fascinantes habitantes do mundo de perigos e deslumbramento, de excitação e de medos, de coragem e de amizade onde Mowgli irá crescer. Publicadas originalmente em revistas, estas inesquecíveis aventuras foram compiladas pela primeira vez em livro em 1894, numa edição que contou com ilustrações originais concebidas pelo pai do autor e que recuperamos nesta nova edição. Diversas vezes adaptado ao cinema O Livro da Selva é uma obra-prima da literatura juvenil, adotado pelo Escutismo como livro de referência e acarinhado por crianças e adultos de todo o mundo.

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Rudyard_KiplingRudyard Kipling nasceu em Bombaim, então Índia britânica, a 30 de dezembro de 1865. Iniciou a sua carreira literária em 1886 com a publicação do volume de poemas Departmental Ditties, afirmando-se rapidamente como um dos escritores mais populares do Reino Unido, quer na poesia quer na prosa. Em 1894 lançou O Livro da Selva, que viria a consolidar-se como um clássico para a juventude em todo o mundo. O Segundo Livro da Selva foi publicado no ano seguinte e Kim, considerada a sua obra mais conseguida, saiu em 1901.

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Em 1907 tornou-se o primeiro autor de língua inglesa a receber o Prémio Nobel da Literatura e é, até hoje, o mais jovem escritor a quem foi atribuída essa distinção (tinha 42 anos).

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Rudyard Kipling morreu em Londres, a 18 de janeiro de 1936.

Nota de Imprensa Livros do Brasil.

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Citação | Albert Camus

“Réponse à la question sur mes dix mots préférés: “Le monde, la douleur, la terre, la mère, les hommes, le désert, l´honneur, la misère, l´été, la mer.””

Albert Camus, in “Carnets – III” – Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)

LULLABEL | ptn/ txt img | 30/03/2016

A velhice é o corpo a deitar sombra para dentro. Pensou nisso ao reparar que voltava a achar as laranjas belas como poucas outras coisas no mundo. E o vinho soube-lhe melhor, essa certeza líquida do sol a derramar-se pela boca à tona da sede. Uma espécie de floração interior feita de um silêncio a incendiar-se no azul dos olhos. A velhice é tornar-se a si mesmo anónimo, como um horizonte sem nome. Like kierkegaard says, life can only be understood backwords, but it must be lived forwards, lembrou, lembrando laurie anderson. Depois pagou o almoço, uma voz anunciava que os passageiros do voo 1969 podiam dirigir-se à porta de embarque. Na pista o avião parecia um animal nervoso pressentindo a própria morte. Como se lhe faltasse chão, ou pista.

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OS MILITARES E ABRIL – Museu do Aljube

Mais uma sessão em que este livro é motivo de encontro. DDLX e Estuário responderam pelo grafismo e edição. Luísa Tiago de Oliveira escreveu e coordenou. Esta apresentação vai ser numa casa cheia de história. De histórias tenebrosas. Mas desta vez vai ser fixe. Apareçam.
www.blogoperatorio.blogspot.com

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O PESO DA TRISTEZA DA ÉPOCA MAIS FELIZ DO ANO | Inês Salvador

Há muitos anos fui passar o ano ao Porto. Amigos vestidos a rigor e um reveillon muito animado, animadíssimo. Quanto mais as horas passavam mais animada ficava a festa. Comida, bebida, música, baile! Uma festa de reveillon! Às tantas, partiram-se uns copos e um pedaço de vidro entrou-me na sandália e cravou-se no calcanhar. As dores eram lancinantes e toda a tentativa de perceber exactamente o que passava com o meu pé tornava a coisa ainda pior. O vidro teimava em entrar na carne, tornando-se insuportável e invisível no sangue que espalhava. Levaram-me para o hospital. Ir para ao hospital não é bem o que se deseja numa noite de reveillon, mas estávamos tão animados, tão quentes da festa, que tudo nos parecia muito simples. Íamos num instante tratar do meu pé e voltávamos para a festa. E lá fomos, em estilo aventura, para as urgências, a ver se vendiam pés, se tinham pés para a troca, que fosse rápido, porque tínhamos uma festa para continuar. A urgência estava deserta, parecíamos só nós a estar ali. Claro, ficámos a achar, também era reveillon na urgência. Rapidamente fomos atendidos. Como não conseguia andar, deitaram-me numa maca e levaram-me para dentro.

Encostaram-me à parede de um corredor estreito e disseram-me que aguardasse. Fiquei sozinha. A festa calou-se na minha cabeça. Fez-se silêncio. Um silêncio terrível, frio, gelado. Um silêncio que se ouvia. Um silêncio de gemidos longos, estranhos, abafados. Gemidos que se entranhavam na carne mais do que o vidro, que doíam mais do que o som que conseguiam fazer. Não tinham força, eram só dor. Doíam-me a mim, que a mim já não me doía nada. O que me doía eram aqueles gemidos. Soavam-me ao inferno, ao purgatório, a catástrofe, ao fim do mundo. Já duvidava do sítio onde estava. Queria sair dali, queria ver o que era, desatei a fazer barulho, a chamar alguém. A maca moveu-se e fiquei numa sala. Passaram uns instantes e chegou um médico. Era alto, bonito, simpático, brincalhão. Brincava comigo, com o pé e com a minha circunstância. O médico não parecia ser dali, parecia que não ouvia os gemidos. Preparava-se para me tirar o vidro do pé. Sim, estava muito fundo. Era preciso cortar um bocadinho, mas ía ficar bem. E continuava a falar, ria, perguntava-me pela festa, pela vida, e riu mais ainda quando encontrou o vidro e o tirou inteiro. Orgulhoso, mostrou-mo. Eu estaria despachada.

Na mesma sala entrou outra maca que carregava um homem. Gemia como um animal ferido abandonado numa beira de estrada. Olhou para mim. Olhámo-nos um tempo, olhos nos olhos, os dois deitados, cada um em sua maca. O homem tinha os olhos em sangue, o cabelo negro ondulado era uma pasta de sangue, todo ele parecia sangue, mas os olhos… O sangue estava-lhe todo nos olhos. Parecia que toda a tristeza do mundo lhe cabia em sangue nos olhos. Senti uma espécie de desespero. Queria salvá-lo, como se pudesse. Ninguém merecia estar assim. Queria dizer-lhe que gostava dele, que não desistisse, que tudo havia de passar, que havia de ficar bem. Insistia em olhar para ele, queria que ele olhasse para mim, tentava dizer-lhe tudo olhando para ele, mas nem sabia se ainda me via, se me tinha mesmo visto. Um cortinado que se correu entre nós interrompeu tudo. Já estava um grupo de pessoas a cuidar dele e eu numa cadeira de rodas para sair. O simpático médico voltou a perguntar se estava bem, a despedir-se. Foi então que lhe perguntei se não ouvia os gemidos. O médico ficou sério. Sim, claro que ouvia. Insisti, queria saber. A custo lá me disse que muitos tinham tentado o suicídio naquela noite. Que era assim no Natal e fim de ano. A família, as preocupações, a vida, a falta de sentido, tanta coisa… Infelizmente era assim naqueles dias. Perguntei-lhe pelo homem que tinha estado ao meu lado na sala. Tinha-se atirado da varanda de casa, era um andar alto, mas tinha sobrevivido, estava ali, estavam a fazer tudo o que podiam fazer por ele. A cadeira de rodas deslizou pelo corredor até aos braços dos meus amigos. Estavam tal como os tinha deixado, parados no mesmo tempo. Eu é que fui ao inferno tratar um pé e voltei para a festa.

Encontrei este artigo que fala desta tristeza. Não me parece que seja o melhor artigo sobre o assunto, mas foi o que me passou à frente e me lembrou desta história. Isto existe, mas fala-se pouco, parece-me.

 

O PESO DA TRISTEZA DA ÉPOCA MAIS FELIZ DO ANO

 

Retirado do Facebook – Mural de Inês Salvador (2016-03-29)

Levantei-me do Chão – Lado B

No próximo dia 30 de março, às 18h30, o Auditório da Fundação José Saramago recebe o espectáculoLevantei-me do chão – Lado B, um projecto de Carlos Marques/Algures, co-financiado pela Dgartes e pela autarquia de Montemor-o-Novo. Após andar por onde as personagens do Levantado do Chão de José Saramago andaram a sobreviver, o projecto chega finalmente a Lisboa, sob a forma de concerto teatral em torno das palavras de José Saramago. Um músico de hoje conta e canta as histórias do livro. A entrada é livre, sujeita à lotação da sala.

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Depois de ser apresentado na Fundação José Saramago, a versão integral de Levantei-me do Chão, ocupará o palco do Teatro Meridional. Todas as informações, aqui.

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