Nunca uma luta foi tão desigual. O sufoco emancipava lágrimas nuas. Os dois, tornaram o quarto de banho ainda mais pequeno. Estavam imóveis. Ela ia partir – tinha-lhe contado há minutos. Se de pedaços se fizessem os homens, ali, ela teria-o conhecido em fragmentos impávidos e repletos de dor. Ele, com o olhar amargurado no nada. Ela, triste, carregava sozinha a cruz da culpa no coração. O amor prendia-lhes a fala. A revolta gritava alvorada. O controlo das emoções estava em guerra aberta. A porta – fechada, guardava o silêncio. Assombrados por Afrodite, olharam-se. A luta tinha terminado. O choro invadiu-lhes a face e num rasgo perpetuaram a saudade com um abraço. O amor resiste ao tempo. O amor resiste à distância. Ela ia voltar.
Quando o amor toma conta da realidade de cada um, a nostalgia espelha corações doridos, corações em sangue. A saudade e a distância são trechos da morte. Morre-se um pouco a cada momento que passa, a cada hora, a cada instante perdido. O Homem, quando ama, não está preparado para a distância, para a separação. Sente falta. Falta-lhe a consciência da razão porque o pior da lonjura é a ausência. E a ausência é irreparável.
Seja por semanas, por meses. Seja pelo tempo que for, o afastamento é uma coisa monstruosa. A confiança passa a ter o mesmo nome do ciúme – caminharão lado a lado nas noites frias e nas tardes negras invadindo o romancista que há em cada um de nós. Cria-se imagens terríveis de coisas impossiveis, mas possíveis na mente de quem nunca conhecerá a invisibilidade do ressentimento. O ciúme é obra de autor e o medo é o seu nome.
O toque será um corpo em falta. O ouvir, o cheirar, o olhar, passam a ser elementos vivos na sobriedade do nosso pensar distorcido. Como será quando ela voltar? – Uma espécie de mudez, certamente. Sente-se a traição da vida. Assume-se que uma besta encarnou no nosso fado. Sente-se uma revolta atroz. A injustiça calibra-nos o andar. Cabisbaixo. Conturbado. E há dor…! Porque o mundo acaba no momento em que lhe impomos um fim.
Rui Sobral