O espelho | João Negreiros

Uma mulher tem que ser obrigatoriamente linda
Uma mulher só é linda se o for para ela e por dentro
Uma mulher deve criar para si um espelho benevolente para os dias maus e um espelho generoso para os dias bons
Um espelho nunca deverá ser um homem
Um espelho só poderá ser a própria mulher
Antigamente eu era mulher mas punha-me feia para que ninguém desconfiasse
Depois lá arranjei um espelho e agora ponho-me bonita todos os dias
Ponho-me bonita antes de me vestir e depois tudo me assenta bem
E quando me dispo tudo me cai bem
Uma vez um machista inteligente disse-me que eu não me comportava como uma mulher
Eu levei a mal e passei a comportar-me como uma
O que isto quis dizer é
Todos os dias olha para ti ao espelho e diz
Eu sou uma mulher e sou linda
Em seguida escolhe a roupa mais bela veste-a primeiro para ti e depois para os outros se for caso de haver gente nesse dia
Uma mulher tem que ser obrigatoriamente linda
As mulheres lindas são as que se acham
As mulheres lindas são um achado
Ama o teu corpo como se fosses a tua própria amante
Respeita quem és como só o amor consegue

texto d’ “O Manual da Felicidade” de João Negreiros
http://joaonegreiros.blogspot.pt/


João Negreiros nasceu em Matosinhos a 23 de Novembro de 1976. O escritor português foi o primeiro classificado no Prémio Internacional OFF FLIP de Literatura (2009). Em Portugal, entre outros prémios, João Negreiros venceu o Prémio de Poesia Nuno Júdice e o Prémio Dias de Melo com o seu primeiro romance intitulado “O sol Morreu aqui”. Na área do teatro, a sua obra foi crescendo, tendo hoje quatro peças editadas, “Silêncio” e “Os Vendilhões do Templo”, “O segundo do fim” e “Os de sempre”. No âmbito da poesia, publicou quatro livros: “o cheiro da sombra das flores”, “luto lento”, “a verdade dói e pode estar errada” e “o amor és tu”. Em 2010, é editado também o primeiro livro de prosa do autor “O mar que a gente faz”. Para além de escritor, João Negreiros é actor e tem divulgado a poesia nacional através de espectáculos e vídeos de spoken word. Em 2011, o artista foi o representante da Literatura Portuguesa na 7ª edição do conceituado Festival Internacional das Artes de Castela e Leão.