1 – O que é para si a
Literatura ?
H.N. – Segundo o
conceito tradicional,o Autor é uma pessoa que escreve usando exclusivamente o
poder da sua imaginação. Para Barthes, no mundo moderno,este conceito está
obsoleto, pois segundo ele,o Autor combina” textos pré-existentes em novas
formas.” Estou em desacordo com o
pensamento de Barthes, talvez porque sou essencialmente um escritor de Poesia e
acredito que um Poeta só é original e “verdadeiro” se inovar, sendo um Criador
que transmite ao Leitor a essência da sua alma e das suas experiências
envolvendo, ainda que inconscientemente,as influências que recebeu dos autores
que leu,com destaque para os que mais o marcaram.
2 – O que pensa da Poesia que se faz
actualmente em Portugal?
H.N. – Penso que a maior parte da Poesia que se
publica,é cosmética.Não resisto a citar Alexander Soljenitsyne, que a
propósito de Literatura, referia : “Uma literatura que não respire o ar da
sociedade que lhe é contemporânea, que não ouse comunicar à sociedade os seus
próprios sofrimentos e as suas próprias aspirações, que não seja capaz de
perceber a tempo os perigos morais e sociais que lhe dizem respeito, não merece
o nome de literatura: quando muito pode aspirar a ser cosmética.”
Conheço no entanto,vários Autores de grande qualidade e originalidade, que não
se limitam a copiar os Mestres e marcam, ou irão marcar através do seu cunho
pessoal, o futuro da nossa literatura.
3 – Acha que um Livro de Poesia deve
ter um fio condutor ?
H.N. – Não acho. Reli há bem
pouco tempo, o livro “Câmara Ardente” de Miguel Torga e não existe lá qualquer
fio condutor, para além da genialidade do Autor em cada poema que escreveu. São
poemas autónomos, tendo o Autor escolhido o título do segundo poema, para dar o
título global ao seu livro. Claro que não tem que ser assim e um livro de
poemas pode ser concebido para ter um fio condutor. Os meus dois últimos livros
publicados, obedecem a uma lógica sequencial. Os dois livros anteriores não
obedecem a essa lógica. O livro que estou a terminar actualmente, tem um fio
condutor . A
Poesia escapa a formas rígidas e definitivas.
4 – Como acha que vai ser a Poesia no
Futuro ?
H.N. – Respondo com um excerto
de um poema de António Gedeão, POEMA DO FUTURO, em que este Autor teve o génio
de sintetizar os efeitos do tempo, sobre a forma e o conteúdo da Poesia e da
Literatura em geral, indissociavelmente ligados à evolução da Humanidade,
em muitos aspectos imprevisível.
Poema do Futuro
……………………………………..
Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.
Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.
António Gedeão, in ‘Poemas Póstumos’
5 – Acha que a crítica se tem debruçado
sobre os Poetas não consagrados?
H.N. – Acho que não. Penso que
os críticos, salvo raras excepções,encaram os “não consagrados” com algum preconceito
e “ jogam à defesa”. No entanto, reconheço que não é fácil criticar Poesia,
como se torna cada vez mais difícil criticar uma Pintura , uma Escultura,
Fotografia ou Desenho, assim como as instalações interdisciplinares e
respectiva multiplicidade de materiais e suportes utilizados.
O
mesmo se passa em relação à Música.
Aliás,
Novalis, poeta romântico( século XVIII / XIX ),dizia que a «crítica da poesia é
um disparate». Segundo ele, “a Poesia não era susceptível de
crítica no sentido até então vigente de crítica explicativa e censurante. Para
Novalis era uma profanação e uma enormidade temerária aferir a poesia por
padrões e submetê-la à jurisdição de cânones, ou defini-la em
circunscrições lógicas e tradicionalistas. Poesia não é sequer definível
– «Poesie ist indefinissabel “.
6 – Qual a principal
dificuldade para a divulgação da Poesia?
H.N. – Quanto a mim, o problema
da falta de divulgação reside no afastamento das Escolas e respectivos
programas educacionais, a falta de cultura poética de muitas famílias que
podiam ter um importante papel nesta área do saber, o desinteresse da classe
política pelas questões culturais e as dificuldades de distribuição dos livros
editados.
7- Acha que há aspectos
positivos, apesar de tudo, relativamente à adesão dos portugueses à Poesia?
H.N. – Acho que sim. Portugal
continua a ser um país com enormes talentos que se vão manifestando gradualmente
e há várias iniciativas extraordinárias, como as Quintas de Leitura. A
Câmara Clara, na TV 2, também tem sido um importante meio de divulgação
cultural.
Por
outro lado está a criar-se uma nova dinâmica no mundo dos jovens Editores de
grande importância para o futuro da Cultura em Portugal.
8 – Com quatro livros publicados, quis
são os seus projectos para o futuro?
H.N. – Tenciono publicar o meu
quinto livro de poemas ainda este ano. Trata-se
de “O Regresso de Martinez”. Depois
irei acabar um livro de contos que me está a dar muito prazer escrever.
9 – O seu livro recentemente publicado,
O SONHO PERSISTENTE, tem tido a divulgação que esperava?
H.N. – Todas as pessoas que o
leram e me contactaram gostaram muito do livro.No entanto, sei de muitas
pessoas que não o conseguem encontrar nas livrarias onde supostamente ele
estaria. Creio que o Editor está a tentar ultrapassar este problema que se
prende com a distribuição.
10- Está satisfeito com a
Edita-Me ?
H.N. – Estou. O Editor é uma
pessoa excepcional em vários sentidos. Dinâmico,multifacetado,inteligente para
além de estar a ter um papel muito importante na divulgação
cultural neste país.