CADERNO DE POEMAS DE CARLOS ROSA: dois poemas viscerais por semana, ao longo de dez semanas…

EMBRENHAR-SE

caminho

de terra embrenha-se na mata

mata

que se embrenha na natureza

natureza

que se embrenha nos olhos

olhos

que se embrenham no poema

poema

que se embrenha no amarelo do Ipê

ESPIÃ

na várzea

uma estrada vermelha

no cotovelo

uma árvore espia

: folhas atraem uma leve brisa

algumas pousam

outras se agitam agonizantes

e a brisa se recolhe

em desconhecida dimensão

na várzea

a estrada vermelha

no cotovelo

uma árvore espia

: um carro passa

puxa um rastro de pó vermelho

que se agita

e logo repousa sobre os esquecidos

na várzea

uma estrada vermelha

no cotovelo

uma árvore espia desconfiada de tanto silêncio

e a tarde acesa

MICROBIOGRAFIA elaborada pelo autor:  

Carlos Pessoa Rosa, descendente de avós portugueses, de Leiria e Coimbra, nasceu em bairro operário, vizinhança formada por italianos, húngaros, africanos e japoneses. Cresceu ouvindo histórias de mulas-sem-cabeça, lobisomens e correntes sendo carregadas por almas de mortos nas madrugadas. Formou-se médico em 1976, na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, em cujos corredores habitavam fantasmas de irmãs de caridade que ali viveram. Metido a escritor na adolescência, por paixão, as palavras foram tomando forma, desvencilhando-se do ‘eu’ juvenil, avançaram com a idade, com as histórias ouvidas no dia-a-dia, sabenças populares, daí brotaram poemas e prosas, Bachelard contaminando o positivismo de formação, vieram os livros, Deleuze, Derridá e Habermas corrompendo a estrutura, portas foram se abrindo, PNET Literatura, uma delas, editor do site www.meiotom.art.br, tem trabalhos no site Cronópios e Germina, poemas publicados no Instituto Piaget, em Portugal, livro de contos fruto do prêmio UBE-CEPE, Mortalis: um ensaio sobre a morte, prêmio editora LivroAberto, selecionado no prêmio João-de-Barro e Mario Quintana com livro infanto-juvenil, contos publicados no projeto Dulcinéia Catadora, na Universidade de São Carlos, tem poemas correndo em ônibus e trens em Porto Alegre, curtas inspirados em seus contos…

E acabou-se a estória, passou por uma canela de um pinto e outra de pato; meu rei senhor manda dizer que conte mais quatro.