UM OVO DE AVESTRUZ (Como as baratas que conhecem as trilhas do escuro) – Folhetim em Setenta e Seis Episódios da autoria de Carlos Pessoa Rosa. Vigésimo primeiro Episódio

CAPÍTULO XXXII

Roteiro 1 (primeiro esboço)

(Pouca luz, de modo que só se percebem sombras. No espaço, uma poltrona com uma mulher cabisbaixa, amordaçada, amarrada e nua. Um homem com barba por fazer, descabelado, vestindo terno com gravata fora do lugar, segura um revólver. Às suas costas, um espelho. No chão, álbuns de fotografia e fotos antigas espalhadas.)

(Des)memória 1: Você algum dia me perguntou se eu estava bem ou feliz? Perguntou? Ah?! Vamos, me responda! É claro que não vai me responder! Nem pode. Nunca se preocupou com isso. E o medo que eu dissesse que não! Ah?! Perder seu referencial de sucesso. Reencontrar a sua metade mal sucedida. Bela merda o sucesso! Que foi dele? Um diploma? Uma carreira? Uma vida estável e escrota? Seu silêncio sempre me incomodou. Ah, como me irritava seu silêncio! Não, nem precisa dizer o que pensa. Melhor calar. O silêncio é o soberano entre as respostas afirmativas. Não dizer é confirmar o questionado. E de que adiantaria me perguntar: você está bem, é feliz? Se nem eu sei o que quer dizer isso. (pausa, deixa de intimidar a mulher, distanciando-se.)

 

(continua)