Cena 2
Todos na mesma sala… No colo da mulher o livro, as mãos no esqueleto da novela. A mente e o corpo rígidos, agregados aos móveis. Continua enlutada nos trajes. Veem-se esporadicamente os dedos em movimentos sobre a capa do livro; perdidos no espaço. A mente destroça a linguagem. Ninguém esperava um final tão trágico. Não aprendemos. Nunca! As rupturas dão o itinerário. Mesmo que neguemos, é fato. Os depoimentos e os registros escritos são carregados de impressões subjetivas. A linearidade e o discurso direto dão lugar ao fantástico e ao absurdo. Não fosse a vida um jogo de espelhos, se os cadernos escolares não tivessem os mesmos traços vermelhos separando os exercícios, se não houvesse uniformes ou grifes… A história é a própria rigidez do cenário. Uma obra ficcional amalgamada em gesso. É preciso profanar. Atordoar a roupagem. Habitar a loucura. Deixar cair máscaras de amar; e ser feliz. A arte está no desconexo, no pó amarelento e invisível da pausa. Se Deus existe, rendeu-se a Maldoror, seu anjo torto; mas predileto.
(continua)