Ziguezaguear passos, coxas bojudas e calcanhares finos metidos em sapatos vermelhos. Amordaçada pela roupa preta grudada às linhas e um echarpe da mesma cor, com delicadas linhas douradas, enrolado no pescoço. Na noite, rostos são difíceis de ver. A mulher bruxuleia o corpo ao ritmo da droga e de Adios Nonino. Dança um tango no vão do MASP, mãos em carícias no sexo. Ritual de sombras sobre o espelho enegrecido da principal avenida da cidade. Tão forte é a música que mulher acredita segurar um filho. Retorna do delírio assustada e com as mãos vazias. A criança caiu em algum ralo da razão. A lâmina foi acerto de contas. É muito semelhante o lamento da música e a necessidade de justiça. Em algum canto escuro e marginal, há um crepúsculo que alberga museus com esculturas e pinturas de anjos perdidos em porões. Ninguém chora no limite, anestésicos adormecem as interfaces e todos caminham na frouxidão da retina. A cidade não é feita de devaneios ou idéias, mas de caminhares, mecânicos e militares passos.
(continua)
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