4º episódio – O MÊNSTRUO MÁGICO DAS ORQUÍDEAS GRÁVIDAS – Folhetim em setenta episódios

O velho tinha razão, sobreviver de literatura só com sacanagem, e pare com esse rizinho escroto, vão pensar que agia assim com Carol, que imaginem, não é proibido, enquanto a grana acrescentar à aposentadoria… Caso a Vilma venha a ler poderá pensar que é o objeto de desejo e delírio descrito, terá razão, mas seus pentelhos não são alourados, ela também não rapa a vulva, só o jeito de pegar no cacete igual, mas qualquer profissional agirá assim, faz parte da performance, do desempenho, transar virou arte, de Carol não coloco nada, bem que você gostaria de relembrar os momentos mais quentes… Havia um terceiro olhar, sempre. Melhor não recordar. O olho do velho até hoje presente, nos persegue com seu silêncio sepulcral, nenhum diálogo em casa, para não complicar calávamos, não você, você maltratava meus ouvidos, reclamava, chiava, gritava, eu quieto, o pai muito longe da família, a mãe consentia, só Da Graça matreira e falante, trombeta, tudo para ela era motivo para esticar as ideias e a fala, ela nos ensinou, sabemos disso, aprendemos com ela, você nunca foi muito a favor desse meu lado literário, puxo a trama ao máximo, o leitor pode ou não gostar do texto sem diálogo, curtir ou não a excitação provocada pelas imagens, que nada do escrito me provoca, não mais, é pelo mercado e bolso, o homem precisa de fantasia, gozar com a história alheia, órfãos que estão de rastros e raízes, não passam de indícios sem corpo, placas vazias, nem pensar o pai e a mãe lerem estes textos, quem sabe não o fazem de onde se encontram, Carol junto, a mulher que me ensinou a ser homem, não esse merda que fica de pau duro e molhado com o que lê, que não fode sem ver um filme pornô por necessitar de distância do corpo presente, este sim precisa de um corretivo, de uma aula sobre ser, mas a pergunta: quantas como Carol existem nas casas e nas ruas? Não canse a cabeça com respostas inúteis. Lembra-se das reuniões de família? O velho reunia todos em casa nas festas juninas e no Natal. Mesa farta, muito vinho, carne de coelho, de carneiro, frango que a mãe criava no quintal, ainda me lembro do pescoço da ave sendo torcido pelas mãos dela, da faca cortando o pescoço, do sangue esvaindo-se no prato. Nunca entendi o pinto duro ao ver a cena… Não me provoque! Depois na mesa. Do meu lado, Dora… Lembro, como não? A filha da tia Noêmia, adolescente, nós não mais que oito, ela me queria nu, atrás da jabuticabeira, acariciava meu pinto, enfiava na boca, fazia dele um pirulito de sobremesa, eu com o corpo retesado, você do outro lado rindo de minha inibição, foi dela a primeira vulva conhecida, já peluda, mas não permitia a mão no corpo dela, dormia no mesmo quarto, a mãe pedia que ela cuidasse de mim, não percebia o olhar sacana da sobrinha, amendoados você me disse um dia, devia ser, não prestava atenção nos olhos dela, era apagar a luz do quarto para ajeitar o corpo no meu, com a mão enfiava meu pinto dentro dela, eu sentia a umidade, quente, ela brincava um tempo, pedia para eu também brincar com ela, gemia baixinho com a minha língua em sua boceta, voltava a colocar o pinto dentro dela, depois me abraçava e adormecia, eu assustado, é um dos cheiros que levo até hoje, não me lembre, foi o fato mais triste vivido pela família, morreu antes de completar dezoito anos, leucemia, ficou da cor da palha, foi quem me iniciou no sexo, depois vê-la ali no caixão, pensei ter piscado para mim, você rindo de minha reação, achegou-se do corpo dela e a beijou, foi o primeiro beijo em um cadáver, havia me esquecido dele, os lábios frios, eu olhando para os lados, como se pudessem flagrar meu pensamento e construir a imagem, mas somente o gato levantou o rabo e rodeou o vazio, como se percebesse suas pernas, e correu, pelo eriçado, fugia dali pelo corredor, pé direito alto, você realizando minha fantasia de trepar com um cadáver, velório era em casa naquela época, agora fora, Carol não voltou mais para casa, alugamos espaço na funerária, hoje vela-se em qualquer lugar, nunca na moradia, a tia nunca mais recuperou a saúde, o tio atirou-se na bebida, perdemos a promissora professora, ela nos iniciou nas questões do sexo, debaixo das cobertas do quarto de onde surgem os gemidos como ebulições da memória e que me levam a abrir a porta e ver muito tempo antes, a luz zebrando o assoalho, a mãe descobrindo a felação, nunca mais a prima em casa, no quarto, em meu pau, só quando morta, todos choravam, mesmo Clara, a morte dilui as desditas familiares,

 

(continua)