SEGURO DE SOGRA

– “Eu também quero ir”. Disse a sogra enquanto Mariano preparava a mala para viagem. 

Ele pensava viajar apenas com a esposa no feriadão, securitário independente não tem férias, precisava relaxar. Escolheu João Pessoa, um pouco mais de 350 quilômetros de Maceió. Curtir as belas praias paraibanas, inclusive a de Tambaba, onde existe nudismo organizado. Combinou todos os detalhes com Vera, agora vem a sogra atrapalhar a lua-de-mel. Dona Carmen se ofereceu companhia, ele não gostou.

À noite, Vera com jeito pediu ao marido, ela não atrapalhava, afinal alugaram uma casa mobiliada, havia um quarto sobrando.

Dia seguinte seguiram pela estrada litorânea, via Recife, praias contínuas, visual exuberante, coqueiral, mar azul esverdeado valia a viagem. Conversaram amenidades, Dona Carmen sempre se lamentando saudosa do marido, oficial da Marinha, conhecia o mundo.

A casa mobiliada tinha um conforto além da expectativa, o casal ficou com o melhor quarto. Dona Carmen muito bem instalada, satisfeita de estar junto à filha única. Procurou ajudar como podia, cuidados para não se esforçar muito, dizia-se doente do coração, desconfiavam ser manha para não trabalhar. Não precisava, a pensão do Capitão da Marinha dava para os gastos.

 Mariano telefonou a um amigo, logo veio buscá-los para uma volta na bela João Pessoa.  Foram às praias, a todos os pontos turísticos cidade. Muitos passeios ciceroneados pelo amigo. No domingo, véspera do retorno, Dona Carmen se sentiu cansada, não sairia. Mariano até gostou, o casal não perdeu a oportunidade rumaram à praia naturalista de Tambaba.  Ficaram em um bar, mergulhando no mar azul piscina, os frequentadores nus, maior naturalidade. Na verdade as mulheres ficam mais sensuais de tanguinhas em qualquer praia do mundo. À noite fizeram as malas, retorno marcado para bem cedo.

 Dia seguinte, cinco da manhã o casal acordou pronto para viajar. Vera bateu no quarto de Dona Carmen, ela não respondeu, bateu novamente, até que desconfiado de algum problema, Mariano abriu a porta num empurrão.

 Tragédia, Dona Carmen deitada como se dormisse, estava morta. Vera se encheu de emoção, chorava alto, aos prantos abraçava a mãe. Ao se acalmarem, decidiram evitar burocracia e despesas com polícia e transporte de corpo, retornariam a Maceió imediatamente, resolveriam com facilidade o enterro em Maceió, os médicos sabiam de problemas cardíacos de Dona Carmen. Colocaram o corpo enrolado em lençóis no porta-malas. 

Logo depois do Recife em num posto de gasolina abasteceram o carro, estacionaram na entrada da lanchonete, foram comer alguma coisa. 

No retorno a grande surpresa, o carro não estava no estacionamento, desesperado Mariano perguntou ao bombeiro, ele viu o carro sair, imaginou ser o dono. O carro foi roubado, com o pequeno detalhe, Dona Carmen no porta-malas.

O casal confabulou. O quê fazer? Procurar a Polícia? Dar queixa do roubo? E o cadáver? Resolveram telefonar para um irmão de Mariano, advogado. Ele se prontificou, pouco mais de uma hora estava no Posto. 

Para evitar piores consequências, inclusive receber o seguro do carro, aconselhou registrar ocorrência na delegacia. Só retornaram a Maceió pela noitinha. O delegado com o mau humor da segunda-feira, cheirando a álcool, ouviu a história, fez perguntas insinuando assassinato, depois de tomar mais de duas horas de depoimento, deu ordem de prisão ao casal por ocultamento de cadáver. Só liberou o casal por volta das cinco da tarde a pedido de um deputado pernambucano, o irmão de Mariano fez a ponte de influência entre Alagoas e Pernambuco.

Três anos do episódio se passaram, nunca encontraram o carro, nem Dona Carmen. Mariano recebeu o seguro do automóvel. Vera ainda não pode receber a pensão militar devido à morte da mãe. Hoje estão separados, não aguentaram tantas brigas, principalmente a impertinência de Vera, implicando com Mariano por não ter providenciado um inusitado seguro da sogra.

Carlito Lima