Poema de Natal | Domingos da Mota

 

 

com que a vida resiste, e anda, e dura

Pedro Tamen

 

Não digo do Natal – mas da natura
de quem faz do poder um pesadelo
que aprofunda as sementes da amargura
através do garrote e do escalpelo;

não digo do Natal – mas da tortura
que macera as feridas com desvelo,
impassível à dor que já satura
os ombros causticados pelo gelo;

dissesse do Natal – seria bom
que pudesse cantar, subir o tom
das loas e dos hinos e dos ritos,

se em vez duma esmola, tão-somente,
renascesse o respeito pela gente
que povoa o Natal dos aflitos.

Domingos da Mota

[revisto]