não me preveni contra o tempo
sempre achei que a vida era para lá dos dias
e que a ceifa do corpo era numa azenha muito ao longe.
na casa dos meus pais havia os passos deles na transpiração noturna
e essa música garantia a tranquilidade do travesseiro inocente
quando as portas rangiam nos dentes do vento
e a dança das folhas era um tapete fundido sobre os olhos.
não me preveni contra a ruína dos espelhos
de formas convexas ou côncavas
e o que vejo é já os estilhaços das formas
as pálpebras quebradas no chão do rosto
um barco privado de velas num desfiladeiro apertado.
não me preveni contra o tempo
e umas mãos de azul longínquo crescem na minha vida
numa asa faminta de mar.
Maria Isabel Fidalgo