se me deito do lado do coração
posso ouvi-lo a bater no travesseiro
e o seu batimento é o sinal exato da existência da minha vida
coisa estranha e curiosa
ser eu um batimento sobre um travesseiro
onde deito a cabeça agitada
como se tivesse acabado de fazer uma maratona
e só me faltasse subir ao pódio para agarrar a taça
mas o meu coração está tão cansado que não quer medalhas
mas apenas escutar o tique taque de qualquer coisa acelerada dentro de mim
um dentro de mim que não consigo ver mas que me é familiar
e que se deitou vezes infinitas comigo sobre um travesseiro
e que me ouviu rir como a uma menina a quem deram um baloiço sobre o mar
e que me ouviu chorar como a uma princesa a quem falhou o beijo e o trono
quando eu morrer sobre um travesseiro deixarei de ouvir a minha vida
e tudo em mim será nada. um nada prestes a deixar o travesseiro
e a ser eu eternamente surda e muda para a minha existência.
Maria Isabel Fidalgo