Metrofobia

Amigo disse-me que existia e era verdade. Eu fui ao Houaiss e procurei – nada. Eu fui à world wide web e procurei – nada. Eu fui à wikipédia e procurei – lá estava.

Diga-se no entanto que a wikipédia é tão fiável como o Fábio Coentrão a jogar a defesa esquerdo contra o Messi – não é. Mas na listagem enorme de fobias, lá estava: a metrofobia.

Há muitas fobias, há até a fobia de ter fobias. Há a fobia da estupidez e a fobia do pensar – devem estar de algum modo ligadas, imagino. Coíbo-me de colocar aqui mais exemplos, a world wide web tem esta coisa maravilhosa de estar à mão de semear, queira esta expressão dizer o que quiser.

Mas deixo-me contaminar pela internet e confio: metrofobia existe e diz-se como a fobia ou o ódio à poesia. Espantados? Eu também fiquei.

Quem será aquele que tem fobia da poesia? Imagino alguém com fobia de muita coisa, mas de poesia? Que raio de importância lhe dão para que mereça ter um termo que a define pelos que a detestam? Dão-lhe muita, só eu não a percebo. A poesia? Às vezes. Mas neste caso queria dizer a importância.

Metrofobia é por isso odiar poesia. É ter urticária quando se pensa num recital (concedo que às vezes, dada a qualidade de tantos, também tenho). É sentir as borboletas a navegarem no estômago quando vemos a lombada do “Um Toldo Vermelho” (ok, mau exemplo, há gente que sente essa ansiedade com esse título e até adora a poesia). É imaginar versos – frases que não acabam a folha, para dizer de como os defini num conto para crianças – e ter pesadelos com eles (também é um facto que há muitos versos que só por existirem nos deixam a pesadelar, e nós amamos todos poesia). Metrofobia é “querer ser mais alto / querer ser maior do que os homens” colocando a poesia a rastejar como fobia específica, das serpentes e cobras (que se chama ofidiofobia ou ofiofobia, já agora). Metrofobia é uma ofidiofobia disfarçada de palavras, no fundo.

Eu não tenho metrofobia. Embora possam crer que depois do tanto que li para excluir tanta coisa de uma antologia que co-organizei tenha desenvolvido uma metrofobia selectiva – só para a má poesia. Algo como uma “metrofobia do péssimo” para usar um termo que poderia pertencer a Deleuze. Sou, antes, um metrofílico, isso sim. Tenho uma metrofilia aguda, o que já me faz crescer em mim uma ablepsifobia que me vem assustando. Mas antes isso do que ser hesacosioihontahexafóbico – com este diagnóstico nunca teria lido o grande êxito de Bolaño.

Ah! Já me esquecia: um abraço para o Diogo, que sei ser algo logofóbico no que aos meus textos diz respeito mas que pode descansar: considero muito todos os metrofílicos – como ele.