O haiku é um poema breve que descende de uma forma de poesia ancestral no Japão, muito popular entre os séculos IX e XII, designada por tanka, que significa “poema curto”. O tanka é constituído por 31 sílabas japonesas, dispostas em cinco versos, de 5 – 7 – 5 – 7 – 7 sílabas em alternância.
O tanka foi desenvolvido e aperfeiçoado principalmente por mulheres, habitualmente pertencentes à corte da época, sendo utilizado como mensagem entre amantes, oficiais ou secretos. Esses poemas, cujo tema principal é o amor, e sensações particulares a ele associadas, estavam repletos de delicadeza e sensibilidade feminina, conferindo-lhes uma grande profundidade estética.
Nos séculos XIV e XV, popularizou-se o tanka, nessa altura também composto no masculino, em que o poeta mantinha o mesmo ideal de composição, dando origem ao renga, mais tarde ao renku, e finalmente ao haiku, estes essencialmente criados no masculino. No entanto, no século XVII a composição haiku estendeu-se também às mulheres. Do ponto de vista formal, no haiku mantêm-se os primeiros três versos de 5-7-5 sílabas (17 sílabas) iniciais do tanka, criando uma forma de poesia que acabou por se autonomizar.
O haiku, de que Matsuo Bashô foi considerado o primeiro e maior poeta japonês, regista a percepção objectiva captada pelos sentidos, rejeitando a subjetividade e emoção do poeta, associada à natureza e muito frequentemente às estações do ano. Prima pela simplicidade, pela apreensão direta da essência de pequenas coisas, e não necessariamente da sua beleza, captando um instante, um momento irrepetível, registando-o.
(Fontes: www.prof2000.pt; Luísa Freire, O Japão no Feminino, vol.II, Haiku Séculos XVII a XX, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007)
Ação Literária – “Haiku 43 poemas a Lisboa”
Em Dezembro de 2012, o Departamento de Ação Cultural da Câmara Municipal de Lisboa em colaboração com a Embaixada do Japão, promoveu uma iniciativa literária denominada “Haiku-43 poemas a Lisboa”, cujo desafio era a criação de poemas haiku tendo como temática a cidade de Lisboa, com a edição posterior de um livro com os poemas vencedores.
Teresa Sande (ver nota biográfica) foi uma das autoras de um haiku selecionado e integrado no referido livro. São dela os haiku, todos sobre a cidade de Lisboa, e os três tanka, que se seguem.
Haiku
Um labirinto
Vielas que desembocam
Em sonhos
(in “Haiku-43 poemas a Lisboa”)
Sopro do rio
Invade as sete colinas
Perde-se a voar
Os desenhos
Na calçada branca e negra
Rugas de história
Luz da cidade
Entardecer dourado
Vontade de olhar
Numa praça
O olhar pousa no rio
O espanto
Numa rua ao acaso
Uma gaivota a voar
Um rasto do rio
Passeio no cais
A brisa agita o rio
Um sussurro
Do miradouro
A cidade envolta em névoa
E segredos
Tanka
A minha alma voa
Ao sabor da brisa suave
Talvez procurando
O rasto que deixaste
Quando na pressa partiste
As folhas da tília
Sussurram tais suspiros
Que o meu coração
Num eco de melancolia
Canta a tristeza com elas
Entro no sonho
Na esperança de ver
As papoilas
A nascer entre a seara
Triste do meu peito
NOTA BIOGRÁFICA
Teresa Sande nasceu em Évora, em 1964. É licenciada em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora. Atualmente vive em Lisboa. Concilia a sua atividade profissional com o prazer da escrita.
Em Dezembro de 2012 foi premiada na iniciativa literária “Haiku-43 poemas a Lisboa”, promovida pela Embaixada do Japão em Lisboa e pela Câmara Municipal de Lisboa, com a publicação de um poema haiku de sua autoria num livro editado no âmbito desta iniciativa. Não tem mais nenhum trabalho publicado.