Aquela rubrica, lembra-se? O mais rápido possível. O Banco quer saber quanto mede o fundo negro das suas olheiras, a percentagem de risco de suicídio, o conteúdo do seu cofre de memória. E escreva tudo, escreva dentro dos quadrados e o mais rápido possível. Desculpe, mas tem de ser, o impresso, o carimbo, a marca de fogo na sua testa, a impressão digital no seu passaporte caducado, a sua ida para nenhum lugar, a sua chegada a qualquer sítio temos de saber e é para ontem. Se tem par ou se não dança, temos de inserir no computador o mais rápido possível quanto tempo gasta a acordar, a lavar os dentes, a tomar banho, a dar aquele beijo, quando e como pretende fugir, isto com muita antecedência, para se poder amordaçar, amarrar, aprisionar e você vai implorar para que seja tudo o mais rápido possível. Deixe-se enterrar com missa breve, o caixão mal pregado, as lágrimas que se enxugam no gesto mais rápido da História. Depois, regresse, o mais rápido possível, o formulário, o carimbo, a coima, exigimos o seu peso, altura e massa gorda e a hipoteca, lembra-se? Acorde, vamos!, homem, ressuscite! Terá a sua vida de volta, prometemos, tudo será como dantes. O mais rápido possível e para toda a eternidade.
Marcela Costa