Naquele tempo os porcos morriam ao nascer do dia. Sob um céu de estrelas ainda, iam os rapazes chamar os parentes e amigos que ajudariam na matança. Ao Roberto e ao seu primo Jaime coube-lhes acordar o velho Augusto, que antes costumava aparecer como vagabundo e pedinte vindo da Ribeira Grande, mas que agora dormia numa antiga moagem onde um tio de ambos o acolhera, dando-lhe comida a troco de pequenos serviços.
Toda a higiene matinal do velho consistia apenas em calçar as botas. Sentou-se na beira da cama, estremunhado, e pegou numa delas. Num gesto calmo, que facilmente se percebia ser um hábito de quem sabia o que era preciso fazer, voltou-a com o cano para baixo e sacudiu-a com delicadeza. De dentro dela saiu então, sem pressa, o companheiro das suas noites de solidão. Um rato.
Daniel de Sá