Domingo de Páscoa. E a mulher na janela sonha. Seios pensos. Desobrigada. Há muito não comunga, nem na Páscoa nem em qualquer outro dia. Antes, tudo cheirava à fartura. O corpo cobiçado. A jovem da cidade-luz. Assim a chamavam os aventureiros. Pagavam com jóias em ouro e prata. Adorava as pérolas barrocas. Irregulares como seu jeito despojado de levar a vida. Apreendeu o gosto dos homens. Apurada e discreta no modo de se vestir, ela adorava as cores mornas. Bem diferente das outras moças que escolhiam as cores quentes e abusavam no decote. As pérolas barrocas acomodavam-se em seu pescoço longo e surreal acrescentando uma sombra sacra no que de profano em sua figura. E os homens gostavam de vê-la um pouco santa e outro tanto puta. Sempre foi a mais cobiçada. Escolhia os clientes a dedo. Sempre perfumados com essências estrangeiras, ternos e gravatas importados. Alguns traziam na boca o reluzir do ouro nos dentes. (continua)…