Prazer igual, nem quando a lâmina cortou o couro e lançou um ruído áspero no miúdo da chuva. Nunca imaginou que matar alguém pudesse provocar orgasmo. Não disse a ninguém, nem mesmo ao homem com quem dormiu depois do crime. Gozou vendo o sangue jorrar do pescoço, em jatos intermitentes e rápidos, até o cimento da calçada. Fez um serviço rápido no cliente que a pegou logo depois, um gerente de magazine sem o mínimo charme e desprovido de criatividade. Queria pagar para ser chupado, não importava o preço. Enquanto trabalhava, segurava na memória o rosto sem animação e pálido, a face cérea da morte. Misturava-se com a imagem de uma vela acesa que se consumia lentamente, contorcia-se pelo calor do fogo, até que um último sopro invisível a apagava e trazia de volta a face do morto em um último engasgo. O calor do sêmen na camisinha devolveu-lhe um zíper aberto, o pinto amolecido saindo de sua boca e o cheiro de cigarro queimado. Cinzas são indícios de algo que existiu e morreu, nada além de indícios.
(continua)