A vida não é película animada ou drama televisivo, transformou-se em espetáculo circense. A noite é cheia de trapezistas, palhaços e animais exóticos. O absurdo habita a madrugada. Homens de branco passam em algazarra como sanhaços desbotados. Pais-de-santo. Todo médico tem algo de xamã. Bruxos, feiticeiros e lobisomens encontram-se depois da meia-noite. Ritual de sangue e suturas, culpas e gemidos de dor. Cochichos de morte. Distraem-se com o rosto de boneca da passante, jeito bojudo e borracha, metido em ruge e purpurina. Doutores não percebem o ar arder no peito e aleijar a pressa. A maldita droga faz falta. No escuro, a gota pinga seu rebrilho com a força de uma flecha. Lugar zumbi. Dói muito morar nos labirintos, roupa colada ao corpo e boceta cheia de clandestinos. A garoa pesa igual choro nos olhos passadiços dos carros. O rosto não mina água, é feito da areia adusta dos desertos. De repente os cabelos negros e escorridos clamam por suicídio.
(continua)