No décimo aniversário do lançamento de Nove Mil Passos, de Pedro Almeida Vieira, a Planeta lança uma nova edição revista e com prefácio de Miguel Real.
Num texto muito apelativo, Miguel Real enquadra a obra de estreia de PAV no panorama do romance histórico português e no contexto da obra do autor, podendo hoje, com segurança, realçar a maturidade já então demonstrada na sua escrita. Trabalhando com rigor a arte do romance histórico, PAV oferece-nos sempre um narrador imprevisto e dotado de um sentido de humor vivo, contribuindo, desse modo, para conferir ao romance um pendor fantástico.
Miguel Real realça o papel pioneiro de Pedro Almeida Vieira no romance histórico e o seu contributo para a sua renovação:
“Em dez anos, o estatuto do romance histórico perdeu a carga alexandre-herculiana da gravidade e da severidade narrativas e ganhou uma agilidade narrativa encantatória sem, por compensação, dele ter desaparecido a objectividade e o rigor da informação factual.”
Pedro Almeida Vieira, em nota prévia, levanta um pouco o véu sobre o seu método de trabalho nesta versão de 2014:
Muitos escritores assumem cortar, por completo, o cordão umbilical aos seus livros, no momento imediato à entrega do manuscrito final ao editor. Porém, não acreditem nesses manifestos -lembrem-se que um ficcionista, «desparafraseando» Fernando Pessoa, é um fingidor: finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras não sente.
Qualquer romance encarna um pedaço da vida do seu autor, as personagens continuam a gravitar na sua memória, encravam-se nos seus neurónios e, por vezes, clamam por uma visita. Quase sempre, porém, os autores recusam esses apelos, por receio- e daí o manifesto de repulsão. Na verdade, julgo que, com a passagem do tempo, um autor evita abrir um seu livro impresso porque jamais consegue fazê-lo de modo descontraído: há um certo pavor em não se rever naquilo que escreveu, teme sentir-se ridículo em determinadas passagens ou encontrar gralhas vergonhosas ou exasperantes frases mal construídas.
Nove Mil Passos conta-nos a história da construção do aqueduto das Águas Livres, confiemos pois no seu narrador: É sobre este rio de pedra que trata a história que vos contarei…
Sinopse
Nove Mil Passos, Pedro Almeida Vieira, edição da Planeta, 2014.
Aqui saberás, leitor, da história fabulosa de um rio de pedra ambicionado por séculos para dessedentar uma cidade. Tanto tempo se precisou que a conhecerás pela voz de Francisco d’Ollanda, o genial visionário da Renascença que o planeou, mas não o viu nascer em tempo da sua vida. E que por isso agora a conta em espírito, para que saibas com que obreiros e pantomineiros se fez um aqueduto.
Aqui verás, escorrendo ao longo das páginas, uma história paradigmática do nosso Portugal, em que a argamassa usada para erguer o Aqueduto das Águas Livres se mistura com traições e paixões, trafulhices e beatices, heresias e ortodoxias.
Enfim, aqui conhecerás, caro leitor, o retrato de um país – então sob domínio de um rei magnânimo e despesista – que ainda hoje dura e perdura, tal como o Aqueduto, apesar de tudo…