UMA NOITE A MAIS NA VIDA DA MULHER VIOLENTADA | Rui Sobral

Soma-se um dia. Uma noite a mais. O medo – feroz. Surgem-lhe memórias do que a vida lhe teria reservado se tivesse conquistado outras opções. Uma lágrima cai sob a almofada insossa e impávida. Ela aconchega os cobertores pesados sob o seu corpo cansado. A porta do quarto estremeçe – ele acabara de chegar. Ela estremeçe ainda mais que a porta. Descontroladamente supõe tudo o que ele lhe possa questionar e enfia-se numa gruta fria, sozinha e cheia de silêncio – estava apta à submissão.
Abre-se a porta do quarto. O odor a álcool toma conta do ar que ela irrespiravelmente respirava. Ela, pronta, despe a calça de pijama azul de algodão cardado de forma quase imóvel. Levanta a camisola até ao pescoço.
Num rasgo, ele mistura-lhe álcool e fluidos sem que uma palavra tenha sido pronunciada.

Soma-se um dia. Uma noite a mais. O medo – feroz. Surgem-lhe memórias do que a vida lhe teria reservado se tivesse conquistado outras opções. Uma lágrima cai sob a almofada insossa e impávida. Ela aconchega os cobertores pesados sob o seu corpo cansado. A porta do quarto estremeçe – ele acabara de chegar. Ela estremeçe ainda mais que a porta. Descontroladamente supõe tudo o que ele lhe possa questionar e enfia-se numa gruta fria, sozinha e cheia de silêncio – estava apta à submissão.
Abre-se a porta do quarto. O odor a álcool toma conta do ar que ela irrespiravelmente respirava. Ela, pronta, despe a calça de pijama azul de algodão cardado de forma quase imóvel. Levanta a camisola até ao pescoço.
Entre ofensas de uma só origem e ruídos animalescos, ele tinha-se apoderado do seu corpo – nunca da sua verdade.

Soma-se um dia. Uma noite a mais. O medo – feroz. Surgem-lhe memórias do que a vida lhe teria reservado se tivesse conquistado outras opções. Uma lágrima cai sob a almofada insossa e impávida. Ela aconchega os cobertores pesados sob o seu corpo cansado. A porta do quarto estremeçe – ele acabara de chegar. Ela estremeçe ainda mais que a porta. Descontroladamente supõe tudo o que ele lhe possa questionar e enfia-se numa gruta fria, sozinha e cheia de silêncio – estava apta à submissão.
Abre-se a porta do quarto. O odor a álcool toma conta do ar que ela irrespiravelmente respirava. Ela, pronta, despe a calça de pijama azul de algodão cardado de forma quase imóvel. Levanta a camisola até ao pescoço.
Foi nessa posição, nesse semblante que ela deixou a vida. Ele hoje rendeu-se a algo de matéria crua. Foi num só disparo. O projétil atingiu-lhe o crânio. A ela. Finalmente a vida ofereceu-lhe um bilhete para a coragem gratuita.

Esta é a realidade de muitas mulheres. De muitos casais, de muitos lares. De muitos de nós.
Soma-se um dia e quando nada se faz, uma noite será sempre uma noite a mais.

Rui Sobral