Se eu morrer hoje, por favor não fujas. Não deixes que me levem embora, que se esqueçam das minhas dores, dos meus monstros – aqueles gigantes “encardecidos”.
Eu peço-te que não permitas que a minha voz se cale e principalmente que as recordações acabem, que todo o sentido desvaneça….
Quero que saibas que não houve um dia que passa-se que não se passa-se amor – aquele fel, aquele amor servido num toque, servido num beijo, numa carícia. Mal servido em mim quente, em mim sôfrego, em mim irrespirável…porque tu sabes que não houve um dia sequer que o meu olhar não te cantasse o quanto te amo!
Se eu morrer hoje eu vou abraçar-te o coração, vou subir pétala a pétala os verdes tão sem cor. Vou subir pétala a pétala flores por desabrochar em ti, flores que te ofereci, flores em embrião, flores que não te dei, flores rasgadas, flores…
Não houve uma palavra por mim dita que soasse a verdade, porém todas foram autênticas, estupidamente honestas, estupidamente cruéis, emancipadas em corpo, cadentes… angústia…dói…eu adoro-te!
Eu prometo que nunca mais vais caminhar sozinha porque se eu morrer hoje a minha mão fica para que na tua viagem te sintas atada à vida, amarrada à sorte!!
Sabes? Eu aprendi tanto contigo que parece que antes de ti o nada era tudo o que tinha, tudo o que eu era, o meu registo, até a minha voz era tão muda, os meus passos tão descoordenados, o meu sentido tão sem-sentido…
Por isso se logo, mais tarde, me encontrares pálido, deitado, com as maõs como nozes, formalmente vestido, por favor – eu peço-te, não me acaricies o rosto, não lutes para entender, não te escondas atrás das lágrimas. Mostra-te!! … Chora tudo!! … Chora muito! … Cai no chão! … Vai ao fundo do poço em busca de nada porque daqui a dias tens uma vida pela frente, curta ou comprida – não importa! mas preenche-a, enche-a de tudo quanto te fizer bem porque eu, se morrer hoje, quero-te viva, quero-te inteira e todos os dias, no final dos dias, quando te fores deitar vais dormir descansada e saberás que estou orgulhoso de ti e que por te amar tanto vou estar tão feliz por te saber tão inteira.
E aí fará sentido a razão para nunca te ter dito “és o amor da minha vida”, sempre te disse ” amo-te para sempre”. É diferente.
Se eu morrer hoje eu sei que não me vou embora.
Rui Sobral