POKER COM POSÊIDON … PARTE II

‘ Tirem os chapéus depressa” disse o saltitao que continuava com os olhos esbugalhados pelo susto, sabia por experiência que se a agua chegasse a borda do bote, este não havia de afundar-se por ser de Madeira mas também não iriam a lado nenhum. Tirou o chapéu da cabeça e começou a esvaziar o bote como podia, sendo imitado pelo Tchidinh e pelo rolex.

Continuava a chover e de vez enquanto o barulho dos trovões lhes martirizavam o tímpano e a apreensão, mas a tempestade comecou a amainar e meia hora depois, um raio de sol furou por entre as nuvens e o mar comecou a calmar. Continuaram a tirar a água do bote com os chapeus e finalmente comecarama ver o resultado do esforço enorme que faziam. devagar, a chuva ficou mais fraca e finalmente parou. O dia ficou mais claro e começaram a vislumbrar o horizonte. Saltitao estava ainda com os olhos fora da cabeça, mas tentava vislumbrar a posição do bote, todos olhavam para o horizonte a 360 graus, mas nem sinal de terra e o pior e que o sol estava no zénite e ninguém conseguia saber a posicao geografica onde se encontravam…agora e que sao elas disse o tchidinh, estamos perdidos. “Não” respondeu o saltitao “não, podemos perder, temos que voltar, amanha tenho que estar em santa Maria. E baixinho, “o jogo“…“jogo? Qual jogo? Perguntou o Tchidinh. “Que jogo homem?” Respondeu lhe, “mas quem e que falou de jogo?” Ali na àquele momento, Tchidinh teve o que se podia chamar de uma revelação, igual aos das historias da bíblia e encaixou todas as peças do cenário que tinha vindo a acontecer, pois ele tchidinh como a maioria dos notivagos de santa maria sabia do jogo de batota que teria lugar na segunda feira. ’ Filho da puta” disse o tchidinh com a cara disfigurada de raiva. “Trouxeste-nos à merda do canalinho, sem motor por causa de um jogo de batota?! seu batoteiro filho da puta, pois fique sabendo que se acontecer alguma coisa, Hei de matar te primeiro antes de ver o meu fim cabrão“ gritou -lhe. O bote andava a deriva com as velas rasgadas e nada que pudessem usar como remo. O que fazer? Tchidinh teve uma ideia, procurou pela embarcação ate encontar uma tabua que estava meio solta, na tabua vislumbrou  Pregos meio enferrujado. Pegou na tabua e deu um solavanco soltando-a da base, e na ponta surgiram dois pregos enferrujados. Com algum esforco conseguiu recuperar um dos pregos e disse aos outros ‘tirem as correias dos sapatos’ para que? perguntou o rolex. Tire a merda da correia, respondeu o tchidinh com uma mistura de raiva e impaciencia. Tiraram as correias e entregaram ao tchidinh que tirou as correias do seu proprio sapato. Depois baixou os dois pedacos da vela. Ajuda me disse ao rolex, no momento estava com tanta raiva do saltitao que o ignorava. Pegou nas partes da vela que tinha rasgado e comecou a fazer buracos simetricos de um lado e de outro’ espera que isto funcione disse para consigo. Depois comecou a cozer uma cozedura artezanal as duas partes com as correias do sapato. Passou umas duas horas a fazer aquilo e quando terminou as duas partes da vela estavam cozidas uma a outra e pareceu que ia funcionar. Pos a vela no lugar e icou a vela. O bote comecou a responder. Saltitao pegou no leme pelo que foi prontamente e rudemente espantado pelo tchidinh’ tira as maos dessa merda, ja causaste merda  por hoje que chegue’ disse lhe com rudeza. Pegou no leme e com o sol a por se no horizonte comecou a direcionar o bote para o Este. Tinha que compensar a deriva e sabia que como estavam a sul, se tivessem sorte iria navegar para este ate o sol se por e esperar pela noite e se anoite estivesse clara consegueria navegar para norte com ajuda das estrelas. Cthidinh agredeceu o pai que o tinha levado a tantas pescas e o tinha ensinado o Segredo de navegar com ajuda das estrelas. Saltitao estava sentado numa das tabuas do bote agora com a cabeca encostada aos joelhos e rolex estava deitado na proa do bote. Todos estavam com fome e sede e nao havia nada para comer ou beber, tinham perdido tudo. Chidinh aguentou o leme como pode em direccao ao Este, nao dizia nada, aliás estavam todos calados. A fome comecava a aperta los principalmente o chidinh que era bebedor mas comilao tb. Os pensamentos voavam martirizantemente da cachupa guisada do toi maozinha para o polvo guisado que a mae fazia, arroz de atum, lapa, o guisado de cabrito que tinha comido aquela vez que foram ao sítio do amilton na terra boa. Jesus que fome. Olhou para o saltitao e uma ideia terrivel o assaltou. Não, nao iria morrer de fome nao…se fosse preciso comia o sacana do saltitao…pois comia, ele tchidinh comia de tudo, nao era a toa que era conhecido entre a malta por lagosta estragada, tinha estomago de marinheiro e ja tinha comido de tudo, menos jente., haa mas iria exprimentar, se nao conseguisse chegar a snta maria dentro de um dia iria comer o sacana do saltitao. Apalpou o bolso da calca onde tinha guardado o Prego. Sabia o que tinha que fazer iria espetar lhe na garganta, no jugular como tinha visto naquele filme que foram ver no cinema do Espargos.

A noite comecou a cair sobre eles, os reflexos do por do sol davam um tom de azul com riscos avermehados ao ceu, tons bonitos nos olhos de chidinh… quando o sol desapareceu no horizonte, Chidinh vasculhou os ceus pela estrela que sabia estaria la, aquela enorme que era chamada de Ursula maior e que ficava junto com as outras estrelas que tinham a imagem de um papagaio, igual aos que lançava quando era pequeno ao vento, feitos de jornal e carico após uma boa meia hora e depois de ter confounded varias vezes, vislumbrou a estrela, encheu-se de alguma esperanca. Mantêm o rumo de forma que a estrela lhe ficasse pela esquerda, navegava assim em direcção a Este e manteria o curso dessa forma ate o sol aparecer de novo no horizonte a sua frente. Lutava contra a canseira e a vontade de fechar os olhos, e matinha sempre um olho na estrela, navegando e ajustando o curso como podia para manter o bote na direcção que queria, “ e se navegasse demais para o Este? Sera que a distancia de uma noite não seria demais e depois acabaria no meio do atlântico navegando agua baixo em direcção ao Brasil ou ao infinito? Martirizado por pensamentos de duvidas e incertezas, tentou desviar o pensamento,lembrou da anedota que o pai o tinha contado sobre o tio Julio que era capitão do veleiro que nos tempos antigos fazia a ligação entre o sal e saovicente e numa vez que traçou a rota errada quando vinha de são Vicente e passou pelo sal e foi agua abaixo, depois do tempo previsto para chegar ao sal e não tinha visto o sal, convocou a tripulação e disse lhes” vocês são todos testemunhas que o sal desapareceu do mapa”. Tchidinh decidiu que já era tempo de voltar o bote em direcção ao norte, ajustou o leme ate que a estrela ficou lhe de frente, navegando em direcção a estrela. Passou o resto da noite assim e quando a aurora apontou no horizonte, o sol apareceu lhe do lado direito como tinha previsto, agora restava saber se o bote estava na direcção certa. Com a aurora tambem despertaram o saltitao e o rolex, ambos com as caras desgastadas pela canseira, o desânimo, a fome e a sede. Rolex proximal-se do tchidinh e disse-lhe”o que vai acontecer com a gente? Achas que vamos morrer?”só Deus sabe’ respondeu-lhe”. “Sim, Deus e eu  pensou” pois antes de morrer vou comer os dois se for preciso”. Com lembrança da comida a fome voltou a apertar com mais força. Nisto com o balancear do bote que agora apanhava as vagas de lateral, vislumbrou o que no principio pareceu lhe a ponta de um poste, que logo desapareceu outra vez. Com a palma da mão fez uma pala sobre os olhos para proteger do sol e olhou outra vez com mais atenção, e la outra vez apareceu aquela pontinha e desapareceu outra vez. O coração due lhe uma descarga, mas mesmo assim disse para consigo, calma chidinh, cuidado para nao veres teres alucinações ópticas. Mas la outra vez apareceu a ponta outra vez e depois de algum tempo o rolex que estava na proa do barco disse com uma voz de espanto misturado com alegria’olha” ‘ vocês estão a ver? E la estava, o pesqueiro da ponta de serra negra. E todos começaram a gritar vivas e rolex caiu de joelhos agradecendo ao todo poderoso. Tinham aparecido no lado Este da ilha atrás da ponta de serra negra como foram lá parar não sabia, so sabia que mais tardar pela noite já estariam em santa Maria. Navegaram paralelo a costa ate saírem na igrejinha passou a praia do hotel russo e ao aproximarem do pontão um bote veio na direcção deles. Era o João papaia que vinha do pontão. Lançou lhes uma corda que amarraram no bote e rebocou-os em direcção ao pontão. Ao aproximarem do pontão repararam que o povo de Santa Maria estava em peso em cima do pontão, havia choros, risos e uma grande confusão de conversa e gritos, palmas etc. tchdinh so pensava numa coisa COMIDA. Chegaram ao pontão deitou as amarras e tchdinh subiu as escadas de ferro. Tinha os olhos arregalados e fundos. Quando subiu deu de caras com um cabeça de um atum que os Pescadores tinham cortado e deixado em cima do pontão. Não pensou em mais nada afastou todos os que queriam abraçá-lo ou cumprimenta-lo com uma forca de leão e atirou-se a cabeça de atum como uma hiena. Tchidinh entre grunhidos que pareciam mais de uma fera comeu toda a cabeça de atum crua, ate as bolas de olhos, sob o espanto horrorizado do pessoal que se encontrava no pontão. “Tchidinh enlouqueceu!!” foi o pensamento geral. Tchidinh depois de ter devorado a cabeça de atum e com cartilagens e sangue a escorrer lhe pela boca tentou levantar-se, foi quando foi atacado por uma terrível dor de barriga que o fez dobrar imediatamente sobre si mesmo. A dor vinha do baixo ventre e propagava-se pelo corpo todo tirando lhe toda a energia. Tentou mexer mas o corpo não reagiu, caiu por terra com os braços cruzados sobre a barriga e so conseguiu soltar um fraco “ui, a minha barriga”. “Hospital com ele’ alguém disse. Tchidinh foi prontamente içado sobre os ombros de varias pessoas que o carregaram como um mártir palestiniano em direcção ao posto de saúde de santa Maria, no caminho foi consenso dos carregadores que um carrinho de mão fosse usado como meio de transporte, para que fosse carregado mais depressa. Com um cortejo de varias pessoas, chegaram ao posto de saúde de santa Maria onde encontraram o enfermeiro jacinto. Um profissional de mão cheia quando no seu posto de serviço, mas tambem, um bebedor de grogue inveterado e com tendências a delirium tremens quando estava bêbado. Era habito dele, quando bebia andava sempre com duas pedras fechadas na mão atrás das costas, para no caso de malcriados quererem tomar vantagem do seu estado de um copinho amais. Quando chegaram com o tchidinh, o enfermeiro Jacinto diagnosticou in loco congestão. Pois já conhecia os sintomas e transportou-o para uma das camas do quarto colectivo e ministrou suor intra venoso.com o passar dos minutos tchidinh que tinha mantido num estado de torpor ate o momento reagiu. “Quero ir par casa” disse. ‘vais sim, mas daqui a uma semana pelo menos’ respondeu lhe enfermeiro…’ uma semana?” “ quero ir agora’ vais quando eu decidir” e fica quieto senão meto lhe uma injecção para “acalmar te‘. Debaixo da ameaça tchidinh sossegou, comecou a sentir a canseira de varios dias a tomar conta do corpo, devagar fechou os olhos e adormeceu quase instantanêamente.

António Lobo