Aula de Poesia, de Eduardo Pitta

Este livro reúne um conjunto de textos publicados na Revista Ler e no suplemento Mil Folhas do Público entre 1994 e 2008. Na nota prévia o autor define-o como um tour d’horizon da poesia portuguesa. O seu título, “Aula de Poesia”, remete para uma subtil provocação à doxa instalada. Uma irreverência amadurecida por uma vigilância mútua.

 

Poeta, romancista, ensaísta e crítico literário, Eduardo Pitta deixa-nos aqui a sua aula de poesia, num discurso com a tessitura de quem sabe e sempre resguardado da prosápia da cátedra. Humor e elegância marcam os momentos em que entende aplicar um remoque ou alinhavar algum ponto desavindo. Logo no primeiro texto, sobre Eugénio de Andrade, define as suas linhas: A quota de lamechice é homérica. Isso cria uma inibição crítica à sua obra. Ou ainda, Os seus melhores leitores vivem fora da corte. Sem rodeios, não se coíbe de abordar a reacção objurgatória que tantas vezes incide sobre a obra e sobre os poetas, em virtude do seu modo de vida desabrido ou do pretenso risco de corrupção moral dos seus escritos; entendimento que variou ao longo dos tempos, segundo o sabor das épocas. No entanto, a derradeira pulsão deste livro é a poesia.

Esse é o território por excelência de Eduardo Pitta, capaz de identificar as influências presentes numa primeira obra ou de adivinhar uma maturidade sustentada por décadas de ofício «em reclusão». A propósito de Helga Moreira, num momento de afinidade, reconhece: Ninguém chega impune a versos assim. São palavras de um conhecedor, em primeira mão, do exorbitante preço a pagar pela poesia, lá onde ela se confunde com a vida.

Como leitor posso afirmar que depois desta aula de poesia nada voltará a ser como dantes.

 

Texto publicado no Acrítico, leituras dispersas em Agosto de 2014.

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