Sinto no frio da chuva
e no frémito do vento
o inverno chegado.
Um certo desalento
um certo desagrado
e uma paixão ao mesmo tempo.
É esta a hora
do crepitar da brasa
e do silêncio recolhido
no calor do livro.
É tempo de carpir
a árvore o corpo desnudado.
Mas se é despida a fêmea vegetal
cobre-se de folhagem
o chão
e a gélida paisagem
esquenta a emoção.
O vento geme nos beirais
e dos confins do céu
não há sinais de asas.
A chuva é cântaro
mas crepita o lume
e a mão espevita
lascivamente o livro.
A página levanta a saia
num sorriso de catraia
e faz-se estio à beira-frio.
Maria Isabel Fidalgo