O amor tem feito de mim uma mulher soviética – no sentido figurativo da palavra, seja ele qual for, porque sempre tive uma relação muito bizarra com as relações bizarras, como é o caso do amor. Já amei sem ser amada, já fui amada sem me permitir amar quem me amava e já conheci sexos diferentes dos que conhecia. E julgava ter conhecido todos, tamanha era a minha fome por suores quentes de homens e mulheres que despidos eram monstros escandinavos – nações à parte.
A cada momento que a vida me oferece, cenários pornográficos invadem-me os seios. Às vezes nem sei se sou fêmea ou macho, talvez seja um desses casos de género desconhecido que já conheci noutros corpos. Noutras matérias. Os cenários pornográficos que referia são membranas voadoras em alvoroço. Prontas a defecar. E eu ansiosa, desespero pelas fezes que me sugam lembranças de noites cruas, noites perdidas em mares sem oceanos. Noites longas vividas em países sem mundo.
Eu tenho sido um homem altamente voraz no que toca ao sémen dos animais. Tenho conseguido ferir corações que sem coração amam, com outros orgãos, mulheres indubitavelmente machos e homens indubitavelmente fêmeas. É que o clitóris do homem sempre me feriu o peito que cansado de bajular, bajulava-se ao de leve. Sim, o meu peito sempre fez por conquistar-se através de excentricidades como a de beber leite com muito açúcar ou abrir as pernas delas para lá entrar.
Já fui prostituta. Fui, e tenho muito orgulho, porque na venda existe sempre uma meta. A minha era o ruído. Por vezes também era uma ida a casas onde residiam senhoras de categoria tão exagerada. Senhoras como eu. Prostitutas, vá! De verdade, a venda ou o aluguer do meu sexo sempre foi uma prática que me excitou particularmente. Já me arrendei para pagar sexo noutras zonas. Ah!, e já fui freira também. É que deus perdoa todos os meus pecados. Até os que vou praticar amanhã. Ámen!
Desejo tanto que te apaixones pelo homem que sou! Não sou uma mulher qualquer. Sou um bicho capaz de colmatar todas as tuas lacunas sexuais. E sou meigo, também. Um pouco tímida, confesso, mas prometo dançar com o teu sexo dentro de mim para juntos viajarmos até ao inferno da tua mente e, mentindo um pouco – porque sou um tudo-nada mentiroso, vou amar-te. Sinto-me uma nova mulher e estou ansioso por provar a tua saliva. Serei a tua mariposa. Serei o teu agressor. Seremos macabramente felizes. Vou mostrar-te o lixo que és. Vai ser uma linda história de amor.
Rui Sobral