O mundo parece-me o tronco de uma árvore, velho, onde passeio, vagueando de uma ponta à outra, voltando atrás repetindo o caminho vezes sem conta enquanto escorrego, por vezes, agarrando-me com mãos dormentes, mãos de braços tristes e choro! Estou tão farto, tão cansado de magoar ou outros que me apetece não ver mais primaveras nem outonos, caminhos e pessoas! Tão cansado de percorrer esperanças que acabam fazendo com que volte ao início, tão cansado desta vida curta, desta vida farta e eu tão farto dela. Tão cansado de não ser entendido, de não ser compreendido, tão farto de não ter fé nem coragem em mim, tão cansado de ter pena de mim na esperança que de mim tenham pena sem que queira que tenham pena de mim, tão cansado de aguardar riqueza sem a procurar quando sei onde ela está. Ando tão cansado que pensem que é uma fase o motivo pelo qual me sinto cansado. Estou tão cansado de estar cansado! Tenho objetivos e sonhos que não cabem neste mundo vendido, que é também o mundo onde vivo, são sonhos que cabem na mente minha que vive neste mundo vendido que é também meu. Sonho matar a minha alma, a minha mente, conseguir arrancar as dores tatuadas no meu pensamento como se de um dente se tratasse e sem repulsa ficar vazio, oco, cheio de nada. Viva o nosso mundo vendido! Fui tão afortunado que não sei sequer governar-me, tenho amor a rebentar com as costuras do meu coração, tenho um motor na cabeça que não para de pensar nem se esquece do que pensei, é uma fábrica de pensamentos que assombram o meu viver e que rebentam o meu crânio. Não cabem mais! Ajuda! Desta sorte, o mundo parece-me o tronco de uma árvore!
in “a nu” de Rui Sobral