um dia escrevo à minha mãe
o poema com a menina
que ela gostaria de ter dado à luz.
há-de riscar-lhe os vestidos
e costurá-los
com as mãos que só ela sabe
sentá-la no colo e coser-lhe as flores
dos versos
entre as madeixas dos cabelos
com as mãos que só ela sabe.
há-de fazer
crescer o pano do vestido
refazer as bainhas sempre que preciso
e o sorrir dos botões
pelo ventre das casas
com as mãos que só ela sabe.
um dia escrevo à minha mãe
o poema com a menina
que ela gostaria de ter dado à luz.
(dista um palmo, a amplitude do peso que suportas, outubro de 2014)