Podia escrever as palavras todas do mundo e fazer um dicionário que fosse apenas o seu e podia começar com dor e acabar com amor, rimar e ser piroso.
A mulher estava demasiado ocupada para pensamentos idiotas e, apesar disso, mantinha-se naquela ideia de que ninguém sabia em que pensava. Estava enganada. Só o soube mais tarde. Não era relevante, não para a vida dela. Se as suas palavras eram lidas e relidas, interpretadas e vistas à lupa por quem não sabia o que fazer pela vidinha fora, não era culpa dela.
Ela escrevia e quando escrevia acabava por debitar todas as ideias. Pensava melhor enquanto escrevia. Ou só pensava enquanto escrevia. Os espiões diversos, sempre prontos para encontrar uma imprecisão, rápidos a congeminar uma teoria sempre falsa, não podiam imaginar que ela escrevia o que pensava para não ter de viver o que não queria. Difícil de entender? Para ela, era uma evidência.