Rodou nos gonzos
O ranger antigo
A sentir na mão a faca apetecida
Com que rasgou o oiro do Outono
E a repelir silêncios reprimidos
Sorveu como da fonte a brisa à madrugada.
Deu passos ao acaso
Como um tonto
Passou as mãos p’los olhos
Não sonhava.
Então
Ergueu a fronte
Endireitou os ombros
E agradou-se dos cardos
Das urtigas
Das paredes de pedra
Do postigo
Da casa mutilada
Denegrida
E assobiou aos melros e aos pardais.
Depois
Transfigurou os traços do seu rosto
Experimentou a força dos seus braços
E a olhar os campos e os montes
Sorriu de manso à terra adormecida
A imaginar os pastos e os trigais.
Soledade Martinho Costa
Do livro «A Palavra Nua»