MARES DE ESPANTO | Soledade Martinho Costa

 

 

Sem ter novas de infantes
Sem conquistas
Navegar em mares de espanto
Pelos dias.

A sulcar horizontes
Onde as vagas
Despidas de maresia
Vaticinam o rosto da tormenta.

Lá, onde as gaivotas
Asas quebradas pelo vento
Mergulham o som da sua fome
Na onda que as embala e alimenta.

Quisera falar
De búzios e corais
De conchas
De pedras multicores
Adormecidas sob a espuma das areias.

De sereias
A prenderem na magia do seu canto
As redes e o amor dos pescadores.

Quisera falar
De luas e marés
De vozes ancoradas no convés
Onde os sonhos dos homens resistiam.

Sem ter novas de infantes
Sem conquistas
Navegar em mares de espanto
Pelos dias.

A vislumbrar um céu cinzento
E a tempestade
Que o Sudoeste há muito anunciou.

A procurar na bruma
Muito ao longe
A bonança que tarda
Anda à deriva
Junto ao leme que a mão não alcançou.

Soledade Martinho Costa

Do livro a publicar «Ao Longo da Margem»