O traço que desenhas
é o sussurro branco
da semelhança liberta
António Ramos Rosa, In O Centro Na Distância
Ciclo de sangue e interioridade
Tenho a promessa dos homens inscrita no sangue
o olhar e o medo sobre a pele quando não conhece a esperança.
Tenho a imagem de um poeta sentado a ler todos os livros do mundo
e assim o poeta e o mundo
Tenho nos olhos os poros que absorvem os fios do contexto.
Tenho o fluído do fluxo que emana ao tocar a superfície densa
Tenho a percepção dos espaços e do tempo num corpo de afecto.
E vejo em cada fragmento a vida que se repete,
por vezes no que ignora o sentimento do que cresce, no fruto
da planta erguida em silêncio, na árvore que abraça o fundo da terra
com raízes densas ramos leves,
sou o próximo nem sempre visível por a distância ser reflexo
e o invisível um rosto assente na construção de um texto complexo.
Não imprimas um parecer designado pelo poder do contexto.
Pensa nas faces do prisma onde encontrarás o teu rosto.
Venho das margens de um ciclo, onde tudo é dimensão e reflexo
Sangue transformado seiva de um ciclo que se repete
num incansável gesto, tenho em mim uma casa e um rosto
em amplexo.
Gisela M. Gracias Ramos Rosa, Julho de 2014
(Poema mencionado no Prémio de Poesia NOSSIDE 2014-Unesco e publicado em Antologia colectiva)