Cada um com a sua lenda pessoal, seu papel na história
Crime e castigo, capa e espada, vermelho e negro
Todos páginas de rostos (escritos com suor e sangue)
Cercados por silêncios, títulos, prosopopeias, aventuras
Verdadeiros Crusoés com carrancas, luvas de pelica ou cravos amarelos.
Somos todos LIVROS
Alguns simplesmente foram abertos em páginas erradas
Todos com orelhas, apresentações ou enfoques traumáticos
Alguns imprensados tristes entre o amor e a dor
Diversos esquecidos em baús de ostras, bibliotecas ou limbos
Outros viraram romances, novelas ou tragédias em capítulos sociais e familiares.
Somos todos LIVROS
Para muitos o epílogo não deu assim tão certinho
Para outro a principal personagem amorosa morre antes do final
Todos procurando um sagrado reconhecimento íntimo
Imagens e palavras cercadas de tópicos frasais como pássaros
Outros em braile – como lágrimas feitas de pétalas azuis e arames de resignações.
Somos todos LIVROS
Inúmeros escondidos em labirínticos orquidários
Outros secretos, bruxuleantes, com pântanos ou em sânscrito
Muitos deles procurando mãos de oleiros espirituais
Sonham catedrais, escolas ou bancos de jardim para tomarem sol
Outros inutilizados em pedreiras. Ou em vidas como potes de rascunhos…
Somos todos LIVROS
Entre enfeites, umbrais ou pirâmides da alma enluada
Alguns encantários, outros sudários e até mesmo embarcadouros
Muitos ainda procurando autores de papel passado
Milhares entregues em resignações e neuras existenciais de fugas
Como figurinhas carimbadas por delírios ou pertencimentos perdidos em trilhas.
Somos todos LIVROS
Alguns são apenas toscas páginas em branco de papel-arroz
Outros como sachês em verso e prosa de cimitarras e tuaregues
Todos procurando um pouco de sal ou de vinagre no destino celeste
Na profecia-luz de um paraíso com “muitas moradas além dos céus”
Poucos carregando a exatidão do peito no fulcro das releituras com oferendas.
Somos todos LIVROS
Partituras, lenços brancos, garagens de culpas & inventários cósmicos
Muitos escritos a quatro mãos (ou por anjos da guarda)
Diversos sonhando dunas, caravanas ou oásis de noiteadeiros
Pois as páginas de rosto que levamos dessa vida insana
São questionários, fermentos, respiradouros, cálices ou silos de espirituais
Somos todos LIVROS
Há os que nunca sabem como são maravilhosamente raros
Há os que são clássicos e têm medo de serem abertos, revelados
Eu que escrevo enfrentações (exercícios de libertação de ser carbono)
Mostro o tamarindeiro íntimo oxigenando seixos no arco-íris
Procurando um final feliz mesmo tendo sido um gárgula na Terra do Nunca!
Silas Corrêa Leite – República Socialista-Rural Boêmio-Etílica de Santa Itararé das Artes, Cidade Poema
Membro da UBE-União Brasileira de Escritores
Diretor Cultural do Elos Clube de Itararé/Comunidade Lusíada Internacional –
E-mail para contato:
poesilas@terra.com.br
Poema da Série: O Sudário do Imagético de Uma Primavera Imaginária